Energia offshore pode multiplicar PIB de cidades litorâneas, destaca Senai-RN

A instalação do primeiro parque eólico offshore do Brasil, com licença já aprovada pelo Ibama, deverá transformar a economia dos municípios litorâneos do Rio Grande do Norte. A planta-piloto será implantada a 20 quilômetros da costa de Areia Branca e, segundo o diretor do Instituto Senai de Inovações em Energias Renováveis, Rodrigo Mello, o impacto sobre a economia regional será comparável ao observado em cidades do interior que receberam parques eólicos em terra, mas em proporções ainda maiores.
“Nos municípios onde os parques terrestres foram instalados, o PIB cresceu mais de 40% em média. Agora imagine o efeito disso com investimentos que serão muito mais altos”, afirma Rodrigo.
A estimativa é de que a nova cadeia industrial offshore (em alto mar) multiplique por até sete vezes a movimentação financeira gerada pelos projetos onshore (na terra). Um parque terrestre considerado grande, com cerca de 400 megawatts, equivale a um pequeno parque offshore, que pode ultrapassar os 2 mil megawatts de capacidade instalada. “É uma revolução econômica que se inicia nos municípios costeiros, de São Miguel do Gostoso a Tibau, mas a cadeia logística vai espalhar os efeitos pelo estado todo”, disse Rodrigo.
Os investimentos esperados envolvem fornecedores de equipamentos, engenharia especializada, serviços navais e infraestrutura portuária, entre outros setores. Segundo Rodrigo, o modelo proposto pelo Senai prioriza o conteúdo nacional, o que significa atrair desenvolvimento industrial local. “Não queremos apenas hospedar equipamentos fabricados no exterior. O nosso projeto prevê soluções tecnológicas adaptadas à realidade brasileira e desenvolvidas aqui, desde o início”.
Além da geração de energia em larga escala, o projeto deverá transformar a dinâmica econômica de cidades com pouca diversificação produtiva. “São municípios instalados tipicamente no semiárido, com oportunidades econômicas limitadas. O que vamos ver é uma mudança de patamar. É como se fosse um novo ciclo industrial, mas com energia limpa e de grande porte”, concluiu Rodrigo.
A licença prévia do Ibama, concedida ao projeto coordenado pelo Senai, marca o início da fase de engenharia, com duração prevista de até 18 meses. Em seguida, haverá mais um período de aproximadamente um ano e meio para a instalação da planta-piloto. A expectativa é que o parque esteja em operação em até três anos.
Novo parque eólico no mar pode gerar até 10 vezes mais empregos que usinas em terra
A implantação de usinas eólicas offshore tem potencial para criar dez vezes mais empregos que os parques tradicionais em terra, segundo dados internacionais utilizados pelo Instituto Senai de Energias Renováveis. Para o diretor do instituto, Rodrigo Mello, o Estado pode se tornar líder nacional na nova indústria de energia marítima, com reflexos diretos na geração de empregos de alta qualificação. “É uma indústria que exige muito mais gente, tanto na fase de construção quanto na de operação. Isso já foi comprovado em experiências no Mar do Norte e no Mar da China”, afirmou.
De acordo com Rodrigo, o parque offshore a ser construído a 20 quilômetros da costa de Areia Branca deverá empregar equipes em diversas frentes, com demanda por profissionais especializados em engenharia naval, logística portuária, robótica, operação de drones, estruturas subaquáticas, soldagem de precisão, entre outras funções. “Não é apenas a quantidade de empregos, é também a qualificação exigida. Por isso, já estamos antecipando a formação de mão de obra para não perder tempo”, explicou.
A Faculdade de Energias Renováveis e Tecnologias Industriais (Faeti), vinculada ao Senai-RN, lançará nos próximos meses a primeira pós-graduação do Brasil voltada exclusivamente à energia eólica offshore. O objetivo é garantir que os profissionais potiguares estejam prontos para ocupar os postos gerados com a nova cadeia industrial. “Em 2010, fizemos o mesmo movimento com a energia eólica terrestre. Agora estamos repetindo a fórmula com o offshore, porque sabemos que esse é o futuro”, disse Rodrigo.
Além de gerar empregos diretos, a cadeia de energia eólica marítima deve impulsionar setores como transporte marítimo, construção civil, metalurgia, tecnologia da informação e serviços especializados. “É muito mais do que colocar turbinas no mar. Estamos falando de uma nova indústria que pode transformar profundamente a economia do estado”, concluiu Rodrigo.
No mês passado, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu a primeira licença prévia para um projeto de energia eólica offshore no Brasil. Trata-se do Sítio de Testes de Aerogeradores Offshore, que será implantado no litoral do município de Areia Branca, no Rio Grande do Norte, com capacidade instalada de até 24,5 megawatts (MW).
Pioneiro no País, o projeto piloto, de responsabilidade do Senai-RN, por meio do Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), será executado em alto-mar, a uma distância de 15 a 20 quilômetros da costa, e prevê a instalação de dois aerogeradores – um de 8,5 MW e outro de 16 MW. Toda a energia gerada será destinada ao consumo interno do Porto-Ilha, contribuindo para sua autossuficiência energética e a redução do uso de combustíveis fósseis.
Mais do que um empreendimento de geração de energia, o Sítio de Testes tem como missão contribuir com o desenvolvimento científico e tecnológico nacional, funcionando como projeto-piloto. A iniciativa visa adaptar tecnologias offshore às condições ambientais brasileiras, promover inovação no setor elétrico, qualificar mão de obra local e impulsionar o desenvolvimento econômico, social e ambiental da região.
A emissão da licença prévia atesta a viabilidade ambiental do projeto em sua fase de planejamento, condicionada ao cumprimento dos requisitos estabelecidos pelo Ibama para as próximas etapas do licenciamento.
agora rn