Deltan Dallagnol: “Relator no TSE entregou minha cabeça por vaga no STF”
O deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR), cujo mandato foi cassado na semana passada por decisão unânime do Tribunal Superior Eleitoral, afirmou, sem apresentar provas, que os sete ministros da Corte eleitoral “combinaram” de tomar a decisão antes de o caso ir a plenário.
Em entrevista à “Folha de S. Paulo”, o ex-coordenador da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba atribuiu o voto do relator, ministro Benedito Gonçalves, a uma suposta campanha pela indicação ao Supremo Tribunal Federal.
— O ministro condutor do voto trouxe um voto que objetiva entregar a minha cabeça em troca da perspectiva de fortalecer a sua candidatura ao Supremo — disse Deltan Dallagnol ao jornal.
Todos os ministros da Corte eleitoral seguiram a posição de Benedito Gonçalves, segundo a qual Deltan pediu exoneração do cargo de procurador para evitar uma eventual punição administrativa, que poderia torná-lo inelegível.
Na avaliação de Deltan à “Folha”, firmar essa posição na votação seria uma forma de agradar o governo federal, muito crítico à Operação Lava-Jato, cuja força-tarefa ele comandou entre 2014 e 2020. O político alega que o julgamento no TSE teria levado 66 segundos, o que seria indício da suposta combinação prévia de votos.
— Uma decisão uniforme quando existe toda uma unanimidade em contrário, em 66 segundos, faz com que a conclusão seja aquela para a qual apontou o ministro Marco Aurélio Mello: essa decisão foi combinada. Ela foi combinada e guiada por interesses — defendeu Deltan.
A sessão, porém, durou cerca de uma hora e 25 minutos — o tempo citado pelo parlamentar é referente somente ao momento em que o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, confirma a decisão unânime da corte.
Deltan negou que tenha se esquivado de ser notificado formalmente pela corregedoria da Câmara sobre a cassação de seu mandato.
Ao falar sobre a cassação do mandato, o deputado defendeu que seu caso vem sendo tratado de forma diferente tanto no Judiciário quanto na Câmara. A corregedoria da Casa, responsável por analisar a destituição de parlamentares, tentou notificar Deltan pessoalmente sobre o processo três vezes. Após as investidas frustradas, o aviso foi publicado no Diário Oficial do Legislativo, seguindo o protocolo da Câmara.
Segundo o parlamentar informou à “Folha”, teria havido um desencontro nas agendas do parlamentar e do corregedor da Câmara, o deputado federal Domingos Neto (PSD-CE). Na primeira tentativa, na quinta-feira passada, por exemplo, Deltan afirma que estava em reuniões com seu partido, o Podemos, e com seus advogados.
— Na segunda-feira, quando eu estava em reuniões partidárias em Curitiba, os servidores da corregedoria vieram realizar a terceira notificação. Algo que foge ao padrão da Casa, segundo informado pela própria servidora da corregedoria que veio aqui. E a questão que se coloca é: por que o meu caso está sendo tratado de um modo diferente, no Judiciário e aqui na Câmara dos Deputados? E a resposta todo mundo sabe qual é — disse o ex-procurador ao jornal.
Folha PE