Câncer de testículo: 60% das mortes são de pessoas abaixo dos 40 anos

Apesar de ser um tumor relativamente raro, o câncer de testículo afeta menos de 1% dos homens e corresponde a 5% dos casos de cânceres urológicos no sexo masculino. Dados exclusivos do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da saúde e obtidos pela Sociedade Brasileira de Urologia mostram que mais de 60% das mortes pela doença acometem jovens adultos entre 20 e 39 anos, ou seja, na idade produtiva.

Segundo os dados, entre 2010 e 2020, cerca de quatro mil homens morreram em decorrência do câncer de testículo, apenas 816 tinham mais de 50 anos — faixa etária de maior prevalência dos distúrbios urológicos.

O urologista Gustavo Ruschi Bechara, supervisor da Disciplina de Câncer de Testículo da Sociedade Brasileira de Urologia, afirma que desde a década de 70 a incidência de casos não para de crescer levou pelo aumento das orientações médicas em torno da doença.

— Nós observamos a população discutindo sobre distúrbios urológicos mais comuns como o câncer de próstata e de bexiga, mas não vemos as pessoas falarem sobre o câncer de testículo, e essa falta de conhecimento dificuldade o diagnóstico precoce. Hoje orientamos os pais a levarem seus filhos adolescentes ao urologista, ao invés de iniciarem o acompanhamento aos 45-50 anos, idade recomendada para a prevenção do câncer de próstata — afirma Bechara.

sintomas e prevenção
O médico afirma que apesar de ser um câncer pouco comum, quando precocemente a chance de cura pode ultrapassar 90%, pois na maioria dos casos a doença é restrita ao testículo (80%). O paciente pode detectar facilmente um nódulo ou massa através do autoexame do testículo.

— O recomendado é que o homem faça o autoexame do testículo após tomar um banho morno, quando o escroto estiver mais relaxado. Em pé, ele deve palpar ambos os testículos, na tentativa de identificar um nódulo ou massa. Em 80% dos casos, a lesão é indolor e, na minoria, pode ser dolorosa. Além disso, o paciente pode observar a alteração da forma e consistência do testículo — explica Bechara.

Outros sinais que podem surgir, em 10% dos casos, são dor na parte inferior do abdômen, falta de ar, dor torácica, dor nos ossos, entre outros, que estão relacionados a uma doença disseminada. É importante ressaltar que os testículos possuem tamanhos e alturas diferentes, ficando o esquerdo geralmente um pouco mais baixo do que o direito. O sinal de alerta mais importante é a ocorrência de nódulos ou aumento do volume testicular em um curto período de tempo.

Porém nem todos os caroços que surjam na região serão necessariamente um câncer, por isso, é importante que nenhum primeiro sintoma o paciente procure um médico especialista ou urologista para determinar o diagnóstico e obter um tratamento adequado.

fatores de risco
A maioria dos fatores elevam o risco de desenvolver a doença é genética e imutável, por isso o único modo eficaz de prevenção é o autoexame e, consequentemente, o diagnóstico precoce.

Entre as pessoas que possuem alto risco de desenvolver o tumor, estão aquelas diagnosticadas com criptorquidia, ou seja, quando os testículos que se localizam no interior do abdômen na fase fetal, não migram para o escroto durante os primeiros anos de vida. Bebês prematuros, por exemplo, são mais tolerantes. A manutenção de um testículo fora da bolsa pode comprometer sua função reprodutiva e hormonal, além de aumentar as chances de desenvolver esse tumor.

Outros fatores de risco são: idade entre 15 e 35 anos, cor branca, síndromes genéticas, história familiar, história pessoal de câncer no testículo contralateral, infertilidade, exposição a determinadas substâncias, como agrotóxicos, principalmente durante a gestação ou no período neonatal.

Tratamento
Por ser um câncer que afeta em sua maioria homens saudáveis, sem filhos e em idade reprodutiva, especialistas se preocupam com o impacto do tratamento na fertilidade. Ao descobrir o tumor, a recomendação é que o paciente faça a congelação de espermatozóides e prossiga com a remoção do testículo (orquiectomia total). A retirada de parte do testículo (orquiectomia parcial) é recomendada em situação específica, como nos tumores bilaterais ou testículo único. Importante lembrar que, dependendo da fase em que a doença é diagnóstica, também é necessário complementar o tratamento com quimioterapia e radioterapia.

Segundo o Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do Ministério da Saúde, foram realizadas 19.616 orquiectomias entre 2019 e 2022. Sendo São Paulo o estado com o maior número de procedimentos (4.830), seguido por Minas Gerais (1.890) e Paraná (1.609) .

Além do fator oncológico, nos casos de câncer de testículo, nós médicos temos outras preocupações, quanto ao impacto do tratamento nas funções sexuais, hormonais, fertilidade e saúde mental. O paciente deve ser orientado sobre a preservação de espermatozóides, possibilidade de substituição de testosterona e implante de prótese testicular — afirma Bechara.

O GLOBO

Postado em 10 de abril de 2023