Aplicativo da UFRN pode acelerar identificação da origem de ouro ilegal apreendido

Um grupo de pesquisadores da área de Ciência dos Materiais desenvolveu um programa de computador projetado para ler diretamente os relatórios gerados pelo microscópio de fluorescência de raios X, modelo EDX-720. Esse equipamento é utilizado para a análise de amostras sólidas, líquidas e em pó em diversas áreas, como controle de qualidade de materiais eletroeletrônicos, automotivos, metalúrgicos, ambientais e farmacêuticos, além de análises de solo e alimentos.
Um dos inventores envolvidos, Matheus Tenorio Barbosa, destaca que o diferencial do TenorioXRF-Scan está no ganho de tempo. Segundo ele, enquanto técnicos e engenheiros normalmente gastam horas preparando gráficos em softwares pagos e de uso complexo, o novo sistema realiza o processo de forma totalmente automatizada, em aproximadamente 10 segundos. “A rapidez propicia mais tempo para que os pesquisadores interpretem os resultados e tomem decisões estratégicas a partir dos dados identificados pelo equipamento”, pontua.
Além de pesquisadores, outros profissionais também são beneficiados pelo uso do aplicativo. Um exemplo são os peritos da Polícia Federal, que frequentemente precisam realizar análises e identificar a origem de ouro ilegal apreendido. Com o TenorioXRF-Scan acoplado ao microscópio, as informações são obtidas de maneira muito mais rápida. “Para termos ideia, o aparelho possuí 16 porta-amostras. Assim, levando em consideração que um profissional, seja perito ou engenheiro, por exemplo, demora, em média, uma hora para tratar e representar graficamente os resultados de cada amostra, uma rodada completa do equipamento levaria cerca de 16 horas para deixar os dados prontos para apresentação. A redução de tempo alcançada é drástica”, destaca Matheus Barbosa.
Tecnicamente, o TenorioXRF-Scan é um algoritmo desenvolvido em Python 3 para gerar automaticamente gráficos a partir de análises químicas obtidas por espectrometria de fluorescência de raios X (XRF/EDX – X-ray Fluorescence Spectrometry). Ele identifica e extrai, de arquivos .txt gerados pelo equipamento de espectrometria, os elementos químicos e seus respectivos percentuais, organizando-os em gráficos de barras ordenados por concentração, com possibilidade de exportação em alta resolução e salvamento automático em pastas específicas.
O programa também possui funcionalidades adicionais, como o tratamento de exceções para arquivos inválidos ou mal formatados, além de oferecer opções de personalização para empresas e instituições, permitindo a inclusão de logomarcas e imagens das amostras. A partir desses dados, o TenorioXRF-Scan estrutura as informações e gera gráficos claros e detalhados, destacando a concentração de cada elemento em ordem decrescente. As imagens já são produzidas com título, data da análise e a opção de incluir o logotipo institucional, facilitando a padronização e a apresentação dos resultados.
O programa surge, assim, como uma ferramenta capaz de modernizar o fluxo de trabalho laboratorial e industrial, e já está sendo utilizado por pesquisadores da universidade. Além de Matheus Barbosa, o programa tem como autores Bismarck Luiz Silva, Camila Louyse Oliveira da Rocha, Antônio Eduardo Martinelli, Paulino Vasco Mariano Muguirrima, Leoncio Augusto Queiroz da Silva e Carlos Alberto Paskocimas. O registro de proteção intelectual do aplicativo foi publicado pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) no mês de setembro.
Segundo o INPI, embora não seja obrigatório por lei, o registro de programa de computador é fundamental para comprovar a autoria de seu desenvolvimento perante o Poder Judiciário, sendo útil em casos de concorrência desleal, cópias não autorizadas e pirataria. Dessa forma, garante maior segurança jurídica ao seu detentor para proteger esse ativo de negócio. A validade do direito é de 50 anos, contados a partir de 1º de janeiro do ano subsequente à sua publicação ou, na ausência desta, da sua criação.
A Lei de Direito Autoral (Lei nº 9.610/1998) e, subsidiariamente, a Lei de Software (Lei nº 9.609/1998), conferem proteção ao programa de computador em si, ou seja, à sua expressão literal, suas linhas de código-fonte. O registro no INPI é a forma legal de garantir a propriedade e obter a segurança jurídica necessária, inclusive em ações judiciais que demandem a comprovação de autoria e titularidade do programa.
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