Bolsonaro nega lobby por tarifa de Trump e diz que Eduardo será preso se voltar dos Estados Unidos

Jair Bolsonaro deu uma série de entrevistas a veículos de imprensa no Brasil, nesta terça-feira (15), rebatendo o pedido de condenação feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF), na ação sobre tentativa de golpe de Estado.
À CNN Brasil, o ex-presidente saiu em defesa do filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, após repercussão negativa da sobretaxa aplicada pelos Estados Unidos a produtos brasileiros condicionada a uma anistia aos réus da trama golpista. Bolsonaro foi enfático ao responder se o deputado Eduardo deve voltar ao Brasil:
“Ele tem consciência que, se voltar para cá, ele vai ser preso. Ele já está num inquérito por Abolição Violenta do Estado Democrático de Direito… 12 anos de cadeia. Quer que ele faça o que? Que ele venha pra cá? Para que seja preso no aeroporto? Eu quero ver meu filho preso?”, argumentou. “Ele quer a volta da democracia no Brasil”, complementou.
Questionado sobre a eficiência de Eduardo Bolsonaro como articulador junto aos Estados Unidos, o ex-presidente argumentou que ele faz “um trabalho fantástico”.
“Eduardo Bolsonaro está certo, está lutando por liberdade por todos nós, está sacrificando seu mandato. Agora, final do mês, tem que decidir se volta ao Brasil e mantém o mandato ou se perde o mandato. Tem que se reconhecer o trabalho que ele faz, os contatos que ele faz com o governo federal, com o parlamento… é fantástico o trabalho que ele faz”.
Antes, em entrevista ao jornal digital Poder360, Bolsonaro negou ter feito qualquer lobby para a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.
Bolsonaro também afirmou ter “poder” de resolver a situação, mas ponderou que, para isso, seria preciso que tivesse “liberdade para conversar com Trump”, o que não é possível no momento, já que está sem passaporte.
“Essa decisão [de taxar o Brasil] é do Trump. Não tem participação minha. Não existe nenhum lobby meu”, declarou. Segundo ele, a medida é uma resposta à alta taxação de produtos norte-americanos pelo Brasil. “O que o Trump procura é uma paridade das taxações”, disse.
Bolsonaro também criticou o governo Lula por não dialogar com Washington. “Se esse governo tivesse interlocução com o governo norte-americano, ia falar com ele”.
Para o ex-presidente, o posicionamento de Trump também estaria relacionado à política externa brasileira no Brics.
“Tá implícito ali [na carta de Trump]: o Lula quer pôr fim do padrão dólar nas negociações com o Brics. O Brics virou um ajuntamento de ditadores”, disse.
Sobre Trump, Bolsonaro disse ter “profunda gratidão”.
“Tivemos um bom relacionamento. O que passa pela cabeça do Trump eu não sei. Ele é imprevisível. Gosto dele, sou apaixonado por ele, pelo povo norte-americano, pela política norte-americana, pelo país que são os EUA. Ele me tratava como irmão”, declarou.
Intenção de candidatura em 2026
Apesar de estar inelegível, Bolsonaro reafirmou a intenção de disputar a Presidência nas eleições de 2026. “Vou até as últimas consequências. Estou inelegível porque me reuni com embaixadores, porque subi no carro de Silas Malafaia, não tem cabimento”, declarou.
Ele disse que sua estratégia será entrar com o pedido de candidatura e aguardar decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Vai estar como presidente do TSE o Kassio Nunes, o vice André Mendonça”, afirmou, mencionando os dois ministros que indicou ao Supremo Tribunal Federal (STF) quando era presidente, que estarão no comando do Tribunal Eleitoral em 2026.
Ao ser questionado sobre quem apoiaria em 2026 caso não consiga reverter sua inelegibilidade, Bolsonaro não respondeu. “Só vão saber no último dia”, disse. Ele também declarou que “cada partido deveria lançar seu candidato no primeiro turno” do pleito.
Críticas a Alexandre de Moraes
Na entrevista, Bolsonaro voltou a criticar o ministro do STF, Alexandre de Moraes, afirmando que ele “sequestrou o Supremo Tribunal Federal e faz o que bem entende”. Disse ainda que Moraes prende, interroga, julga e ainda se coloca como vítima de um suposto plano para assassiná-lo, que classificou como “ridículo”. “Ninguém faz um plano para matar alguém e bota no papel”, afirmou.
Bolsonaro também questionou como Moraes poderá julgá-lo sendo parte interessada no processo. “Ele não diz que tinha um plano para matá-lo? Como vai me julgar? Não tem cabimento isso aí. Cadê o devido processo legal?”, disse.
Denúncia da PGR
Sobre a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República no caso da tentativa de golpe após as eleições de 2022, Bolsonaro voltou a negar irregularidades.
“Eu não queria estar nessa situação por uma acusação estapafúrdia. A transição [com o governo Lula] foi tranquila. Ninguém reclamou, fizemos uma transição tranquilíssima”, declarou.
Bolsonaro afirmou que sempre agiu dentro da lei ao questionar o resultado das eleições. “Perguntei o que a gente podia fazer dentro das quatro linhas e me sugeriram estado de sítio. Nunca joguei fora das quatro linhas”, argumentou.
Segundo o ex-presidente, se tivesse más intenções, teria agido antes mesmo das eleições. “Trocava comandante de Força, trocava ministro da Defesa. Nunca existiu tentativa de golpe da minha parte. Se tinha algum maluco pensando alguma coisa, problema dele”, afirmou.
Perguntado se pretende recorrer a instâncias internacionais caso seja condenado pelo STF, Bolsonaro disse que sim, mas demonstrou ceticismo quanto ao resultado. “Você apodrece na cadeia. Não há interesse deles em me prender. Eles querem me eliminar. Sou um problema solto ou preso”, declarou.
SBT