Alerta: casos de doenças cardíacas em jovens crescem no RN, aponta dados

Uma preocupante tendência na saúde pública do Rio Grande do Norte começa a acender um sinal de alerta: o crescimento de doenças cardíacas em pessoas mais jovens. A percepção de um número maior de casos envolvendo infarto agudo do miocárdio, arritmias e insuficiência cardíaca no público com idade até 39 anos ganha respaldo em dados do Sistema DataSUS, que apontam um incremento tanto nas internações quanto nos óbitos por essas condições no estado.
Análises de dados do DataSUS referentes indicam um cenário de progressão preocupante no último ano. Comparando os períodos de janeiro a agosto, o ano de 2025 registrou 14 mortes e 305 internações de pessoas entre 0 e 39 anos por essas condições cardiovasculares. No mesmo intervalo de 2024, foram contabilizadas 11 mortes e 287 internações, o que representa um aumento de 27% nos óbitos e quase 6,3% nas internações em apenas um ano, para o mesmo período.
Ao observar um recorte temporal mais amplo, a tendência de aumento nas internações entre jovens torna-se ainda mais evidente. No quinquênio mais recente (2020-2024), foram registradas 1.640 internações, um salto significativo em relação às 1.318 internações verificadas no quinquênio anterior (2015-2019). Este crescimento de 24,4% nas hospitalizações sugere uma maior incidência ou um diagnóstico mais frequente dessas patologias cardíacas em uma parcela da população que, tradicionalmente, não era o foco principal das preocupações cardiológicas.
Embora o número total de óbitos no período de dez anos se mantenha relativamente estável – foram 83 mortes entre 2020-2024 contra 84 entre 2015-2019 -, o recente aumento entre janeiro e agosto de 2025 quando comparado com o mesmo período de 2024, aliado ao salto nas internações, reforça a necessidade de maiores cuidados com a saúde do coração. Este cenário emergente demanda uma análise criteriosa para entender os fatores subjacentes, que podem incluir desde mudanças no estilo de vida e fatores de risco até a melhoria nos métodos de diagnóstico precoce.
Diante desses números que desafiam o entendimento convencional de que doenças cardíacas são predominantemente problemas da terceira idade, a comunidade médica e as autoridades de saúde são chamadas a discutir as causas e as estratégias de enfrentamento. Por isso, ouvimos o médico cardiologista Antônio Amorim, especialista pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), que aprofunda a discussão sobre os possíveis motivos e o que fazer para prevenir doenças cardíacas.
Entrevista | Antonio Amorim, cardiologista especialista pela SBC
Novo Notícias – A percepção de que mais jovens estão sofrendo infartos é real? O que os estudos e a prática clínica no RN mostram?
Antonio Amorim – As doenças cardiovasculares são a principal causa de óbito em todo o mundo. Sua incidência aumenta acima dos 35 anos. Nos últimos anos existem registros com aumento da mortalidade em pacientes mais jovens. Além disso, também hoje em dia temos um impacto maior nesses registros pela internet. Quando acontece casos assim, facilmente a notícia se dissemina através de redes sociais, blogs e mensagens.
NOVO – Quais são os principais fatores de risco que explicam um infarto em alguém com 21 ou 38 anos? O estilo de vida moderno é o principal vilão?
AA – Existem diversos fatores de risco que podem estar envolvidos. Temos um deles que é não modificável, que pode ser a genética do paciente, e existem diversos que chamamos de modificáveis (o indivíduo pode tentar evitar). Dentre os modificáveis, podemos citar o sedentarismo, tabagismo (hoje com jovens usando cigarros eletrônicos), alimentação irregular, obesidade, estresse… Esses fatores de risco levam ao aumento da prevalência de doenças como hipertensão e diabetes que potencializam a o risco cardiovascular do paciente. Não podemos esquecer que em muitos desses casos, o uso de esteroides anabolizantes, decorrente da pressão social de hoje em dia por ter que estar com o corpo em forma.
NOVO – Os sintomas do infarto em jovens podem ser diferentes ou “atípicos”? Isso dificulta o diagnóstico?
AA – Os sintomas nos jovens são característicos como em outras situações, como dor no peito que pode se irradiar para o dorso, braço esquerdo, mandíbula, e em alguns casos pode apresentar “falta de ar”. O grande problema é que quando o jovem apresenta sintomas assim, geralmente ele não pensa que pode ser um infarto pela sua idade, pode achar que está relacionado a uma dor muscular ou outra coisa, retardando em algumas situações a procura por uma urgência.
NOVO – Existe alguma relação comprovada entre sequelas da Covid-19 e o aumento de eventos cardíacos em jovens?
AA – Durante a infecção por COVID-19, podem ocorrer quadros de inflamação do músculo do coração que se chama miocardite, e que pode ser grave. Essa inflamação pode elevar exames de sangue que também aumentam no infarto causando até certa confusão. Seria outro mecanismo de doença cardiovascular que merece atenção. Agora, em relação ao infarto, não existem estudos de credibilidade que demonstram essa associação.
NOVO – Qual é a sua principal recomendação de prevenção? A partir de que idade e com que frequência um jovem sem histórico familiar deve fazer um check-up cardiológico?
AA – A principal recomendação é ter um estilo de vida saudável. Cuidar da alimentação, praticar atividade física regular, não fumar, combater obesidade, controlar doenças crônicas se apresentar (hipertensão, diabetes, colesterol elevado), reduzir estresse dentro do possível, dormir bem. Hoje em dia temos até comprovação que a espiritualidade pode também reduzir doenças cardiovasculares. E com relação ao check up é muito importante ser realizado porque tem doenças que não serão diagnosticadas se não fizer exames. Então, a partir dos 30 a 35 anos é muito importante uma avaliação cardiológica.
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