Depressão: a importância de perceber sinais e buscar ajuda
“Eu não tinha nenhuma expectativa de vida”. É o que Filipe Augusto Xavier, de 20 anos, afirma ter sentido com a manifestação dos primeiros sinais de depressão. Entre eles, estavam a presença de pensamentos suicidas e a perda de interesse pela vida. O cotidiano, antes consumido pelo serviço de marinheiro no Comando do 3ª Distrito Naval em Natal, agora tem um caráter domiciliar. Todos os dias, ele acorda cedo, toma o café da manhã e o medicamento prescrito pelo médico. Trata-se de uma rotina que pouco tem de isolada.
Apenas no Brasil, segundo pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde com ano base 2021, em média 11,3% dos brasileiros relatam um diagnóstico médico de depressão. Entre as capitais do Nordeste, Natal aparece com o maior número de pessoas a partir de 18 anos ou mais que relataram a confirmação médica da doença, com 11,8% dos casos nesta faixa-etária.
Ana Karenina Arraes, docente no Departamento de Psicologia da UFRN, esclarece que a depressão não apresenta uma causa específica e pode ser caracterizada como uma forma de adoecimento marcada pela perda de energia vital. No geral, a doença apresenta três graus (leve, moderado e grave), mas os sintomas são individuais e variáveis. “As formas de apresentação da depressão vão variar de intensidade e, também, do ponto de vista sindrômico. Então ela não vai ser igual para todo mundo, mas em todas essas situações vamos observar um rebaixamento da energia da pessoa para funcionar no mundo”, ressalta.
No caso de Filipe Augusto Xavier, a depressão despontou após uma situação de violência. O jovem relata que em dezembro de 2022, quando tinha 19 anos. Após a situação, ele ficou com algumas escoriações e apenas quando começou a sentir tristeza e um forte sentimento de injustiça, resolveu marcar uma consulta no psiquiatra. “Quando eu quis parar de trabalhar, marquei uma consulta com uma psiquiatra e fiquei alguns dias afastado. Só que quando acabou o afastamento, continuei sem ir e um superior do trabalho veio até a minha casa. Foi quando a ajuda veio porque eu estava no fundo do poço da depressão”.
A partir desse momento, com a chegada do diagnóstico, foi encaminhado para o Hospital Severiano Lopes e passou 43 dias internado, recebendo tanto o apoio profissional quanto visitas dos seus familiares. Segundo ele, além do tratamento medicamentoso, foram as atividades terapêuticas que fizeram a diferença no enfrentamento da doença. Atualmente, os pensamentos suicidas não são uma realidade e o desejo de manter as relações interpessoais aumentou. “Já tive progresso, agora eu quero estar próximo da minha família”, compartilha.
Diagnóstico e tratamento
Há casos de pessoas que ficam mais propensas à doença em virtude de outras condições como o alcoolismo, situações de pressão no trabalho e a vulnerabilidade social associada ao precário acesso aos serviços de saúde. Ana Karenina Arraes, docente no Departamento de Psicologia da UFRN diz que é fundamental compreender o histórico de vida do paciente no processo de diagnóstico da depressão. “Há uma ânsia por diagnóstico porque a gente tem uma carência de formação clínica. Então os profissionais estão muito ‘tecnocratas’”, argumenta.
Aliado a isso, o mundo tem vivenciado o fenômeno da “medicamentalização” com o aumento no número psicotrópicos – medicações que agem no sistema nervoso central (SNC) produzindo alterações de comportamento, humor e cognição. O problema da imposição imediata do medicamento, adverte a professora, é que muitas pessoas perdem a capacidade de desenvolver a defesa do organismo e formas de lidarem com as frustrações e adversidades da vida.
Opsiquiatra Hugo Sailly, vice-presidente da Associação Norte-Rio-Grandense de Psiquiatria (ANPRN), diz que o medicamento é prescrito em casos de depressão resistente ou que já se iniciam em um quadro mais grave, com o acompanhamento mensal, semanal, ou diário, sem excluir a necessidade do tratamento multidisciplinar por meio de áreas como fisioterapia, nutrição e psicologia. “Um profissional bom e atualizado entende que não vai conseguir trabalhar sozinho e precisa desses outros profissionais pensando no melhor para o paciente”, complementa o psiquiatra.
Tribuna do Norte