Carlos Bolsonaro barra acesso do pai às redes sociais desde anúncio de que abandonaria perfis
O vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, barrou o acesso do pai às próprias contas nas redes sociais desde que anunciou, no dia 16 de abril, que deixaria de administrar os perfis. A informação foi noticiada pelo colunista Guilherme Amado, do portal Metrópoles, e confirmada pelo Globo com interlocutores da família do ex-presidente.
Segundo aliados, Carlos trocou as senhas das redes de Bolsonaro para marcar sua posição, após entender que o pai estaria sendo aconselhado a fazer publicações em desacordo com a linha mais agressiva defendida pelo vereador. No último dia 16, ao anunciar que encerraria sua atuação nas redes do pai, Carlos escreveu que “pessoas ruins se acham as tais e ganham muito com o suor dos outros que trabalham de verdade”.
A última postagem realizada nos perfis de Bolsonaro no Facebook, Instagram, Twitter e Telegram havia ocorrido poucas horas antes, com críticas a declarações do presidente Lula (PT) sobre a guerra na Ucrânia durante viagem à China.
O hiato de postagens, que completou 25 dias nesta quinta-feira, vem incomodando aliados de Bolsonaro, que esperam uma conversa do ex-presidente com o filho para aparar as arestas. Sem acesso às próprias redes e sem a atuação de Carlos, Bolsonaro não conseguiu mobilizar diretamente seus seguidores, por exemplo, em episódios como a ida à Agrishow, o primeiro evento público de grande porte ao qual compareceu neste ano.
Desde que retornou ao Brasil, após passar cerca de três meses nos Estados Unidos em viagem às vésperas de encerrar o mandato, Bolsonaro retomou contato mais próximo com marqueteiros que atuaram em sua campanha de 2022 e defendem uma comunicação mais suave nas redes sociais.
O grupo inclui o ex-secretário de Comunicação da Presidência (Secom) Fábio Wajngarten, que vem fazendo as vezes de porta-voz de Bolsonaro nas investigações sobre as joias árabes e a fraude no cartão de vacinação; o marqueteiro Duda Lima, ligado ao presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e escalado para coordenar inserções políticas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro; e o publicitário Sérgio Lima, que teve enfoque na campanha digital de Bolsonaro em 2022 e, antes disso, havia atuado na tentativa frustrada de lançar o partido Aliança pelo Brasil.
Carlos, por sua vez, é conhecido pelo estilo inflamado nas redes, e a defesa desta linha de atuação digital já levou o vereador a reter senhas da família em outras ocasiões. A mais notória ocorreu na campanha eleitoral de 2016, quando o irmão, o hoje senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), foi candidato à prefeitura do Rio, enquanto Carlos concorria à reeleição como vereador, ambos pelo PSC.
À época, Carlos e o pai, o então deputado Jair Bolsonaro, manifestavam incômodo com a campanha de Flávio, preocupados de que uma derrota ao Executivo municipal comprometesse a futura candidatura presidencial do patriarca. Depois que Flávio usou suas redes sociais para agradecer dois adversários, incluindo a deputada de esquerda Jandira Feghali (PCdoB-RJ), por terem-no socorrido após passar mal em um debate televisivo, Carlos usou sua senha para excluir a publicação em questão e barrar o acesso do irmão aos próprios perfis.
Segundo interlocutores da família, Carlos e Jair eram os dois únicos com acesso regular às redes sociais do ex-presidente. Embora boa parte das publicações fosse reproduzida em todos os perfis digitais de Bolsonaro, alguns posts eram mantidos apenas no Telegram, onde o ex-presidente tem menos seguidores do que em outros perfis.
Entre esses posts, feitos em nome de Bolsonaro, há críticas direcionadas ao prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), com quem Carlos vem trocando farpas publicamente nas redes e na Câmara de Vereadores. Carlos também tem usado um blog, chamado “Família Bolsonaro”, para fazer atualizações sobre seu trabalho como vereador.
Em paralelo ao abandono das redes do pai, Carlos viu avançar a investigação do Ministério Público do Rio (MP-RJ) sobre indícios de prática de “rachadinha” em seu gabinete na Câmara de Vereadores.
O tema é considerado delicado no entorno da família. Alvo de investigação semelhante, Flávio conseguiu anular boa parte das provas coletadas pelo MP a partir de decisões em tribunais superiores, num momento em que o pai ocupava a Presidência. Carlos, por ser vereador, tem o caso analisado pelo Tribunal de Justiça do Rio.
Folha PE