Eletrificação da frota de veículos do Brasil é um movimento sem volta
“O futuro do setor automotivo no mundo é a eletrificação, principalmente no Brasil”. A afirmação é do presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico, Ricardo Bastos. Segundo dados divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), os veículos elétricos no Brasil serão responsáveis por 32% a 62% da frota até 2035.
As vendas também só aumentam no setor. O país vendeu 91.927 veículos com algum tipo de eletrificação em 2023, o que representa um aumento de 91% na comparação com 2022, de acordo com os dados divulgados pela Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Para Ricardo Bastos, o principal meio para o país conseguir alcançar uma matriz energética limpa em toda a frota nacional são os veículos elétricos plug-in.
“Os plug-ins também são interessantes, ainda mais no Brasil, um país continental e gigante. Eles ajudam mais a transição para quem já está chegando no elétrico para resolver realmente algumas dúvidas que às vezes se tem sobre o carro elétrico. Às vezes são ligados principalmente à recarga. É o meio entre o 100% elétrico e o 100% a combustão. Por enquanto, vamos começar nos híbridos, nos híbridos leves, mas logo mais vão ter elétricos também. A maioria da frota do Brasil vai ser eletrificada, esse movimento não tem mais volta”, disse em entrevista ao Band.com.br.
Com o crescimento da frota, o país precisa expandir os pontos de recarga para permitir viagens mais longas e seguras com o veículo elétrico. Para Bastos, essa expansão vai ser gradual e exponencial da eletrificação, começando em polos estratégicos pelo Brasil.
“Crescimento sustentável, contínuo e até exponencial da eletrificação. A base ainda é pequena, mas ela vem crescendo. Então, a cada ano isso vem agregando a frota circulante, que está muito concentrada ainda em algumas regiões do Brasil. Sempre que você vai investir em uma unidade de carregadores rápidos, você tem que ter o retorno. Não vai colocar eles em qualquer lugar, mas você tendo a concentração no sul, principalmente Santa Catarina, hoje é um polo, Brasília, São Paulo, Rio, isso gera um retorno no investimento, para aí expandir para todo o território”, acrescentou.
Além do crescimento dos pontos de recargas, o objetivo da indústria nacional é a produção de uma bateria elétrica 100% brasileira. O Brasil exporta quase toda a matéria-prima para a produção das células dos veículos e importa as baterias já prontas.
“Esse é o nosso objetivo na ABVE. Montar as baterias no Brasil, a gente quer montar as baterias aqui. A gente traz todas as peças da China e montamos a bateria aqui no Brasil. Só que a gente quer construir a bateria inteira aqui. Para quem está procurando produzir veículo aqui no Brasil ele quer usar bateria brasileira. Você ganha em termos de logística, imposto, é só benefício. Isso é uma oportunidade que vai se desenvolver ao longo dos anos, é uma matéria-prima que vai continuar sendo exportada por alguns anos, mas o objetivo é tornar a produção local”, comentou.
Eficiência e economia dos carros elétricos
Para Bastos, os carros elétricos são uma alternativa muito mais eficiente para os deslocamentos urbanos. Para a população que usa apenas o veículo para trabalhar, gastos como a gasolina, troca de óleo e algumas manutenções básicas são desnecessárias e que até mesmo os carros de aluguel são uma alternativa para economizar.
“Qual é a vantagem que você passa a ter com o elétrico em aplicativos e aluguel? Primeiro, você retira ou diminui o investimento inicial. Você passa a ter financiamentos e paga o carro parcelado. Segundo, a manutenção do carro elétrico é muito menor. O abastecimento, por exemplo, ele vai gastar muito menos do que ele gastaria num carro de combustão e não precisa trocar óleo. Então a gente tem essa oportunidade, tem oportunidade dos carros de transporte, principalmente de curta distância”, comentou.
A importância do Brasil para a transição energética
“É importante a gente ressaltar essa matriz energética que o Brasil possui. A nossa energia limpa, hidrelétrica, solar, eólica, biocombustíveis, biomassa, a gente possui tudo isso. O que faltava? Faltava a gente poder utilizar isso no transporte, poder usar essa nossa matriz energética e substituir. A oportunidade da eletrificação, ela vem fazer esse complemento, que é pegar essa energia que o Brasil tem e utilizar nos veículos. Juntar tudo isso e mostrar para o mundo o nosso potencial na transição energética”
Dificuldades do setor
“O imposto de importação, ele impactou, sim, ele está impactando. A gente não consegue ainda ver isso, porque as vendas estão crescendo. Parece que ele não teve, mas ele teve impacto. Ele desestimulou algumas empresas que estavam se preparando para anunciar projetos no Brasil. Por outro lado, a gente sabe que aqui no Brasil a gente também tem que se preparar para isso. Então a gente sabe lidar com alterações, principalmente por decisões governamentais”
Outro ponto que não agiliza o crescimento da frota elétrica no país são as tributações e os impostos que vão na contramão do caminho sustentável que o Brasil quer seguir. Atualmente, veículos com mais de 20 anos em São Paulo, por exemplo, não pagam mais o IPVA. Para o presidente da ABVE, Ricardo Bastos, é preciso mudar como o imposto é cobrado, focando em quanto o veículo polui e não pela idade.
“A tributação ela deve considerar o conceito de eficiência energética e obviamente o resultado disso é menos poluição. Descarbonizarão, esse tem que ser o conceito da tributação, não deve ser idade, porque o carro ficou velho e não precisa mais pagar, não é isso, pelo contrário, se ele emitir mais poluentes, se ele é menos eficiente, ele tem que pagar até mais imposto. Essa tem que ser a lógica”, disse.
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