Cármen Lúcia diz que Brasil vive matança diária de mulheres e meninas

A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), fez um pronunciamento contundente, na quarta-feira (3), sobre a recente onda de feminicídios e agressões contra mulheres no Brasil. A magistrada afirmou que o País vive um cenário de “matança de mulheres e meninas”, e alertou que a violência de gênero atingiu patamares que desafiam a própria ideia de civilização e democracia.
Segundo a ministra, o país ainda tenta compreender se o aumento de casos decorre do crescimento da violência ou do fim de uma invisibilidade histórica que silenciava grande parte desses crimes. “O Brasil tem, nos anos de 2024 e 2025, sido testemunha, para não dizer, quase cúmplice, e somos todos, em parte vítima, em parte responsáveis, por isso que está acontecendo da matança de mulheres e meninas a cada dia, nos assombrando mais e mais com o que uma pessoa é capaz de fazer com a outra”, afirmou.
A ministra reforçou que o enfrentamento da violência contra mulheres não cabe apenas ao Estado, mas exige mobilização social. “Somos todas pessoas humanas e os direitos não são direitos humanos dos homens humanos, são direitos de homens e das mulheres, todas pessoas humanas, com igual dignidade. Portanto, o comprometimento do Poder Judiciário é um alerta. Eu sei que isto é da sociedade, não é só do Estado”.
Para Cármen Lúcia, o cenário atual é incompatível com os princípios democráticos. Ela afirmou que o país presencia, de forma explícita e diária um quadro extremamente trágico para qualquer sociedade que se pretende civilizada. A ministra ressaltou que não há democracia possível sem igualdade e que a violência contra mulheres representa uma ruptura com essa condição básica.
Escalada da violência
A manifestação foi motivada pelos recentes casos de violência registrados em diversas cidades, como o feminicídio da professora Catarina Karsten, em Florianópolis. Ela tinha 31 anos, era professora e pesquisadora em Florianópolis e foi assassinada na última sexta-feira (21), após ser violentada sexualmente enquanto fazia uma trilha na Praia do Matadeiro, na capital catarinense.
Em São Paulo, dois outros casos de violência contra a mulher tiveram grande repercussão na última semana. No sábado (29), uma mulher de 31 anos teve as pernas severamente mutiladas após ser atropelada e arrastada, por cerca de um quilômetro, enquanto ainda estava presa embaixo do veículo. O motorista foi preso e a polícia indica que se trata de feminicídio, pois ele e a vítima tinham se relacionado. Na segunda-feira (1º), um homem atirou, usando duas armas, contra sua ex-companheira na pastelaria em que ela trabalhava.
No Recife, um homem de 39 anos foi preso no sábado (29) após atear fogo na casa onde estava sua mulher, grávida, e os quatro filhos do casal. Isabele Gomes, de 40 anos, e as crianças com idades entre 1 e 7 anos, morreram.
De acordo com dados do Ministério das Mulheres, foram registrados 1.450 feminicídios e 2.485 homicídios dolosos e lesões corporais seguidas de morte contra mulheres no ano passado.
Tribuna do Norte
