Citado nas pesquisas, Ciro Gomes dá sinais de que pode apostar em nova campanha

Desde a redemocratização, apenas Luiz Inácio Lula da Silva disputou mais eleições presidenciais do que Ciro Gomes: foram seis do petista contra quatro do pedetista (1998, 2002, 2018 e 2022). Porém, ao contrário do presidente, que está em seu terceiro mandato, o ex-governador do Ceará nunca chegou ao segundo turno, embora tenha feito participações benéficas em alguns benefícios. Após a última, quando teve apenas 3% dos votos, disse que “dificilmente” iria tentar novamente. “Eu não desisti, fui desisti”, afirmou. A um ano e meio de nova corrida ao Planalto, porém, alguns fatores podem fazer o pedetista voltar a concorrer.
O recall eleitoral dele ainda segue vivo, conforme comprovou a última rodada do Paraná Pesquisas, divulgado na terça-feira 22. Ela aponta Ciro em terceiro lugar nos quatro cenários em que foi incluído, com percentuais que vão de 9,7% a 14,2% das intenções de voto ( veja o quadro ). Os resultados são especialmente desenvolvidos quando considerados uma especialização: mesmo distante da política institucional (está sem mandato desde fevereiro de 2011, quando deixou o deputado), seu desempenho é superior ao de políticos com cargas, como os governadores Ronaldo Caiado (Goiás), que chega a 8,7%; Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), com 4,9%; e Helder Barbalho (Pará), com 1,3%. Em todas as simulações, Ciro só perde de Lula e do nome da direita, seja ele o ex-presidente Jair Bolsonaro , a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ou o governador Tarcísio de Freitas (São Paulo). Os apoiadores não desistem dele e têm pressão nas redes sociais. É comum ver postagens com o slogan “É tempo de Ciro”, em que seguidores defendem seu nome como uma alternativa mais viável para enfrentar o bolsonarismo e o “lulopetismo”, como ele gosta de dizer.
Embora sem mandato, Ciro não está longe da militância política. Em seus perfis no X, Instagram e YouTube, ele tem críticas feitas duras ao governo Lula . Em um vídeo fixado, de 13 de março, por exemplo, cita o compartilhamento de 80% das famílias e ataca o crédito consignado com garantia do FGTS, anunciado como boa notícia por Lula, mas que para ele só ajuda os bancos e compromete o futuro das pessoas. “É um verdadeiro assalto ao povo. Isso é a cara do PT”, ataca. O pedetista também tem um boletim informativo, na qual convida o leitor a exercitar sua “inteligência crítica” a partir de temas e análises expostas por ele, e participa de debates, entrevistas em podcasts e encontros com empresários. No início do mês, falou como candidato em um fórum em São Paulo. “Estou muito preocupado, mas essa preocupação não mata, ainda, a minha esperança”, disse, assinalando que sempre encontrou “estudar os problemas” de forma “inovadora e criativa” e ouvindo “opiniões diferentes”.

Os obstáculos para uma nova candidatura são muitos. Um deles é a crise do PDT, que vive o risco de não cumprir a cláusula de barreira: a sigla encolheu, passando de 28 para dezessete deputados. O mínimo para que continue sendo elegível ao fundo partidário em 2026 serão treze cadeiras. O fato do cacique do partido, Carlos Lupi, ser ministro da Previdência também dificulta a pretensão de Ciro de posar como oposição a Lula. Além do mais, no Ceará, seu reduto, o PDT pode integrar o governo Elmano de Freitas (PT) e até apoiar o petista na reeleição em 2026.
Outra questão é quanto uma candidatura de centro-esquerda poderia ter espaço em um ambiente polarizado. Em 2022, havia muita expectativa sobre uma terceira via, que acabou se revelando uma miragem política. As chances do pedetista aumentariam caso Lula abortasse a pretensão de concorrer, algo que parece arriscado. “Ele é um candidato eterno, mas perdeu grande parte do seu apelo”, diz o cientista político Eduardo Grin, da FGV-SP. Ciro já se lançou ao desafio em condições adversárias, com siglas modestas (PPS e PDT), para desafiar nomes como Lula, FHC e Bolsonaro. Nunca teve muito sucesso, é verdade, mas nunca se sabe quando vai desistir.