Empresário suspeito de garimpo ilegal é contratado pelo Exército para serviço no Território Ianomâmi

O Exército contratou, em março deste ano, o serviço de um empresário suspeito de participar de um esquema de garimpo ilegal na Terra Indígena Ianomâmi.

Rodrigo Martins Mello, conhecido como Rodrigo Cataratas, é alvo da Polícia Federal em investigações que apuram o financiamento da atividade irregular em área de proteção. Ao mesmo tempo, sua empresa, a Cataratas Poços Artesianos, recebeu R$ 185 mil para perfurar poços artesianos na região.

A contratação foi revelada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” e confirmada pelo “O Globo”.

Presença de infratores na terra ianomâmi
O Ministério Público Federal de Roraima (MPF-RR) solicitou à Justiça Federal a suspensão da contratação e proibição de acesso dos envolvidos ao território. Segundo o MPF, a presença da empresa no local teria “o potencial de ser utilizada como tentativa de conferir legitimidade à manutenção da presença de infratores” na terra ianomâmi.

No pedido, o MPF diz que os investigados pela PF ajudavam a manter os grupos ilegais de garimpo no estado, fornecendo o transporte de combustíveis e operações irregulares com aeronaves. A empresa contratada pelo Exército, segundo a Procudoria, também teria promovido a extração de minérios em regiões da terra ianomâmi e comercializado.

Contratação pelo Exército
A contratação foi feita pelo 6º Batalhão de Engenharia de Combate, do Comando Militar da Amazônia, do Exército, para aumentar a quantidade de água disponível no 4º Pelotão Especial de Fronteira durante a operação de socorro aos indígenas na região de Surucucu. A empresa foi escolhida por cobrar o menor preço e, de acordo com o Exército, não cabia à unidade analisar os problemas judiciais de “eventuais proprietários da Cataratas”.

O juiz Rodrigo Mello decidiu que a Cataratas deve se retirar do local após o término da perfuração dos poços artesianos, “sem prejuízo da execução do objeto dos contratos firmados”.

Crimes e inquéritos de Rodrigo Cataratas
Rodrigo Cataratas foi indiciado em cinco inquéritos da PF que tratam sobre lavagem de dinheiro, associação criminosa, crime ambiental, usurpação de matéria-prima da União, exploração ilegal de ouro na terra ianomâmi e outros crimes correlacionados. Em 2021, nove aeronaves que estavam em nome de suas empresas, além de peças usadas para montar os chamados helicópteros “frankenstein” utilizados no garimpo, foram apreendidas pela PF e o Ibama.

Uma das empresas da qual é dono, a Tarp – Táxi Aéreo Ltda., já havia sido contratada pelo governo no passado. A firma recebeu R$ 29,1 milhões em contratos com o governo federal assinados entre setembro de 2016 e dezembro de 2018, sendo a maioria com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

“O Globo” entrou em contato com a defesa da Cataratas Poços Artesianos para pronunciamento sobre o caso, mas não obteve retorno.

O GLOBO

Postado em 9 de maio de 2023