Astronomos fotografam buraco negro expelindo jato de matéria
Um grupo de astrônomos revelou nesta quarta-feira a primeira imagem direta já feita de um buraco negro expelindo um jato de matéria. Esse fenômeno, que já havia sido previsto em teoria e atendido, foi fotografado agora por uma rede de fiéis que combinaram suas imagens para compor a cena observada.
O jato em questão é produzido quando poeira e gás espiralando em torno do buraco negro formam um disco de matéria que começa a ser engolido pela força do objeto. Parte da matéria que não chega a entrar no limite do buraco, porém, é desviada pelo forte campo gravitacional e escapa numa trajetória perpendicular.
Para observar o fenômeno, um grupo internacional de cientistas combinou imagens de vários considerados diferentes. Liderados por Ru-Sen Lu, do Observatório Astronômico de Xangai (China), os cientistas usaram imagens de radiação no comprimento de microondas capturadas pela rede GMLO (espalhada pelos EUA, Canadá e Europa), combinadas com registros do Telescópio da Groenlândia e do ALMA , uma malha de radiotelescópios do ESO (Observatório Europeu Austral) no Chile.
O buraco negro fotografado pelos astrônomos é o que fica no centro da galáxia M87, a 55 milhões de anos-luz da Terra. O mesmo objeto foi fotografado em 2017 pelo projeto Event Horizon Telescope, criando uma primeira imagem histórica direta desse tipo de corpo celeste, mas com menos detalhes que a fotografia desta quarta.
Nas fotos divulgadas nesta quarta pelo pesquisador (que foram capturadas em 2018), é possível enxergar a sombra do buraco negro no meio do disco de matéria em acreção e a trilha de material hiperquente expelida como jato perpendicular ao disco.
Na edição desta semana da revista Nature, um artigo assinado por 121 pesquisador descreve o fenômeno registrado com detalhes técnicos.
Em comunicado à imprensa, Lu afirma que o trabalho vai ajudar outros cientistas a entender melhor como funciona a dança da matéria que ocorre em volta desse tipo de buraco negro gigante, como o de M87, que existe em núcleos de galáxias ativos.
“Sabemos que os jatos são ejetados da região ao redor dos buracos negros, mas ainda não entendemos completamente como isso realmente acontece”, diz o astrofísico. “Para estudar isso diretamente, precisamos observar a origem do jato o mais próximo possível do buraco negro.”
Nas imagens novas, os investigadores já conseguiram capturar alguns detalhes que o projeto EHT não tinha conseguido. Uma imagem mais precisa permitir ver que o anel que delimita o buraco negro é 50% maior do que se imaginava. Além disso, os observadores viram projeções de um “vento” de partícula com carga elétrica influenciando a trajetória da matéria na região.
Estadão