Butantan inicia entrega de vacina inédita contra a dengue ao Ministério da Saúde

O Instituto Butantan deu início à entrega das primeiras doses da vacina Butantan-DV contra a dengue ao Ministério da Saúde. O primeiro lote conta com 300 mil doses, que passam a integrar as ações do Sistema Único de Saúde (SUS).
A Butantan-DV é a primeira vacina contra a dengue do mundo aplicada em dose única. O imunizante foi aprovado pela Anvisa para pessoas com idade entre 12 e 59 anos. Os estudos clínicos indicaram eficácia de quase 75% contra casos gerais da doença, mais de 91% contra casos graves e 100% de proteção contra hospitalizações.
Segundo o Ministério da Saúde, as primeiras doses serão direcionadas aos profissionais da Atenção Primária, que atuam em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e em visitas domiciliares. Estão incluídos agentes comunitários de saúde, agentes de combate às endemias, enfermeiros, técnicos de enfermagem e médicos que trabalham na linha de frente do SUS. A estratégia deve ter início no fim de janeiro de 2026.
O Instituto Butantan informou ainda que avalia a ampliação da faixa etária contemplada pela vacina, incluindo idosos acima de 60 anos e crianças de 2 a 11 anos.
Distribuição e contrato
Até o fim de janeiro de 2026, está prevista a entrega de mais 1 milhão de doses ao Programa Nacional de Imunizações (PNI). O contrato para aquisição das primeiras doses foi assinado na sexta-feira (19) pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
O acordo prevê investimento de R$ 368 milhões para o fornecimento inicial de 3,9 milhões de doses à rede pública. No momento da assinatura, 300 mil doses já estavam embaladas, integrando um total de 1,3 milhão de vacinas produzidas, destinadas prioritariamente à Atenção Primária à Saúde em todo o país.
Registro e produção
O registro da vacina foi publicado pela Anvisa em 8 de dezembro, encerrando o processo regulatório e autorizando a produção e a comercialização do imunizante, que será ofertado exclusivamente pelo SUS.
Durante a cerimônia de assinatura do contrato, o ministro Alexandre Padilha afirmou que a formalização do acordo era essencial para garantir a distribuição nacional das doses. Ele também destacou que a vacina é resultado do trabalho conjunto de pesquisadores, técnicos e servidores do Instituto Butantan.
Estratégia de vacinação
Com a chegada das doses, o Ministério da Saúde adotará uma estratégia de avaliação do impacto da vacina na dinâmica da dengue. Para isso, será realizada uma ação de aceleração da vacinação em municípios-piloto: Botucatu (SP) e Maranguape (CE). Nesses locais, o público-alvo será composto por adolescentes e adultos de 15 a 59 anos. Uma terceira cidade, Nova Lima (MG), poderá ser incluída.
O público prioritário foi definido após reunião técnica com especialistas, conforme recomendação da Câmara Técnica de Assessoramento de Imunização (CTAI).
Por contar com dose única e esquema vacinal simplificado, o imunizante facilita a adesão e amplia a proteção em menos tempo. A vacina oferece proteção contra os quatro sorotipos do vírus da dengue.
Parceria internacional e ampliação da produção
A ampliação da vacinação em massa depende do aumento da produção, que será viabilizado por uma parceria entre Brasil e China. O acordo prevê a transferência da tecnologia desenvolvida pelo Instituto Butantan para a empresa chinesa WuXi Vaccines, o que pode elevar a capacidade produtiva em até 30 vezes.
A estratégia prevê início da vacinação em adultos a partir de 59 anos, com ampliação gradual para faixas etárias mais jovens, até alcançar pessoas a partir de 15 anos. Estudos apontam 74,7% de eficácia contra dengue sintomática, além de 89% de proteção contra formas graves e com sinais de alarme.
O desenvolvimento da vacina recebeu R$ 130 milhões em investimentos do BNDES, além de aportes contínuos do Ministério da Saúde. Atualmente, a pasta destina mais de R$ 10 bilhões por ano para o fortalecimento da produção nacional de imunizantes, valor que pode chegar a R$ 15 bilhões com a parceria internacional e a ampliação da infraestrutura do Butantan.
Outras vacinas e cenário epidemiológico
O SUS também disponibiliza a vacina contra a dengue do laboratório japonês, indicada para adolescentes de 10 a 14 anos, aplicada em duas doses. Desde a incorporação, em 2024, 7,4 milhões de doses já foram aplicadas. Entre 2024 e 2025, 11,1 milhões de doses foram distribuídas e 7,8 milhões aplicadas.
Em 2025, o Brasil registrou queda de 75% nos casos prováveis de dengue e redução de 72% nos óbitos, em comparação com 2024. Apesar do cenário favorável, o Ministério da Saúde reforça a importância da manutenção das ações de combate ao Aedes aegypti.
Desde novembro, está em andamento a campanha nacional “Não dê chance para dengue, zika e chikungunya”, que orienta a população sobre medidas de prevenção, como eliminação de criadouros, uso de telas e repelentes, vedação de reservatórios, limpeza de calhas e ralos e apoio às ações realizadas pelos profissionais do SUS.
Estudos clínicos
A Butantan-DV vem sendo desenvolvida há mais de dez anos, em parceria com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIH). O pedido de registro foi protocolado na Anvisa em 16 de dezembro de 2023, e a aprovação ocorreu após cinco anos de acompanhamento dos voluntários da fase 3 dos ensaios clínicos.
Nos estudos de fase 2, a vacina apresentou 79,6% de eficácia contra dengue sintomática. Já na fase 3, os resultados indicaram proteção de 89% contra dengue grave e com sinais de alarme, além de segurança e eficácia mantidas por até cinco anos.
Com informações do G1
