Articulação do governo Lula para atrair União Brasil e isolar PL trava com exigência de mais cargos.
Com o objetivo de isolar o PL, a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva tenta atrair o União Brasil para um bloco governista e impedir, assim, que o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro assuma postos-chave na Câmara dos Deputados. A articulação esbarra na exigência do União Brasil de mais cargos no Executivo. A sigla já emplacou nomes em três ministérios.
Agora, além da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), que já vinha sendo negociada com o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), a fatura apresentada inclui os comandos da Superintendência de Seguros Privados (Susepe), da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e ainda a presidência do Banco do Nordeste. Somados, os orçamentos destes órgãos superam R$ 2,9 bilhões em 2023.
Petistas contam com o União Brasil para montar um bloco capaz de isolar o PL, dono da maior bancada na Câmara, e evitar que o partido de Bolsonaro comande a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), por onde passam todos os projetos que tramitam na Casa. Na prática, o controle do colegiado dará ao Palácio do Planalto poder para pautar propostas de seu interesse ou segurar aquelas que não lhe agradem.
Faltando menos de uma semana para a eleição na Câmara, no dia 1º de fevereiro, contudo, as negociações entraram num impasse. O presidente do União Brasil, deputado Luciano Bivar (PE), até admite a possibilidade de o partido aderir ao bloco governista, mas enfrenta resistência de Elmar. Após ser barrado por petistas para a vaga de ministro da Integração Nacional, o parlamentar se reuniu com interlocutores de Lula nos últimos dias para discutir a ocupação de espaços no governo.
Alguns dos órgãos na lista do União Brasil já estão prometidos a outros aliados. O comando do Banco do Nordeste, por exemplo, deverá ser indicado por um acordo das bancadas do PT do Nordeste ou ser entregue ao ex-governador de Pernambuco Paulo Câmara (PSB), a quem Lula quer contemplar por considerar que teve papel importante na campanha eleitoral.
‘Fiel da balança’
Com 59 deputados eleitos em outubro, o União se tornou um “fiel da balança” na matemática petista para conquistar a maioria na Câmara. Atualmente, os partidos que compõem a base governista contam com 200 dos 513 parlamentares que assumirão na semana que vem. Caso o União Brasil se junte ao grupo, o número saltaria para 259, o que permitiria isolar o PL em um bloco separado.
Para conquistar a CCJ, o PT precisa integrar o maior bloco partidário da Câmara, a quem é garantida a preferência na escolha das comissões. Mesmo que tenha a bancada mais numerosa, com 99 parlamentares, o PL será preterido se não fizer parte do conjunto que tiver mais deputados. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), porém, prefere que todas as siglas que apoiam a sua reeleição — o que inclui PT e PL — formem um único bloco. Desta forma, caberia à sigla de Bolsonaro a primeira escolha, e à legenda de Lula, a segunda.
Na Mesa Diretora, o PL tenta manter a primeira vice-presidência, e o União Brasil permanecer com a primeira-secretaria, os dois principais cargos após a presidência. Já o PT quer a deputada Maria do Rosário (RS) na Mesa, mas ainda não decidiu qual espaço vai pleitear e usa a possível preferência na escolha (no caso de conseguir montar o “blocão do governo”) para negociar.
— De certo, apenas que pretendemos ficar com a primeira secretaria da Câmara, seguindo o critério da proporcionalidade. Quanto ao resto, tudo está sendo discutido, negociado — afirmou Bivar.
O acordo com os petistas, entretanto, está longe de ser unânime entre os filiados do União Brasil. Além da questão dos cargos, uma das principais reclamações em relação ao governo se encontra justamente na oposição que petistas fazem a líderes do partido em nível regional. O ex-prefeito de Salvador e secretário-geral da legenda,
ACM Neto, já se queixou a interlocutores que o PT tenta fazer um acordo nacional com o União Brasil, mas “trabalha contra” o partido em alguns estados, como a Bahia. Ele é da ala oriunda do DEM, partido que historicamente se opôs ao petismo antes de se fundir com o PSL para dar origem ao União. Internamente, correntes contestam as negociações conduzidas por Bivar.
Fonte: Jornal O Globo