Dólar data em queda, a R$ 4,77, no menor patamar em mais de um ano
O dólar comercial quebrou a barreira psicológica dos R$ 4,80 nesta segunda-feira, encerrando uma sessão no menor patamar em pouco mais de um ano. Ainda que a sessão tenha sido marcada pela menor cozinha devido ao feriado de “Juneteenth” nos Estados Unidos, o movimento de força do real esteve descolado do observado em moedas pares, reforçando a leitura da visão construtiva dos agentes com o ambiente doméstico . Tal percepção foi favorável com mais um relatório Focus, do Banco Central, que trouxe revisões para cima do crescimento econômico e para baixo da cobertura e do dólar neste e nos próximos anos.
Terminadas como consequência desta segunda, o dólar à vista encerrou em queda de 0,90%, a R$ 4,7751, no menor fechamento desde 31 de maio de 2022. No máximo do dia, a divisão americana chegou ao patamar de R$ 4,8299, enquanto o mínimo foi de R$ 4,7600. Perto das 17h, o dólar futuro para julho exibe depreciação de 0,92%, a R$ 4,7845. A liquidez na sessão esteve mais baixa, com o giro dos contratos no horário acima em 137,5 mil, abaixo da média das últimas cinco sessões para o mesmo horário, de 256 mil.
Hoje, o real se descolou dos pares e apresentou o melhor desempenho entre 33 moedas mais líquidas complementares pelo Valor . Como ilustração, o dólar recuou 0,90% ante o real, enquanto caiu apenas 0,17% frente ao rand sul-africano, a segunda melhor performance perto do fechamento.
O estrategista-chefe do Banco Mizuho para América Latina, Luciano Rostagno, lembra que, com os mercados fechados nos Estados Unidos, o número de negócios cai. “Qualquer análise hoje precisa ser feita com cautela porque sem os investidores americanos, a liquidez fica mais baixa; sem o mercado de Tesouro ficar sem um componente importante para os movimentos. Então podemos ter movimentos mais bruscos.”
De todo modo, ao olhar para o comportamento das moedas pares e a performance do real, Rostagno aponta que houve uma discrepância. “A média das moedas emergentes esteve do lado contra o dólar. Então os sentimentos de sensação do real permaneceram totalmente dependentes de fatores domésticos. Não teve um componente externo favorecendo essa valorização”, diz. “Me parece mesmo que há um otimismo com a economia do país.”
A sequência de dados apontou para uma consolidação do processo desinflacionário, o crescimento resiliente da economia e o encaminhamento de pautas dietéticas que buscam conter a evolução da dívida do país alimentaram a visão mais construtiva do Brasil nos últimos meses. Esse movimento levou o S&P a revisar na semana passada sua perspectiva de rating para o Brasil, de estável para positiva.
Diante disso e do cenário externo também favorável, as instituições financeiras e a consultoria passaram a revisar suas projeções para o câmbio neste e nos próximos anos. No fim de semana foi a vez do Goldman Sachs revisar sua previsão. Na leitura dos profissionais do banco americano, embora uma pequena depreciação possa ocorrer após uma forte valorização recente, o real ainda tem espaço para seguir “porque ainda é negociado cerca de 10% barato para o nosso valor justo estimado de em torno de R$ 4 ,30.” Sua estimativa para o fim deste ano saiu de R$ 4,85 e foi para R$ 4,40 .
Na esteira dessas revisões, hoje o relatório Focus, do Banco Central, mostrou também uma leitura mais otimista sobre o câmbio, mas também sobre a resistência e sobre o crescimento . No caso da moeda, o documento indicava uma revisão para baixo do dólar no fim deste ano, de R$ 5,10 da semana passada para R$ 5,00 agora.
Também nesse cenário, a volatilidade implícita de 30 dias das opções do dólar/real caiu para o seu menor patamar desde o início de 2020, antes da pandemia. Essa volatilidade é uma forma de medir o risco do câmbio, conforme explica o diretor da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt. “Ela acompanha a volatilidade realizada e projeta para o futuro. Então se o mercado acredita que o cenário vai ficar mais tranquilo ou está vivendo um ambiente mais calmo, a volatilidade implícita fica menor”, afirma. “É um menor prêmio de risco. Em geral ocorre quando vemos uma valorização do real.” A volatilidade implícita de 30 dias, ainda segundo Weigt, está hoje em torno de 12,8%, menor patamar desde fevereiro de 2020.
Se um ambiente mais calmo com moeda protegida do real pode levar a uma menor volatilidade, esta também pode criar uma perspectiva de menor risco e tornar a mais atrativa, dando início a um círculo virtuoso. “É aquela máxima: ‘o que vem primeiro? O ovo ou a galinha?’ É claro que não é sempre que isso ocorre, vai depender também do carrego da moeda e de quanto ela está desvalorizada. Podemos ver a volatilidade continuar caindo, mas o dólar não necessariamente se mantendo em queda”, ainda segundo Weigt.
Valor Economico