Bandeira vermelha 2 aperta orçamento de empresas e famílias

Postado em 8 de agosto de 2025

O acionamento da bandeira tarifária vermelha patamar 2 em agosto, anunciado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), deve pressionar ainda mais o orçamento dos potiguares. A medida representa um custo adicional de R$ 7,87 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos e foi adotada diante do cenário de chuvas abaixo da média no país, o que compromete a geração de energia hidrelétrica e obriga o uso de fontes mais caras, como as termelétricas. A medida causa preocupação entre consumidores residenciais e empresariais, sobretudo pelo fato de a conta de luz já ter permanecido nos dois meses anteriores sob a bandeira vermelha, patamar 1.

Essa mudança sucede um período mais longo de estabilidade com bandeira verde, vigente desde dezembro de 2024. Segundo a Aneel, a transição do período chuvoso para o seco reduziu significativamente o volume de água nos reservatórios, o que exigiu o acionamento de fontes alternativas e mais onerosas. “Esse quadro eleva os custos de geração de energia, devido à necessidade de acionamento de fontes mais caras, como as usinas termelétricas”, informou a agência.

O aumento da tarifa de energia é visto com preocupação pelo setor de comércio e serviços. O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN (Fecomércio RN), Marcelo Queiroz, afirma que os reajustes são vistos com apreensão pelo empresariado.

“Embora seja uma medida sazonal, aumenta o custo da energia elétrica e afeta tanto as empresas quanto as famílias, que acabam direcionando maior parte de sua renda para despesas essenciais e perdem poder de compra”, avalia. “Temos sempre dois lados: as empresas podem repassar parte desse custo ao consumidor final, havendo um aumento dos preços; já as famílias, que privilegiam gastos essenciais em detrimento de outras despesas, também podem ficar mais cautelosas e reduzir o consumo”, acrescenta Queiroz.

O impacto das oscilações no custo da energia é ainda mais significativo para as pequenas e médias empresas, segundo Marcelo Queiroz. Ele destaca que, por operarem com margens de lucro mais estreitas e menor poder de negociação, essas empresas se tornam particularmente vulneráveis às variações no preço do insumo, mas ressalta que todas elas são afetadas, independentemente do porte.

Diante desse cenário, a Fecomércio RN recomenda que os empreendedores monitorem de forma constante o consumo de energia e avaliem medidas para redução do uso. “As fontes alternativas podem ser uma saída para minimizar os impactos das tarifas de energia. Uma delas é a migração para o mercado livre de energia, opção já disponível desde 2024, ou o uso da energia solar”, considera.

Impacto generalizado

Para o economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-RN), Helder Cavalcanti, o impacto é generalizado. “A energia elétrica está na composição da cadeia produtiva da grande maioria dos produtos e serviços que a sociedade consome na sua rotina, desde a geração até o transporte e venda dos produtos. As famílias de baixa renda são beneficiadas pela tarifa social nas suas faturas de energia, contudo terá reflexos, como toda sociedade, nos produtos e serviços que sofrem impactos diretos, visto que a energia elétrica está presente, seja no transporte, medicamentos, alimentação e demais serviços”, afirma.

Diante do cenário, Helder Cavalcanti defende a adoção de práticas de consumo consciente por parte da população, como forma de reduzir a dependência das termelétricas, cuja utilização onera ainda mais o custo final da energia. Entre as principais ações estão as substituições de lâmpadas incandescentes por modelos LED e a atenção às borrachas das geladeiras que, se desgastadas, comprometem o rendimento do equipamento. Cuidados simples como desligar as lâmpadas ao sair do ambiente e usar o chuveiro elétrico na posição “verão” também são recomendados.

“As concessionárias de energia elétrica desenvolvem programas de eficiência energética, oferecendo incentivos e orientações práticas à sociedade de como consumir energia elétrica de forma consciente e econômica nas suas atividades e rotinas. A verificação do bom uso dos equipamentos deve ser uma rotina”, orienta o economista e conselheiro do Corecon-RN.

Indústria

Na avaliação de Roberto Serquiz, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (Fiern), a bandeira vermelha também tem impacto direto nas indústrias. “São consequências para o custo da produção comprometendo o poder aquisitivo. Já referente à migração para alternativas de geração de energias que minimizem o impacto da conta, elas recebem cada vez mais adesão do setor industrial”, afirma.

Tribuna do Norte