Americanas: diretoria omitiu operações que provocaram rombo bilionário, mostram documentos.
Documentos da investigação interna que corre na Americanas revelam que o comitê de auditoria da empresa chegou a questionar mais de uma vez seus diretores sobre as operações que causaram o rombo milionário na varejista.
Em todos os questionamentos feitos, os diretores negaram qualquer operação de “risco sacado” ou “forfait” que tenha gerado o rombo. Os questionamentos aos executivos ocorreram pelo menos quatro vezes, entre 2020 e 2022.
A informação foi revelada por O Globo e confirmada pela CNN. O “risco sacado” — jargão conhecido também como “forfait”– são “inconsistências” contábeis pode afetar os bancos credores da empresa.
Na prática, são operações que usam os recebíveis de clientes para alavancar a companhia com financiamento nos bancos, com a garantia da empresa.
À CNN, o economista e professor da FGV Roberto Kanter, especialista em varejo, disse que a prática não é incomum entre as grandes companhias e explicou como ela pode afetar na contabilidade disponibilizada no balanço da companhia.
“Quando a Americanas faz a compra dos fornecedores, geralmente coloca um prazo bastante dilatado para o pagamento, muitas vezes chega até 180 dias. Como ela compra em grandes volumes, os fornecedores aceitam vender o produto e receber neste prazo. Mas, dentro de uma semana após a venda ser feita, o intermediário financeiro entra em contato com o vendedor e se oferece para adiantar o montante”, afirmou.
Recuperação judicial
A empresa enfrenta uma crise desde que, em 11 de janeiro, comunicou ao mercado inconsistências contábeis em torno de R$ 20 bilhões, levando a varejista entrar com um pedido de recuperação judicial dias depois, que foi aceito pela Justiça.
A companhia divulgou dívidas de R$ 42 bilhões e 7.720 credores oficiais, conforme solicitado pela Justiça do Rio de Janeiro. O processo se tornou o 4ª maior de recuperação judicial do Brasil. Mais da metade da dívida da empresa é com os maiores bancos brasileiros.
São mais de R$ 22 bilhões divididos entre apenas nove bancos. O Deutsche Bank responde pela maior exposição à varejista, de US$ 1 bilhão de dólares (R$ 5,2 bilhões).
Além dos bancos, tem até empresas de tecnologia, como Facebook, Twitter e LinkedIn. No documento divulgado também constam dívidas com transportadoras, companhias aéreas, empresas de serviços menores e milhares de pessoas físicas.
Entre os credores a receber, consta, inclusive, a brasileira Ambev, que pertence aos mesmos acionistas-referência da Americanas: Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
CNN