‘Acharam que era ansiedade’, diz irmã de jovem morta com suspeita de dengue

Postado em 5 de abril de 2024

“Éramos companheiras, parceiras, cúmplices. Ela era tudo na minha vida.” As palavras são de Luiza Cunha de Amorim, de 18 anos, que perdeu a irmã mais velha, Sofia, de 22, com suspeita de dengue , no dia 27 de março.

Sofia estava grávida de 7 meses, e o bebê também não resistiu. Ao UOL , Luiza relata as dificuldades no atendimento à irmã e os momentos difíceis que passou sem sua melhor amiga.

‘Pensaram que era ansiedade ‘
Luiza conta que a irmã começou a sentir náuseas e desconforto no dia 22 de março. Sofia não se preocupou pois acreditava que eram sintomas da gestação. Dois dias depois, o estado de saúde da jovem piorou e ela foi internada. A família passou de Pirenópolis a Goiânia para acompanhar Sofia no hospital.

No primeiro dia de internação, uma inspiradara teve falta de ar , e exames mostraram que, além de estar com as placas baixas, algumas enzimas hepáticas também estavam alteradas , o que poderia indicar dengue. Segundo os médicos, porém, o diagnóstico só seria confirmado após outro exame, que levaria alguns dias para ficar pronto.

No segundo dia de internação, os médicos tinham quase certeza de que a falta de ar e o desconforto de Sofia eram causados ​​pela ansiedade. Chegaram até a enviar uma psicóloga para conversar com ela, mas minha irmã explicou que não se tratava de ansiedade, mas de um mal-estar real. Eles queriam dar alta para ela, alegando que poderiam terminar o tratamento em casa. Minha mãe se opôs veementemente, pois Sofia ainda estava com exames alterados e suspeitas de dengue. Não tinha como levá-la para casa nessa situação.

Após o pedido da família, os exames em Sofia foram refeitos. Com resultados preocupantes, os médicos optaram por fazer uma ausculta pulmonar seguida de um raio-x —foi constatado, então, que havia líquido nos pulmões.

No terceiro dia de internação, o jovem teve falência múltipla de órgãos e morreu . “Uma médica muito competente supervisionou o caso, mas era tarde demais para reverter o quadro. Se ao menos fosse feito mais cedo, talvez o desfecho fosse diferente.”

É angustiante pensar que, se ouvisse Sofia desde o início, a história poderia ter sido outra. A falta de atenção e cuidado com o paciente é devastadora. No caso de Sofia, não foi apenas uma vida perdida, mas duas, pois o bebê também não resistiu. Só ouviram a liberação dela quando já era tarde.

Para a família, houve negligência médica e o caso será levado à Justiça. “Estamos tomando medidas legais não por dinheiro, mas para que a Justiça seja feita e para que isso sirva de lição. Os médicos precisam entender que cada paciente é um ser humano com uma história, sentimentos, família e sonhos. A morte de Sofia foi uma tragédia que poderia ter sido evitada fez com que seus sintomas fossem ouvidos desde o início. É uma dor insuportável que nada pode amenizar”, diz a irmã.

O Hospital Mater Dei Premium disse, em nota, que segue “rigorosamente os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde para assistência a pacientes com dengue” e que “presta solidariedade à família”.

Bebê foi considerado um milagre
Sofia era casada e, segundo a irmã, usava DIU (dispositivo intrauterino). O método contraceptivo “estava em dia” e a gravidez foi uma surpresa para toda a família. Luíza seria a madrinha e todo o enxoval já estava praticamente pronto. Sofia e o marido também estavam realizando um grande sonho: mudar para uma casa própria.

O Dante [bebê] já foi um milagre em nossas vidas desde o princípio. Nós vibramos muito, por mais que fosse inesperado, ele foi amado desde o primeiro segundo. Fizemos tantos planos que saberíamos que não serão realizados.

Companheirismo

Sofia e Luiza cresceram juntas e se tornaram melhores amigas. A jovem conta que a irmã era uma mulher amável, educada, compreensiva e apaixonada pela literatura.

Ela sempre foi uma pessoa que gostava de unir todo o mundo. Não brigava com ninguém. Nós nunca ficamos por muito tempo brigadas. Acho que, no máximo, cinco, dez minutos, e depois a gente já estava junta e grudada de novo, assistindo a filmes, conversando, fofocando.

Lembro que na noite anterior a ela começamos a passar mal, conversamos por horas, contamos piadas. Tínhamos uma relação muito boa. Parece que a qualquer momento vou acordar esse pesadelo. A ficha está caindo agora, mas preciso ser forte. Nunca mais vou ter a mesma empolgação que antes, mas a vida continua. É muito triste que tenha de ser sem ela.

Homenagem
Luiza tatuou uma frase que recebeu de Sofia em uma dedicatória de um livro, como forma de homenagem. O sobrinho também foi lembrado com uma tatuagem.

Fiz [tatuagem do] pezinho e mãozinha dele. Ele foi velado com minha irmã e estava todo formado. Foi o bebê mais lindo que já vi na vida. Escrevi Dante com a letra do meu cunhado, pai do bebê, porque ele comprou um vinho em Portugal e escreveu na garrafa. Ele bebeu o vinho no dia em que Dante nasceu, e ele acabou bebendo no dia que ele veio ao mundo e faleceu também.

Luiza diz que a irmã já está fazendo falta para ela e toda a família. “Em todos os momentos, ela faz falta. Desde a hora em que eu acordo até a hora em que vou dormir e agora até sonhando ela tem feito falta. Vou carregar Sofia na minha alma pelo resto da minha vida. Na minha pele, não meu corpo e na minha carne até o dia em que eu virar pó.”

UOL