Brasil registra a maior taxa de doadores de órgãos da história
Em 2023, o Brasil alcançou a maior taxa de doadores de órgãos e bateu recorde de vários tipos de transplantes.
Quando a filha nasceu, a dona de casa Adriana Francisca de Souza recebeu a pior notícia.
“Que ela só tinha 12 dias de vida por causa da cardiopatia dela ser muito grave”, conta.
Mas a vida se impôs e a Ana Carolina superou tudo o que veio pela frente.
“E aí hoje eu estou aqui, com 23 anos, sobrevivendo, graças a Deus, e fazendo o que eu consigo. Foram duas cirurgias, 15 cateterismos e, agora, o transplante que eu estou à espera”, comemora a estudante de contabilidade Ana Carolina de Souza Freitas.
Um duplo transplante: do coração e do fígado, prejudicado por anos de medicamentos. Hoje, ela é a primeira da fila no Sistema Nacional de Transplantes à espera de um doador para os dois órgãos.
E as notícias são boas para a Ana Carolina e para outras pessoas que aguardam um transplante. O Brasil registrou em 2023 a maior taxa de doadores de órgãos da história e bateu recorde de transplantes de fígado, coração, córneas e medula óssea e rim. O que permitiu não só a continuidade da vida para muitas pessoas que dependiam da doação, mas também a chance de viverem como nunca tinham experimentado antes e, por exemplo, caminhar na rua sem dificuldade.
“Eu não conseguia andar, eu não conseguia subir escada, eu não conseguia comer sozinho, tomar banho. Não conseguia fazer quase nada”, diz Lucas Gabriel de Oliveira, transplantado.
Era a condição do Lucas um ano e meio atrás.
“ Você faz tudo certo, mas não tem como. Chega uma hora que é inevitável, que é a hora do transplante”, diz Cristiane Cardoso da Rocha, mão do Lucas.
Foram 11 meses de espera até que chegou a hora.
“Meu Deus! Esse dia foi o dia mais feliz da minha vida”, comemora Cristiane.
“Agora, eu posso fazer academia, posso correr, posso jogar bola, caminhar”, conta Lucas.
Em 2023, o brasil se recuperou da queda de transplantes que ocorreu durante a pandemia e, além da doação recorde, ultrapassou a meta prevista para o ano.
“E isso deixou a gente muito animado e esperançoso para continuar crescendo ainda mais no próximo ano. O Brasil tem um programa de transplantes que dá muito orgulho aos brasileiros. O brasil é o quarto do mundo em numero absoluto de transplantes”, diz Lucio Pacheco, médico e membro da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos.
Quase 60 mil brasileiros estão, neste momento, ao lado da família, esperando para renascer. A Ana Carolina quer brincar à vontade com o irmão mais novo, e está cheia de planos.
“Vai ser um grande recomeço. Fazer um futevôlei ali que tanto sonho, ir para uma academia, sabe? Eu poder me movimentar”, diz Ana Carolina.
Para a fila andar, é preciso apoio de toda sociedade. Pela legislação brasileira, a família de pacientes com morte encefálica precisa autorizar a doação de órgãos. Em 2023, em média, de cada 14 doadores possíveis, dois se tornaram doadores de fato.
“A gente ainda tem onde aumentar a doação de órgãos no pais. Doação de órgãos tem dois gargalos: a identificação da pessoa com morte cerebral, com morte encefálica, e a autorização familiar. E é nessas duas áreas que a gente tem que atuar, estimulando o profissional da terapia intensiva a identificar esse doador e treinando a equipe médica para conversar com a família, tanto sobre o diagnóstico quanto sobre a possibilidade de doação de órgãos e salvar várias vidas com aqueles órgãos”, acrescenta Lucio Pacheco.
“A minha espera é muito grande, a minha expectativa é muito grande que eu vou ficar boa, me recuperar logo. Se você realmente quer ser um doador, você precisa avisar sua família. Isso é muito importante, você salvar outras vidas”, comenta Ana Carolina.
Jornal Nacional