Esquema ligado a ex-nora de Lula visava vender material para autistas

Postado em 9 de dezembro de 2025

O suposto esquema de corrupção que desviava recursos da educação em cidades do interior de São Paulo pretendia ampliar seu campo de atuação para comercializar materiais destinados a crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Alvo da Operação Coffee Break da Polícia Federal (PF), o grupo tinha vínculos com Carla Ariane Trindade, ex-nora do presidente Lula, e Kalil Bittar, ex-sócio de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha. Carla Ariane foi casada com outro filho do presidente, Marcos Cláudio Lula da Silva.

A denúncia, apresentada nesta sexta-feira (5/12) pelo Ministério Público Federal (MPF), mostra integrantes articulando a venda de “salas especiais” para inclusão de crianças neurodivergentes.

Conforme o MPF, a proposta foi feita pelo doleiro Eduardo Maculan, em fevereiro deste ano, como uma “oportunidade de negócio”. Ele sugere ao empresário André Mariano a oferta de materiais “neuro especiais”, como fone de ouvido e mordedor, para redes municipais de ensino.

Nas mensagens anexadas, Mariano, apontado como chefe do esquema, menciona levar o projeto “para cima”, em referência ao Governo Federal. Afirma a Maculan ter “bons caminhos” dentro do MEC, comandado pelo petista Camilo Santana.

A Polícia Federal acusa Mariano de pagar propina a pessoas com trânsito em Brasília para viabilizar iniciativas que favoreciam sua empresa. Carla Ariane e Kalil Bittar atuariam como intermediários abrindo portas em gabinetes.

“Dentro das prefeituras, a escala é pequena. Então, você sua a camisa, faz um mega, até mesmo um investimento, com salas e tudo mais, e obtém uma fração pequena de atendimento. Muitas vezes, eu acho que o custo não retorna. O que pode acontecer é levar para cima, para o federal. Porque o MEC, uma vez que abraça um projeto, pulveriza para o Brasil inteiro. Então você sai do varejo e vai para o atacado, entende? E a gente tem bons caminhos ali”, disse André Mariano em mensagem citada pelo MPF.
O Metrópoles já mostrou que a organização é acusada de oferecer livros e kits robóticos superfaturados à rede pública. Segundo a PF, a empresa pagou 35 vezes o valor de aquisição da mercadoria. A companhia de Mariano teria faturado R$ 111 milhões apenas com o fornecimento de material escolar para quatro prefeituras.

A defesa de André Mariano nega que ele comande a estrutura enquanto a de Kalil Bittar afirma que os valores recebidos não apresentam irregularidades (ver notas abaixo).

Organização se reuniu com ministro do governo Bolsonaro
A acusação do MPF revela que o grupo possivelmente mantinha interlocução com o poder público desde o governo Jair Bolsonaro (PL).

Em abril de 2023, André Mariano e o doleiro Abdalla Dares estiveram com o então ministro do Trabalho e Previdência Social, José Carlos Oliveira, para discutir negócios e possíveis contratos com órgãos federais.

Após o encontro, Mariano escreveu a Abdalla:

“(…) ontem fui jantar com a galera do Oliveira… todos gente boa e fui muito bem recebido e integrado pelo ministro. Caminhos iniciados”.
O que dizem as defesas
A defesa de Kalil, representada por Roberto Bertholdo, nega que ele tenha recebido recursos como “mesada” e sustenta que o empresário prestou serviços a Mariano. Kalil é irmão de Fernando Bittar, um dos donos do sítio de Atibaia, investigado na Lava Jato.

Os advogados de André Mariano, Silas Gonçalves, Matheus Bottene e Lemuel Zem, afirmam que ele “não cometeu os crimes que lhe foram imputados e não integra – muito menos lidera – qualquer organização criminosa. Isso será seguramente demonstrado ao longo da instrução processual”, além de ressaltar que “os esclarecimentos detalhados serão apresentados exclusivamente nos autos, em estrita observância às normas legais voltadas à tutela da intimidade dos envolvidos e à preservação do sigilo processual”.
O Metrópoles não localizou os demais citados.

Metrópoles