Alvo de inquéritos no STF, Telegram deixa de ter advogados no Brasil
O escritório Campos Thomaz e Meirelles Advogados Associados, que representava o Telegram no Brasil, renunciou a todos os processos do aplicativo no país. Com isso, a empresa espera sem representante legal no Brasil e, por causa de uma decisão do ministro Alexandre de Moraes de março de 2022, pode ter o serviço suspenso – na ocasião, o ministro disse que o app deveria contratar um representante no país, soluço pena de ser suspenso.
A renúncia foi comunicada por e-mail ao Telegram na terça-feira (16) e começou a ser controlada em todos os processos nos quais o aplicativo faz parte ainda na noite da quinta-feira (18). Pelo que diz o Código de Processo Civil, os advogados continuarão a ser intimados por até dez dias depois da renúncia aos processos, caso a empresa não contrate outro escritório.
No e-mail, o escritório informou que deixa os processos “por motivos de foro íntimo”. E avisou que a renúncia “abrange todo e qualquer assunto e/ou representação (em qualquer julgamento, instância ou tribunal, quaisquer repartições e autoridades públicas federais, estaduais, municipais, autarquias, incluindo órgãos da administração pública direta e indireta já autuados, além de atos extraprocessuais emocionados)”.
Intimações pessoais
O principal motivo para a renúncia foram as intimações pessoais do advogado Alan Thomaz, sócio do Campos Thomaz e Meirelles. Isso fazia com que ele fosse tratado como um representante administrativo do Telegram no Brasil, e não sócio do escritório que defende a empresa em processos judiciais.
A última intimação do tipo aconteceu no último dia 10 de maio. Foi quando o ministro Moraes obrigou o Telegram a tirar do ar mensagem divulgada em um de seus canais contra o PL das fake news, que pretende regular a atividade das redes sociais e plataformas de comunicação digital no Brasil. O ministro ainda ordenou que o aplicativo divulgasse uma mensagem escrita por ele.
No final da decisão, Alexandre de Moraes escreveu: “Intime-se o representante legal do TELEGRAM, ALAN CAMPOS ELIAS THOMAZ, pelo WhatsApp e e-mail constante nos autos, endereços eletrônicos fornecidos pelo próprio representante legal”. Os casos não estão no documento divulgado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Diante desse tipo de intimação, Alan Thomaz se viu envolvido em inquéritos e processos penais como parte, e não mais como advogado na defesa de um cliente. Isso mudaria a relação com o Telegram, e por isso seria necessário que o app arcasse com os custos que seriam suportados pelo escritório.
O Telegram não quis, e a relação foi encerrada.
Alvo preferencial
O aplicativo é um dos principais alvos das investigações tocadas pelo Supremo e pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a respeito das milícias digitais que se organizaram para atacar a democracia e da divulgação de notícias fraudulentas.
Na decisão em que intimou Alant Thomaz, Alexandre de Moraes disse que “a conduta do TELEGRAM configura, em tese, não só abuso de poder econômico às vésperas da votação do Projeto de Lei, por tentar impactar de maneira ILEGAL e IMORAL a opinião pública eo voto dos parlamentares – mas também flagrante induzimento e instigação à manutenção de diversas condutas criminosas praticadas pelas milícias digitais investigadas”.
E seguiu-se: “Lamentavelmente, a empresa TELEGRAM é reincidente em práticas que, por ação ou omissão, pedem a Critérios Criteriosos de
Mensagens Fraudulentas”. Mais uma vez, os casos não são originais do documento.
Ainda no ano passado, antes das eleições, o TSE, durante a presidência do ministro Edson Fachin, teve que intimar o diretor-executivo do Telegram para que a empresa participasse das reuniões convocadas pelo tribunal para discutir formas de combater notícias falsas. O app foi o último a aderir à parceria estabelecida pelo corte com as plataformas digitais.
Sem advogados no Brasil, a empresa fica sem representação legal no país, já que também não tem escritório por aqui.
Procurado pelo UOL , o escritório Campos Thomaz e Meirelles Advogados Associados não quis comentar o assunto. Apenas informado que a renúncia aos processos foi uma decisão da banca, e não do Telegram.
O Telegram foi procurado por e-mail, mas não respondeu à tentativa de contato até a publicação desta notícia.
UOL