Casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave aumentam e afetam crianças, adultos e idosos

A sensação de peso no peito e a dificuldade para respirar são dois dos sintomas mais característicos de um quadro de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), condição em que uma infecção respiratória inicial afeta os pulmões de forma severa, dificultando a respiração e podendo levar à insuficiência. A SRAG não é uma doença em si, mas uma complicação ocasionada por diversas infecções virais. Segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os casos têm atingido níveis de incidência de moderada a muito alta em jovens, adultos e idosos, com forte incidência em crianças pequenas e idosos.
A SRAG pode ser causada por vírus, bactérias e fungos. Os principais vírus relacionados à síndrome são Influenza, Sars-CoV-2 (Covid-19) e o vírus sincicial respiratório. Já as bactérias são o pneumococo, Staphylococcus aureus e o micoplasma. “Foi observado pelo Ministério da Saúde um aumento nos casos de síndrome respiratória aguda por casos de vírus sincicial e influenza, que ocorrem especialmente no período de inverno”, observa Thiago Dantas, pneumologista do Hospital Onofre Lopes (HUOL).
A Fiocruz projeta um crescimento do número de casos em todo Brasil. O boletim InfoGripe, divulgado em fevereiro, aponta que, dos mais de 16 mil casos de SRAG viral positivos, no mês de janeiro, 79,5% foram causados pelo coronavírus e 10,6% por Influenza A. Os números crescentes acarretaram na lotação de hospitais públicos e privados do país.
Thiago Dantas explica que a SRAG é caracterizada por um processo inflamatório pulmonar que causa a redução da entrada de oxigênio para os vasos sanguíneos pulmonares durante o processo da respiração, levando à redução da quantidade de oxigênio presente no organismo, e aumento do esforço que os músculos respiratórios fazem para poder captar mais ar para dentro dos pulmões.
O aumento de casos no Brasil tem grande relação com a Influenza A, que oferece risco maior à população idosa, e o vírus sincicial respiratório, que afeta mais as crianças e bebês, sendo a principal causa de internação por infecção respiratória em menores de 1 ano. O pneumologista explica que a vulnerabilidade é ocasionada pela imunidade mais baixa, redução das reservas funcionais respiratórias e o maior estado pró-inflamatório.
“Os grupos mais vulneráveis são recém-nascidos e crianças com menos de cinco anos, idosos com mais de 70 anos, obesos, gestantes, pessoas em tratamento para câncer, transplantados, diabéticos não controlados, e pacientes com doenças respiratórias crônicas e cardiopatas”, completa. A gripe (Influenza A, em particular) é uma das principais causas de óbitos por SRAG em idosos.
Os sintomas iniciais são muitas vezes semelhantes aos de uma gripe comum, como febre, tosse e dor de garganta. No entanto, a SRAG se caracteriza pela progressão de sintomas mais graves. Entre os sinais de alerta, segundo o médico, estão: aumento da frequência respiratória, ponta dos dedos e lábios roxos (cianose), cansaço para realizar os mínimos esforços, pressão mais baixa do que o normal, aprofundamento dos espaços entre as costelas e acima do esterno (osso do peito) e respiração com muito uso do abdomen. Em crianças, pode ocorrer também falta de ar, aumento da frequência respiratória, desidratação e diminuição de apetite.
Especificamente em território potiguar, Thiago Dantas acredita que o período de chuvas pode contribuir para aumento de quadros de SRAG, o que deve inspirar cuidados. “É o que favorece a aglomeração e a permanência em ambientes fechados, levando à maior propagação dos vírus respiratórios entre a população, por isso que nós temos um aumento na incidência das infecções respiratórias nesse período”, ressalta.
O diagnóstico clínico, segundo Thiago, é feito pela piora clínica progressiva de uma síndrome gripal associada aos sinais de alerta já mencionados. Somando isso à realização de exames como hemograma, proteína C reativa, gasometria arterial (avaliação da quantidade real de oxigênio e gás carbônico do sangue), raio X ou tomografia de tórax, além do swab nasal para a identificação dos vírus respiratórios.
Prevenção
Entre as medidas preventivas mais eficazes para evitar uma síndrome respiratória aguda, estão uma alimentação saudável e balanceada, a prática de exercícios físicos, não fumar e não consumir bebidas alcoólicas, beber água corretamente, controlar as doenças crônicas como diabetes e hipertensão, a perda de peso e o uso de máscaras em pacientes de risco.
Há mais um item especialmente importante: manter o calendário vacinal em dia. A vacinação é a principal e mais eficaz forma de prevenção contra a SRAG, pois protege contra as doenças que podem evoluir para o quadro grave, como a Influenza e a Covid-19, reduzindo significativamente os riscos de evoluir para suas complicações e, inclusive, a necessidade de internação. A vacinação também ajuda a reduzir a circulação dos vírus, protegendo indiretamente aqueles que não podem ser vacinados.
As principais formas de tratamento são o uso de antibióticos e antivirais. “São as principais ferramentas de acordo com o agente etiológico, além de oxigênio para os pacientes que estão com a baixa oxigenação do sangue, fisioterapia respiratória, dispositivos inalatórios (as famosas bombinhas)”, explica o pneumologista. E, em alguns casos mais graves, pode haver a necessidade do uso da ventilação mecânica invasiva.
Atualmente, segundo Thiago Dantas, foram observados também novos casos de Covid-19, o que é compatível com a menor cobertura vacinal que é observada junto à população. “O grande desafio está em desfazer vários estigmas e mitos existentes com relação aos quadros infecciosos, vacinação e os tratamentos, como a necessidade de intubação que pode ocorrer em casos mais graves, além da dificuldade que a população tem em acessar os serviços de saúde quando temos os surtos epidemiológicos destas doenças”, afirma.
A Sociedade Brasileira de Infectologia recomenda que os pacientes só busquem por atendimentos presenciais caso apresentem sintomas como falta de ar, baixa saturação, febre recorrente e cansaço. Além disso, a organização aconselha que as pessoas com sintomas leves recorram a teleconsulta a fim de reduzir aglomerações nos hospitais e clínicas.
tribuna do norte