Delegado da PF é confirmado no comando da Interpol e se torna 1º brasileiro no cargo mais alto da organização
O delegado da Polícia Federal Valdecy Urquiza, de 43 anos, foi confirmado no começo desta terça-feira (5) como o novo secretário-geral da Interpol. É o primeiro brasileiro a chegar ao cargo mais alto da maior organização policial do mundo.
O nome de Urquiza foi chancelado pelos países-membros da organização na 92ª Assembleia Geral da Interpol, que está sendo realizada em Glasgow, no Reino Unido. Ele havia sido indicado em junho pelo comitê executivo da entidade. (Clique aqui para ler discurso do brasileiro na íntegra)
Dos 196 países-membros, 153 votaram na Assembleia Geral. Destes,145, representando 96% dos presentes, aprovaram o nome de Urquiza. Seis países votaram contra o brasileiro e dois se abstiveram.
Ao longo de seus 101 anos de história, a instituição teve oito secretários-gerais: um austríaco, quatro franceses, um britânico, um alemão e um norte-americano. O brasileiro será o primeiro cidadão de um país em desenvolvimento a chefiar o órgão. Quem deixa o cargo é o alemão Jürgen Stock, que assumiu o posto em 2014.
Urquiza assume o comando no começo de 2025. O mandato é de cinco anos, podendo ser renovado por mais cinco. Ele irá se mudar com a família para Lyon, na França, onde fica a sede da instituição.
Em agosto, em entrevista ao g1, o delegado contou quais serão suas prioridades a frente da organização. Ele disse que terá como foco combater, em escala global, o abuso infantil on-line e levar, aos países em desenvolvimento, novas tecnologias de combate ao crime. “Um dos temas que mais tem se destacado é justamente a exploração sexual de crianças através da internet. E isso exige uma resposta global”, afirmou.
Além disso, ele acredita que a experiência da PF o levará a melhorar a eficiência da gestão da organização.
“A Polícia Federal consegue alcançar muito com poucos recursos. É um nível de eficiência acima da média, e o comprometimento dos profissionais também é bem acima da média.”
Nascido em São Luís, no Maranhão, e filho de um bacharel em direito, Urquiza graduou-se no mesmo curso em Fortaleza e ingressou na PF em 2004 por concurso. Em 2007, de volta a São Luís, iniciou as atividades na corporação à frente da delegacia de crimes ambientais.
O interesse pela carreira dedicada à cooperação internacional surgiu quando Urquiza se deparou com crimes que envolviam a atuação de criminosos em vários países, como fraudes cibernéticas e lavagem de dinheiro.
Em 2015, o delegado assumiu o escritório nacional da Interpol no Brasil, em Brasília. Três anos depois, transferiu-se para a sede da organização na França, onde atuou como diretor-adjunto para comunidades vulneráveis e diretor de combate ao crime organizado na Secretaria-geral. Ao retornar ao Brasil, em 2021, voltou a trabalhar com cooperação internacional na PF e foi eleito vice-presidente das Américas do Comitê Executivo da Interpol.
“E essa candidatura que ocorreu em seguida [para secretário-geral] foi uma decorrência natural desse processo”, afirmou Urquiza, em entrevista por videochamada ao g1 em agosto.
Interpol foi criada para evitar fuga de criminosos por carro, trem e avião
Em abril de 1914, advogados e policiais de 24 países se reuniram em Mônaco, na Europa, a convite do príncipe Alberto I. O grupo estava preocupado com criminosos que se aproveitavam do progresso dos carros e da aviação para fugir do país e escapar da Justiça. Surgiu, ali, uma ideia que acabou sendo adiada por causa da 1ª Guerra Mundial e se concretizou nove anos mais tarde: a criação da Organização Internacional de Polícia Criminal, a Interpol.
O desenvolvimento dos transportes naquele início de século 20 intensificou não só transporte de pessoas, mas também de mercadorias – o que, naturalmente, ampliou as oportunidades para a ocorrência de delitos.
Em setembro de 1923, desta vez em Viena, na Áustria, a instituição de fato foi criada, com o nome de Comissão Internacional de Polícia Criminal (CPIC).
Em 1956, a entidade aprovou um novo estatuto e foi rebatizada como Organização Internacional de Polícia Criminal (OIPC-Interpol), nome que leva até hoje.
Desde a criação da Interpol, o número de membros cresceu significativamente. Dos 20 fundadores em 1923, a organização passou a ter 50 países membros em 1955, 100 em 1967, 150 em 1989 e, em 2023, alcançou 196 países-membros.
Com Urquiza, o Brasil chegará pela primeira vez ao cargo mais alto da instituição, mas a relação com a organização de cooperação mundial tem mais de 70 anos: o país é membro desde 1953, quando o ingresso foi aprovado na Assembleia Geral de Oslo, na Noruega.
No entanto, durante a Ditadura Militar, por volta de 1980, o Brasil se retirou da organização, retornando em 1986, no contexto da redemocratização.
Muito além do ‘alerta vermelho’
Quando se ouve falar da maior organização policial do mundo, uma das primeiras associações que vêm à mente são as notificações internacionais emitidas para localizar e prender pessoas procuradas ao redor do planeta – o alerta vermelho.
Além da “difusão vermelha” (o termo técnico e oficial), a Interpol conta, por exemplo, com a difusão amarela, para pessoas desaparecidas, e a negra, para informações sobre cadáveres não identificados.
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G1