Cirurgia bariátrica e canetas emagrecedoras; especialista explica diferenças e riscos

O avanço dos medicamentos conhecidos como “canetas emagrecedoras”, baseados em análogos de GLP-1 e GIP, abriu novas possibilidades no tratamento da obesidade. No entanto, o cirurgião do aparelho digestivo João Carlos da Silva explica que o uso dessas substâncias não deve ser comparado diretamente à cirurgia bariátrica, que ainda se mostra mais eficaz em casos graves.
Segundo o especialista, os medicamentos trouxeram “um alento” no combate à obesidade, já que os remédios usados anteriormente apresentavam efeitos limitados. “Os principais benefícios das canetas emagrecedoras é que elas trouxeram uma abertura muito grande no tratamento da doença obesidade”, destaca.
Apesar do avanço, os efeitos colaterais não são desprezíveis.” Entre os efeitos adversos relatados estão náuseas persistentes, alterações no funcionamento intestinal, sensação constante de estômago cheio, além de relatos mais graves de pancreatite, inflamações oculares e até alterações nervosas neuronais em membros inferiores”, afirma João Carlos da Silva.
Ele ressalta que a comparação entre as canetas emagrecedoras e a cirurgia bariátrica pode ser um equívoco. “O grande erro é querer comparar a cirurgia bariátrica com o uso dos medicamentos. Nos estudos de vida real, a perda de peso com as canetinhas fica entre 6% a 10%, enquanto a cirurgia traz resultados de 25% a 40% do peso inicial após dois anos”, explica. Além da diferença nos resultados, ele destaca que há ainda o custo elevado do uso contínuo dos medicamentos.
Bariátrica ou medicamentos: médico orienta pacientes indecisos
Para o cirurgião do aparelho digestivo, a escolha entre os tratamentos deve considerar principalmente a gravidade da obesidade e a presença de outras comorbidades. Ele explica que as canetas podem ser úteis para quem precisa perder entre 5 a 10 quilos, ou mesmo em pacientes que já fizeram bariátrica, mas voltaram a ganhar peso por questões comportamentais.
“Tenho visto bons resultados em pacientes que já passaram pela cirurgia bariátrica, mas voltaram a ganhar peso devido a fatores como alimentação inadequada, predisposição hereditária à recidiva da obesidade, falta de atividade física ou consumo frequente de álcool. Nesses casos, as canetas auxiliam no controle do peso. Acredito que esses medicamentos vieram para integrar o tratamento após a bariátrica, mas a cirurgia continuará sendo necessária nos casos mais complexos”, avalia.
João Carlos da Silva relata que muitos pacientes chegam ao consultório em dúvida sobre qual caminho seguir. “Como a cirurgia é um procedimento mais invasivo, sempre procuro ouvir o paciente. Assim, ele compreende que as canetas podem ser uma opção, mas, se o resultado não corresponde às expectativas ou o custo se torna inviável, muitas vezes retorna mais convicto da necessidade da cirurgia. Acredito que apenas uma pequena parcela consegue realmente abrir mão da cirurgia bariátrica para usar os medicamentos e alcançar resultados semelhantes”, conta.
O médico também alerta para outro problema: o contrabando e a manipulação ilegal das substâncias. “O produto está em estudo fora do país e, rapidamente, já aparece aqui na nossa região em versões manipuladas. Felizmente, hoje esses medicamentos só podem ser vendidos com prescrição médica, o que inibe esse tipo de prática”, destaca.
Apesar do avanço das canetas emagrecedoras, a cirurgia bariátrica continua sendo essencial nos casos mais complexos. Os medicamentos surgem como complemento, auxiliando em pequenas perdas de peso ou no controle pós-cirúrgico, mas a escolha do tratamento deve sempre considerar a gravidade da obesidade, as comorbidades e a capacidade do paciente de manter o acompanhamento médico, garantindo segurança e eficácia a longo prazo.
tribuna do norte