Câmara aprova urgência para pacote de segurança pública

Postado em 1 de outubro de 2025

A Câmara dos Deputados acelerou, na terça-feira (30), a tramitação de um pacote de projetos de segurança pública. Em poucos minutos, o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), aprovou em bloco e de forma simbólica a urgência de oito propostas — movimento que libera os textos para análise direta em plenário. Entre os pontos estão o aumento de pena para homicídio de policiais e a criação de um tipo penal específico para o crime de “domínio de cidades”, prática conhecida como “novo cangaço”.

No início da sessão, Motta pediu celeridade: “Como esses projetos foram alvo de consenso, tivemos o recolhimento da assinatura dos líderes para que fossem pautados em urgência regimental. Faço um apelo aos partidos para que votemos esses requerimentos por acordo, para que a Câmara possa agilizar essa pauta da sociedade brasileira.”, disse.

A expectativa na Casa é de que o mérito do pacote volte a ser analisado na próxima semana. Nesta quarta-feira, a Câmara deve votar a ampliação do imposto de renda, outra pauta tida como popular.

Novo cangaço

Um dos projetos cria o crime de “domínio de cidades”, estratégia usada por quadrilhas armadas em ataques a municípios, como ocorreu em Criciúma (SC), em 2020, e Araçatuba (SP), em 2021. Hoje, esses episódios podem ser enquadrados em roubo qualificado, porte ilegal de armas, uso de explosivos e na Lei de Organizações Criminosas, com penas de até 12 anos.

A nova proposta prevê punição de 12 a 30 anos, inclui o crime na Lei de Crimes Hediondos — o que impede anistia, graça e indulto — e restringe benefícios como progressão de pena. Texto semelhante já havia sido aprovado pela Câmara em 2022, mas parou no Senado.

Proteção da farda

Outro projeto amplia as penas de homicídio e lesões corporais contra policiais e servidores da segurança. O homicídio simples, hoje punido de 6 a 20 anos, poderá chegar a 30 anos quando a vítima for agente público. No caso de lesão corporal, a pena poderá dobrar. A medida atende a demandas da chamada bancada da bala e reforça a ideia de “proteção da farda”.

Facções criminosas

O pacote também traz mudanças na Lei de Organizações Criminosas. O texto eleva a pena máxima de 8 para 12 anos, com agravantes em casos que envolvam armas de grosso calibre ou atuação interestadual. A justificativa é o avanço de facções de alcance nacional e sua infiltração em setores da economia legal. Em entrevista recente, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, disse que as organizações criminosas “já penetraram em diferentes áreas da economia”, o que pressiona por endurecimento legislativo.

Obstrução da Justiça

Outro projeto cria o crime autônomo de obstrução da Justiça, prevendo até 8 anos de prisão para quem destruir provas ou intimidar testemunhas. Atualmente, essas condutas são enquadradas em outros artigos do Código Penal, com penas que chegam a 4 anos.

Outras medidas

O pacote inclui ainda a redução de 24 para 12 horas do prazo para encaminhar autos de prisão em flagrante ao juiz, com possibilidade de envio eletrônico da documentação; a transferência automática para os estados dos bens apreendidos em crimes de tráfico; e a destinação de até 5% da arrecadação das apostas esportivas ao financiamento da segurança pública — hoje limitada a 2,55%.

Ao reunir os oito projetos e aprovar a urgência em bloco, Motta buscou dar resposta a críticas recentes sobre sua condução da Câmara e atender à pressão da bancada policial. O gesto também aproxima o presidente da Casa do PL, partido que tem pressionado por uma agenda mais dura na área da segurança.

Votação de projeto do IR será nesta quarta

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), em um almoço na terça-feira para falar sobre a votação do projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Motta declarou que a votação está mantida para acontecer nesta quarta-feira.

O encontro também contou com a presença da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. De acordo com o presidente da Câmara, medidas provisórias também foram discutidas na reunião. A MP alternativa ao aumento do IOF vence em outubro e teve o relatório apresentado hoje pelo deputado Carlos Zarattini (PT-SP). “Falamos sobre IR e medidas provisórias só. Está marcada para amanhã (a votação do IR).”, disse a ministra que também comentou sobre a reunião e disse que Motta se comprometeu a pautar a MP alternativa ao IOF. “O presidente Hugo Motta deu a referência de votar na quinta de manhã.”.

A ministra também disse que o projeto do Imposto de Renda deverá ter uma tramitação rápida no Senado. “IR será agora, amanhã na Câmara. E chegando no Senado, não demora muito a votar.”. O relator do texto do IR é o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL). A ampliação da faixa de isenção deve impactar cerca de 10 milhões de brasileiros. A elevação da renda de corte para R$ 5 mil era uma promessa de Lula desde a campanha de 2022 e tem peso estratégico para a popularidade do petista às vésperas das eleições de 2026.

tribuna do norte