Deusa do Forró leva a bandeira potiguar ao mundo em festival na França

Postado em 17 de setembro de 2025

A candidatura do forró a Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco ganhou um capítulo histórico em Lille, na França. Representando o Rio Grande do Norte, a cantora Deusa do Forró viveu momentos de emoção e afirmação em um palco internacional no último fim de semana.

Nascida em Acari, a artista de cerca de 40 anos de carreira foi uma das protagonistas da Noite Potiguar, ao lado de Jarbas do Acordeon e Cláudio Araújo, coroando a participação potiguar no Festival Internacional do Forró de Raiz.

No evento, a governadora do RN, Fátima Bezerra (PT), e o governador de Sergipe, Fábio Mitidieri (PSD), representaram o Consórcio Nordeste na assinatura de um protocolo de intenções com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Fórum Nacional do Forró de Raiz, passo essencial para a construção do dossiê que será enviado à Unesco. O objetivo é assegurar a preservação do forró e sua transmissão às próximas gerações.

“Representar o meu Estado, para mim, é sempre uma honra. Apesar de eu já ter ido várias vezes para o exterior, essa foi a minha primeira viagem fora do Brasil levando o meu forró, levando toda a minha nordestinidade. Foi incrível”, conta Deusa, em entrevista exclusiva ao AGORA RN.

Deusa do Forró decidiu ser artista aos seis anos de idade, depois de ouvir a cantora Rosana no rádio. Na adolescência, fez pequenos shows e, adulta, integrou bandas de forró até criar, em 2009, o grupo As Nordestinas, que chegou a se apresentar na China. A partir de 2017, construiu sua carreira solo e conseguiu se firmar como referência do gênero no RN.

Para ela, o título da Unesco seria mais um passo para consolidar a força do ritmo no cenário global. “Com certeza, com esse título, a gente consegue inserir o forró não só no São João. O forrozeiro é forrozeiro de janeiro a janeiro”, defendeu.

No dia 24 de outubro, Deusa do Forró se apresenta no Teatro Riachuelo, em Natal. Os ingressos estão à venda na bilheteria ou através do site uhuu.com

Confira a entrevista completa:
AGORA RN – Como foi para você representar o Rio Grande do Norte em um palco internacional como o Festival de Forró de Raiz, na França?
Deusa do Forró – Representar o meu Estado, para mim, é sempre uma honra. Apesar de eu já ter ido várias vezes para o exterior, essa foi a minha primeira viagem fora do Brasil, levando o meu forró, levando toda a minha nordestinidade. Foi incrível. E a importância de saber que, dessa vez, eu estava indo em um intuito de representar o meu Estado, o meu povo, a minha cidade natal, que é Acari, a cidade que eu moro há mais de 10 anos, Parnamirim. Eu representei todo o Estado com muita força, com muita dignidade, ainda mais sabendo que é um evento que retrata uma coisa que é a minha vida, que é o forró, que fala do forró e todas as suas matrizes. Ainda mais sendo mulher, representando o meu Estado num grande forró de raiz internacional. Foi gigantesco.

AGORA RN – O que mais te emocionou na Noite Potiguar em Lille? Qual foi o repertório que você escolheu?
Deusa do Forró – É uma pergunta bem difícil, porque eu fiquei extremamente emocionada quando subi no palco e ainda me emociono. Quando eu coloquei a bandeira nos peitos do meu Rio Grande do Norte, eu percebi a responsabilidade que eu estava ali de representar o meu Estado. E eu tinha que representar com toda maestria, sendo uma mulher que veio do interior, uma forrozeira, que às vezes não tem a valorização devida, mas eu estava ali. O meu repertório teve a maioria de mulheres. Anastácia, Hermelinda, a nossa querida Marinês. E levei também aos palcos de Lille a canção O Rabo do Jumento, do nosso grande Elino Julião, que foi um grande artista, um compositor potiguar, que deixou história em nosso Estado, levou o Estado para o mundo com suas canções. O repertório foi recheado de emoções, e a hora que eu mais me emocionei foi quando eu cantei O Sertão Te Espera com a bandeira do Rio Grande do Norte nos meus braços.

AGORA RN – Você é considerada uma das vozes mais marcantes do forró no RN. O que significa levar essa identidade para fora do país e mostrar a força da música potiguar no exterior?
Deusa do Forró – Fico muito feliz em ouvir das pessoas que eu sou uma das vozes mais fortes do Rio Grande do Norte, porque já venho há quase 40 anos nessa batalha pelo forró, pela valorização da nossa cultura. E isso só mostra que estou no caminho certo. Costumo dizer que eu não canto só com a voz, eu canto com alma e coração. E, ao longo desse tempo da minha carreira, criei minha identidade. E onde eu chego, todo mundo já sabe que é a Deusa do Forró. E fiquei realmente conhecida como uma das vozes mais fortes do Rio Grande do Norte, como uma forrozeira forte. E isso está se espalhando não só no meu estado, mas em outros estados e até fora do Brasil. Porque quando eu divido o palco com tantas outras cantoras maravilhosas que estão aí no resgate do forró, as pessoas conseguem ver minha verdadeira identidade.

AGORA RN – O forró vive um momento importante com a candidatura a Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco. Na sua visão, o que essa conquista representa para os artistas e para a sociedade?
Deusa do Forró – Esse título representa muito, é de extrema importância no momento em que o forró está vivendo. A gente tem que aproveitar essa deixa que o forró já é patrimônio imaterial do Brasil e ele ser da humanidade. Com certeza, com esse título, a gente consegue inserir o forró não só no São João, porque o forrozeiro não só canta em junho e julho. O forrozeiro é forrozeiro de janeiro a janeiro. Então, a gente consegue inserir o forró em outros eventos, em outras festas e mais editais. O forró cresceu, se expandiu no mundo todo. Acho que esse título só vem a agregar para que possamos fazer mais shows, para que possamos estar mais presentes nas grades de todos os eventos.

AGORA RN – Como você vê o papel da mulher no forró de raiz?
Deusa do Forró – Ah, não é fácil, até porque o forró que eu canto, o forró raiz, ele é um forró que é predominado por homens, e a gente está tentando mudar isso. Acho que tem muita mulher boa no mercado, muitas pessoas se especializando somente no forró, e eu estou aí para dar as mãos com as meninas e fortalecer cada vez mais. Precisamos passar um trator por cima de todo tipo de preconceito e mostrar que a mulher é quem manda, como diz na canção do meu querido mestre Elino Julião: ‘a mulher é quem manda e a mulher é quem pinta e borda’. Estamos firmes, com certeza a mulherada ainda vai ter muito o que falar e, quem sabe, a gente consiga pegar esse posto de mulher predominando mais no forró.

AGORA RN – Qual é a importância de políticas públicas de cultura, como as defendidas durante o festival, para garantir que o forró continue vivo nas próximas gerações?
Deusa do Forró – É preciso que o forró dê essa continuidade nesse evento e nesse espaço, que é tão difícil. A gente está vivendo um momento de músicas ‘sem futuro’ mesmo, de palavras que afetam a imagem da mulher, que atraem a droga, que atraem a violência. Então, as políticas públicas são muito importantes. Nesse evento, tive o prazer de participar dos fóruns, das conversas, e, entre isso, a gente falou sobre as necessidades que todos os forrozeiros têm e encontram ao longo de sua carreira. É de super importância que todos os governos contribuem, como fizeram agora. A governadora Fátima fez valer, trabalhou junto comigo, participou de todos os eventos, todos os dias, incansavelmente, procurando saber das necessidades. Isso foi muito importante, não só para mim, mas para todos os artistas potiguares que eu estava lá representando. Precisamos de união, porque a arte caminha junto com a educação. Quando se tem essas políticas públicas, com certeza há mais divulgação, mais aprendizado, e as pessoas vão ficando mais amantes da nossa cultura, que é nossa, que é tão linda, que tem tanta poesia, que tem um cordel, que tem milhões de coisas para se ver, para se estudar e para se expandir. É essencial que todos os governos se abracem, se unam, que o Nordeste se una.

AGORA RN