Demitida por Lula, Rita Serrano fala em ‘misoginia’ no adeus à Caixa: ‘Ser mulher em espaços de poder é tentador’
Demitida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ( PT ) do comando da Caixa Econômica Federal , Rita Serrano se pronunciou pela primeira vez sobre a saída da carga. Em uma longa postagem no Instagram, ela falou dos desafios de “ser mulher em espaços de poder” e disse esperar deixar como legado a mensagem de que é preciso enfrentar a misoginia. No texto, Serrano também defendeu a própria gestão e agradeceu a Lula “pela confiança depositada”.
A troca no comando do banco estava sendo desenhada desde julho e envolveu negociações para aproximar ainda mais o Centrão do governo. Serrano foi a terceira mulher do primeiro escalonamento do governo a ser demitida por Lula.
Em julho, o presidente tirou Daniela Carneiro do Ministério do Turismo para abrigar o deputado Celso Sabino a pedido do União Brasil, partido de ambos. Dois meses depois, a petista Ana Moser do Ministério dos Esportes, apesar de fortes resistências de lideranças da área e da pressão de outras ministras mulheres. No lugar do medalhista olímpica, entrou o deputado federal André Fufuca ( PP -MA).
Na postagem, Serrano elencou aspectos positivos do período de cerca de dez meses em que esteve à frente do banco estatal, mencionando o que seria “um dos melhores momentos da história” da instituição. “Demos um salto de qualidade em diversos âmbitos da presença da Caixa na vida de todos”, afirmou.
Na sequência, o ex-presidente do órgão tratou das dificuldades de “ser mulher em espaços de poder”. “Não foi fácil ver meu nome exposto durante meses à fio na imprensa. Espero deixar como legado a mensagem de que é preciso enfrentar a misoginia, de que é possível uma empregada de carreira ser presidente de um grande banco e entregar resultados”, disse.
Apesar da menção a questões de gênero, Serrano garantiu ter sido “uma honra” participar do governo de Lula. “O momento é de agradecer a toda a minha equipe, dirigentes, assessores, colegas de trabalho de todo o país, minha família, entidades e, em especial, ao presidente Lula, pela confiança depositada. Presidente, para mim, foi uma honra ter participou do seu governo”, escreveu.
Serrano também informou que a transição traria “nos próximos dias” e desejava sorte ao sucessor, Carlos Antônio Vieira Fernandes, liderado ao cargo por indicação de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados. “Quanto a mim, volto a ser bancário, com muito orgulho”, encerrou ela.
Abertura para o Centrão
O anúncio da demissão do presidente da instituição foi feito após uma longa queda de braço entre Lula e Arthur Lira. No aguardo de nomeações dos seus indicados para a cúpula do banco público, líderes do Congresso travaram a votação de pautas de interesse do Palácio do Planalto nas últimas semanas. A troca era esperada desde que o petista abriu a Esplanada dos Ministérios para abrigar partidos do Centrão e nomeou ministros do PP de Lira e do Republicanos .
No lugar de Rita, o petista vai nomear o economista Carlos Antônio Vieira Fernandes, nome indicado por Lira e que já trabalhou em outras gestões do PT. Ele é servidor da Caixa e já foi presidente da Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa, além de ter atuado no Ministério das Cidades nas gestões de Gilberto Occhi, ligado ao PP, e do deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
O comando do banco estatal não foi firmado entre o presidente o Lira. Entre os projetos que ficaram represados está o que estipula a tributação de offshores e fundos exclusivos, atingindo os “super ricos”. Após o governo confirmar a troca na instituição financeira e a nomeação, o projeto foi votado e aprovado com votação ampla do PP e dos Republicanos.
Veja a íntegra da mensagem postada por Serrano:
“Nesta despedida, venho a público agradecer aos funcionários, clientes, parceiros, entidades e ao controlador da CAIXA, que desenvolveu para que meus 10 meses de gestão à frente do banco resgatassem a autoestima institucional de “ser CAIXA”, condição fundamental para viabilizar a nossa missão singular de banco social, que é capaz de atender a população brasileira, especialmente os mais necessitados, e ao mesmo tempo, garantir rentabilidade ao negócio.
Demonstrar um salto de qualidade em diversos âmbitos da presença da CAIXA na vida de todos e esse resultado positivo, que nos colocamos em um dos melhores momentos da história do banco, é fruto de um esforço de trabalho coletivo. São 87 mil funcionários diretos e outras milhares indiretas atuando todos os dias para garantir um atendimento digno aos clientes e à população brasileira.
Ser mulher em espaços de poder é algo sempre desafiador. Não foi fácil ver meu nome exposto durante meses à fio na imprensa. Espero deixar como legado a mensagem de que é preciso enfrentar a misoginia, de que é possível uma empregada de carreira ser presidente de um grande banco e entregar resultados, de que é possível ter um banco público eficiente e íntegro, de que é necessário e urgente pensar em outra forma de fazer política e ter relações humanizadas no trabalho.
Por fim, o momento é de agradecer a todos a minha equipe, dirigentes, assessores, colegas de trabalho de todo o país, minha família, entidades e, em especial, ao presidente @lulaoficial, pela confiança depositada. Presidente, para mim, foi uma honra ter participado do seu governo.
Nos próximos dias, faremos a transição com o futuro presidente do banco, ao qual desde já registrou meus desejos de boa sorte.
Quanto a mim, volto a ser bancário, com muito orgulho. Seguimos juntos por um novo Brasil, uma nova Caixa”.
O GLOBO