Em delação, Mauro Cid diz que Jair Bolsonaro consultou comandantes militares sobre a possibilidade de um golpe

O tenente-coronel Mauro Cid disse à Polícia Federal que o então presidente Jair Bolsonaro discutiu com os comandantes das Forças Armadas a possibilidade de um golpe militar. A afirmação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro na delação premiada foi revelada em reportagem do jornal “O Globo”.

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou que a revelação causa constrangimento, mas que um golpe nunca interessou às Forças Armadas.

As informações foram publicadas na coluna da jornalista Bela Megale, de “O Globo”. De acordo com o jornal, Mauro Cid disse que, em 2022, o ex-presidente, Jair Bolsonaro se reuniu com a cúpula das Forças Armadas e ministros da ala militar para discutir detalhes de uma minuta que abriria a possibilidade para uma intervenção militar. Se tivesse sido colocado em prática, o plano de golpe impediria a troca de governo no Brasil.

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel, Mauro Cid, falou em em depoimento na delação premiada, fechada com a Polícia Federal. De acordo com a reportagem, o militar afirmou aos investigadores que participou da reunião.

Mauro Cid relatou ainda, segundo o jornal, que o “então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos, teria dito a Bolsonaro que sua tropa estaria pronta para aderir a um chamamento do então presidente”. Já o comando do Exército afirmou que não embarcaria no plano golpista.

O almirante Almir Garnier dos Santos foi exonerado do comando da Marinha no dia 30 de dezembro de 2022. Em uma quebra de protocolo, Garnier não compareceu à cerimônia de posse do sucessor, o atual comandante da força, Marcos Sampaio Olsen, no dia 5 de janeiro.

Agora, a Polícia Federal investiga se o documento apresentado no encontro com os comandantes militares relatado por Mauro Cid é a mesma minuta encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que sugeria a convocação de uma nova eleição e até a prisão de adversários por supostas irregularidades.

O ministro da Defesa afirmou que soube das informações pela imprensa. José Múcio Monteiro disse que vai conversar com os atuais comandantes durante a semana e que quer tudo esclarecido.

“São pessoas que estão na reserva, os citados. Nós desejamos muito que tudo seja absolutamente esclarecido. Precisamos desses nomes. Evidentemente que constrange esse ambiente que a gente vive, essa áurea de suspeição coletiva nos incomoda. Mas essas declarações, essas coisas que saíram hoje, são relativas ao governo passado, a comandantes do passado, não mexe com ninguém que está na ativa”, afirmou Múcio.
Ainda de acordo com o ministro, planejamento de um possível golpe nunca interessou ás Forças Armadas como um todo.

“Uma coisa eu tenho absolutamente certeza cristalina é que o golpe não interessou em momento nenhum às Forças Armadas. São atitudes isoladas de componentes das Forças”, disse.
Mais tarde, o ministro disse que os culpados serão punidos.

“Nós, das Forças Armadas, vamos querer punir os culpados. Não tenha dúvida nenhuma. As Forças Armadas estão absolutamente tranquilas. Evidentemente que existem casos ou existiram casos isolados e nós estamos querendo o nome dos culpados para que esse manto de suspeição não caia em cima de todo mundo”, afirmou.
Em nota, a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que durante todo o seu governo jamais compactuou com qualquer movimento ou projeto que não tivesse respaldo em lei, ou seja, sempre jogou dentro das quatro linhas da Constituição Federal; e que jamais tomou qualquer atitude que afrontasse os limites e garantias estabelecidas pela Constituição e, via de efeito, o Estado Democrático de Direito; e reitera que adotará as medidas judiciais cabíveis contra toda e qualquer manifestação caluniosa, que porventura extrapolem o conteúdo de uma colaboração que corre em segredo de Justiça, e que a defesa sequer ainda teve acesso.

Também por nota, o Exército disse que a Força não se manifesta sobre processos apuratórios em curso, pois esse é o procedimento que tem pautado a relação de respeito do Exército Brasileiro com as demais Instituições da República; que o Exército vem acompanhando as diligências realizadas por determinação da Justiça e colaborando com todas as investigações; e, por fim, que cabe destacar que a Força pauta sua atuação pelo respeito à legalidade, lisura e transparência na apuração de todos os fatos que envolvam seus militares.

A Marinha esclareceu que não teve acesso ao conteúdo de delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid; que não se manifesta sobre processos investigatórios em curso no âmbito do Poder Judiciário.

De acordo com a nota, consciente de sua missão constitucional e de seu compromisso com a sociedade brasileira, a Marinha, instituição nacional, permanente e regular, reafirma que pauta sua conduta pela fiel observância da legislação, valores éticos e transparência. A Marinha reitera, ainda, que eventuais atos e opiniões individuais não representam o posicionamento oficial da Força e que permanece à disposição da Justiça para contribuir integralmente com as investigações.

O tenente-coronel Mauro Cid já deu pelo menos três depoimentos para a Polícia Federal, somando mais de 23 horas. No dia 9 de setembro, a delação foi homologada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF – Supremo Tribunal Federal.

No mesmo dia, Moraes determinou que Mauro Cid fosse colocado em liberdade. O militar estava preso desde maio, acusado de fraudar o cartão de vacinas de Jair Bolsonaro.

A defesa de Mauro Cid disse que os depoimentos são sigilosos e que, por isso, não confirma o conteúdo.

G1

Postado em 22 de setembro de 2023