Avaliação do governo Lula é melhor em cidades pequenas do que nos grandes centros, indica pesquisa Ipec

Pesquisa Ipec/O GLOBO revela que, cinco meses depois da posse, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem mais força em cidades de até 50 mil habitantes, e sua avaliação piora conforme a população vai crescendo. Nos pequenos municípios, 41% dos recebidos avaliaram a atual gestão como ótima ou boa, enquanto naqueles com mais de 500 mil habitantes o número cai para 33%. No quadro geral, a administração do petista é avaliada como ótima ou boa por 37% dos clientes.

Na mesma toada, nas cidades menores 27% avaliam o governo como ruim ou péssimo, número que chega a 31% nos grandes municípios. A vantagem também é visível quando obteve a aprovação de Lula, já que 57% dos moradores de pequenos municípios prometem aprovar o governo, contra 51% nas cidades médias e 50% nas cidades cuja população ultrapassa os 500 mil.

O nível de confiança na gestão repete a tendência positiva para o governo nas cidades pequenas, com 53% dos moradores desses locais afirmando que confiam no petista — contra 49% nas cidades com maior número de habitantes.

“Eco de opinião pública”
Daniel de Mendonça, professor de ciência política da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), afirma que há um processo histórico de “interiorização” do eleitorado do PT, que se iniciou em 2006, devido a programas sociais e políticas públicas dos dois primeiros mandatos de Lula, com um concomitante afastamento das capitais e grandes cidades.

— O PT, antes de vencer a eleição em 2002, tinha um eleitorado muito do Sul, do Sudeste e de grandes cidades. Há uma migração, em função dos programas sociais que alcançam as pessoas mais pobres nos municípios menores, mesmo nos pequenos municípios que não vivem no Nordeste, no Norte do país, onde ele tem mais força — afirma o professor.

Mendonça também destaca que as cidades grandes e capitais têm um “eco de formação de opinião pública” muito maior. Assim, discursos anticorrupção, por exemplo, capitaneados pelo escândalo do mensalão e pela operação Lava-Jato, que atingem sobretudo petistas, acabam ecoando de forma mais intensa especialmente nas classes médias que ocupam essas cidades. São nas capitais e grandes centros que concentram manifestações contra o governo do PT nas últimas décadas, como pedidos de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e grandes atos de apoio à Lava-Jato.

— Tem uma relação entre o lulismo e as políticas sociais historicamente dos governos do PT com municípios menores especialmente das regiões Norte e Nordeste, municípios mais pobres — acrescenta o professor.

Prova da pouca adesão ao partido do presidente nas grandes cidades é que, em 2020, o PT não elegeu nenhum prefeito nas capitais. No estado de São Paulo, por exemplo, são do PT apenas quatro das 545 prefeituras. —somente uma delas, Mauá, está entre as dez mais populosas. Das 92 cidades do Rio de Janeiro, o PT só comanda duas.

Por outro lado, em cidades menores, políticas públicas de transferência de renda implementadas nos primeiros governos petistas ainda “falam por Lula”. A pesquisa “A Cara da democracia”, divulgada em julho de 2022, mostrou que 55% dos eleitores afirmam que o Bolsa Família foi criado por Lula, demonstrando que a maioria da população relaciona seu nome ao benefício. Tanto é que a aprovação do presidente é maior entre aqueles com renda mais baixa, uma vez que 43% dos candidatos com familiar de até um salário mínimo consideram o governo ótimo ou bom, enquanto entre quem ganha mais de cinco garantidos mínimos, o número é de 36%.

Apoio no Nordeste
Quando considerado as regiões do país, a aprovação do governo após cinco meses reflete o resultado das urnas, quando o Nordeste foi decisivo para garantir a vitória do petista no segundo turno. São os moradores dessa região os que mais aprovam o governo: 45% de avaliação como ótimo ou bom. O índice, porém, era de 55% em abril. No Sul, 31% consideram hoje a gestão ruim ou péssima.

A pesquisa Ipec/O GLOBO ouviu 2 mil pessoas, entre os dias 1º e 5 de junho, em 127 cidades. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos dentro de um intervalo de confiança de 95%.

O GLOBO

Postado em 12 de junho de 2023