Allyson Bezerra critica ‘soluções mágicas’ e rejeita demissões para conter crise fiscal do RN

O prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra (União), criticou duramente as propostas que classificou como “soluções mágicas” apresentadas por alguns atores políticos para enfrentar a crise fiscal do Rio Grande do Norte.
Em entrevista à TV Agora RN nesta terça-feira 2, o pré-candidato ao Governo do Estado defendeu a manutenção da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), os repasses de verbas para o Poder Judiciário e os servidores públicos, ao afirmar que o problema financeiro do Estado não será resolvido por meio de demissões, privatizações ou cortes lineares.
De acordo com Allyson, há um discurso simplista sendo difundido no debate público, que tenta atribuir a responsabilidade do desequilíbrio das contas estaduais a estruturas que, para ele, cumprem papel essencial. “Eu estou vendo pessoas apresentando soluções que são chamadas soluções mágicas para discursos eleitorais”, afirmou Allyson.
As declarações foram dadas em clara referência ao senador Rogério Marinho (PL), que também é pré-candidato a governador e tem defendido “medidas impopulares” para sanar a crise fiscal do Estado. O senador bolsonarista tem falado em medidas como a adoção de um plano de demissão voluntária de servidores, congelamento de salários e redução de verbas do Judiciário. Outros políticos do PL falam abertamente em se desfazer da Uern, seja com a privatização ou com a federalização da universidade.
Entre os alvos dessas propostas, Allyson Bezerra listou o Judiciário, os servidores e a Uern. Sobre o primeiro, foi direto: “Alguns vão chegar e vão dizer que tem que diminuir o repasse do Poder Judiciário, como se o Poder Judiciário fosse o grande problema do Rio Grande do Norte, e eu particularmente não concordo”.
Na avaliação do prefeito, o problema não está na estrutura do Judiciário, nem no número de desembargadores. O prefeito de Mossoró afirmou ainda que não concorda com a narrativa de que o Judiciário seria o responsável pelo rombo fiscal: “Eu não acho que o problema está nos 15 desembargadores ou nos juízes que o Estado tem”.
O mesmo tom foi adotado quando tratou da Uern. Ele rechaçou abertamente qualquer discurso em favor do fechamento da universidade. Para o prefeito, a universidade pública estadual cumpre papel estratégico. “O problema do Estado não é a Uern, que forma mais de 90% dos professores que vão para as escolas da rede municipal e da rede estadual e até da rede privada do Estado”, afirmou.
Allyson também rebateu a ideia de que o problema fiscal do RN possa ser resolvido com demissões em massa ou congelamento de salários. Para ele, atribuir a crise à folha de pessoal é injusto com quem está na linha de frente do serviço público. Ele defendeu “aqueles servidores que estão trabalhando, produzindo, dando o seu máximo, dando o seu melhor, na linha de frente, cumprindo com seu expediente, fazendo o Estado andar”.
“Esse servidor si não é o problema do Estado”, declarou.
Para ele, a crise é consequência de um modelo de gestão ineficiente, sem planejamento e controle de gastos. “Nós vivemos em um Estado onde infelizmente a burocracia ainda reina”, afirmou. O prefeito defendeu a modernização administrativa e o uso de tecnologias para reduzir custos: “Eu estou falando de digitalização, de governo digital, de organização”.
Também citou medidas simples de gestão como caminhos possíveis: “Controle de combustível, controle de material expediente, controle de material de limpeza, organização das secretarias, quantos prédios o Estado possui que pudesse ter uma reorganização administrativa”.
Segundo Allyson, não é vendendo ativos, cortando salários ou fechando instituições que se organiza um Estado, mas com zelo e técnica: “Boa gestão”.
Oposição dividida não é problema
Questionado sobre o risco de a oposição chegar fracionada às eleições de 2026, Allyson relativizou o peso das alianças partidárias tradicionais e minimizou a importância de palanques únicos. Para ele, a lógica é simples: quem decide é o eleitor. “Se o povo se unir para eleger um candidato, ele pode ter apoio de quase nenhum partido ou de quase nenhuma força política”, declarou.
O prefeito citou sua própria experiência em Mossoró como exemplo. Ele foi eleito em 2020, aos 28 anos, desbancando a família Rosado, tradicional grupo político local. “Nós fomos lá e conseguimos vencer as eleições. Por quê? Porque houve uma união do povo, o povo se uniu e elegeu”.
Allyson também rebateu a lógica de que múltiplas candidaturas favorecem automaticamente o sistema político do governo estadual: “Quem tem que estar unido é o povo”.
O gestor de Mossoró fez ainda duras críticas ao discurso da polarização entre esquerda e direita que, segundo ele, empobrece o debate e esconde a ausência de propostas concretas. “Quem torce pela polarização torce contra o Rio Grande do Norte e não tem o que entregar ao Estado”, afirmou.
Na avaliação de Allyson, muitos usam a polarização como artifício por não dominarem os dados e a realidade fiscal. Ele argumentou que um projeto de “terceira via” tem sim viabilidade eleitoral em 2026.
Apesar do tom adotado, Allyson evitou cravar que será candidato a governador. Ele reiterou que não defende o debate prematuro sobre candidaturas, mas sim sobre propostas para o RN. “A gente precisa de ter um projeto muito claro para o nosso Estado”. Ao ser questionado diretamente sobre a eleição, respondeu que o candidato do grupo poderá ser decidido até o Carnaval.
Crítica a Álvaro Dias e comparação entre Natal e Mossoró
Durante a entrevista, Allyson Bezerra aproveitou para rebater críticas do ex-prefeito de Natal Álvaro Dias (Republicanos) – que tem dito que o prefeito de Mossoró não irá sequer ao segundo turno da disputa para o Governo do Estado se fizer uma campanha desatrelada da esquerda e da direita.
“Quem torce pela polarização torce contra o Rio Grande do Norte e não tem o que entregar ao Estado. Quem só fala em polarização é porque não tem o mínimo conhecimento do que é projeto. Político que fala de polarização, que torce pela polarização é político que não entrega, que não tem resultado, que só tem picuinha, que não tem capacidade de resolver problema”, declarou, ao responder a Álvaro Dias.
Allyson também comentou os dados de gestão fiscal e fez uma comparação entre Mossoró e Natal, mencionando a situação deixada por Álvaro e herdada pelo atual Paulinho Freire (União) na capital. “O prefeito Paulinho recebeu o município com a nota C, vermelha”, afirmou, citando o indicador de Capacidade de Pagamento (Capag), do Tesouro Nacional, que mede a situação financeira dos municípios. Segundo ele, a diferença está no modelo de gestão: “Você vai lá buscar Mossoró. Mossoró tem nota A, é tudo verde, nota A”.
Apesar disso, ele evitou estender a polêmica: “Existem no Estado, infelizmente, alguns políticos que aproveitam momentos de entrevista para criar polêmicas, humilhar, tentar massacrar, tentar falar que algum outro candidato não reúne alguns predicados. Eu não faço isso não. Eu uso o momento que eu tenho aqui de uma entrevista e momentos que eu tenho de debate para conversar, para dizer o que eu estou fazendo, dizer o que eu estou entregando”.
Confiança no vice-prefeito Marcos é “plena”
Questionado sobre uma eventual renúncia em caso de candidatura ao Governo do Estado, Allyson afirmou ter total confiança no vice-prefeito Marcos Medeiros (PSD). “Um cara extremamente capacitado, inteligente, esforçado, trabalhador, sensível às causas das pessoas e correto, extremamente correto”, declarou.
E reforçou: “É uma pessoa que conhece o papel dele, mas também sabe assumir o papel de prefeito”. O prefeito relembrou que Marcos já o substituiu em viagens internacionais e teve bom desempenho: “Fez um trabalho que realmente impressionou com entregas, com realizações”.
Allyson concluiu o tema com uma frase direta: “Tenho uma confiança plena nele”.
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