Estudantes do RN farão intercâmbio inédito na Nasa
As barreiras implementadas pela distância e pela desigualdade podem ser desfeitas por meio da educação. Alunos egressos da Instituto Federal do Rio Grande do Norte, Ruan Cordeiro e Marília Rangel foram selecionados para conhecer a Agência Espacial Americana (Nasa), responsável pela exploração e pesquisa espacial. O intercâmbio, que irá durar dez dias, foi conquistado após a dupla potiguar vencer o desafio Pale Blue Dot Challenge, que consista na elaboração de uma visualização dos dados disponibilizados pela própria agência para contribuir com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A competição contou com a participação de 1.500 pessoas espalhadas por todo o mundo.
Ruan e Marília participaram do projeto H2Plástico, com o objetivo de pesquisar locais com alto risco de contaminação por ingestão de microplásticos. No projeto, eles utilizaram dados de satélites para analisar a concentração de microplásticos a fim de construir gráficos e um relatório detalhado sobre a temática. Formado em computação pelo instituto no fim do ano passado, Ruan explicou que o documento elaborado durante mostrava dados referentes a Costa Brasileira. “Falamos, por exemplo, dos impactos destes resíduos na população de Natal, da Bahia. Mostramos os problemas e também as soluções”, afirmou.
A jornada que levará a dupla à Nasa em agosto deste ano começou de maneira simples. Natural da cidade de São Pedro, Ruan contou que teve uma origem simples e com poucos recursos que o levassem a se interessar pela programação, área na qual realiza projetos. Ele relatou que o desejo de conhecer outros países parecia um sonho impossível, considerando as condições simples de sua família e o contato tardio com a tecnologia.
Ruan contou, apesar de sempre ter se interessado pela computação, o primeiro contato dele com a internet ocorreu apenas no fim do ensino fundamental. “Oportunidade tinha o significado de escasso para mim. Eu não via tanto isso, e quando havia, eu sempre dava o meu melhor. Mesmo assim, a ideia de ter uma experiência intercultural parecia impossível, principalmente para alguém de baixa renda e do interior “, relatou. Ao entrar no IFRN, o então estudante aprendeu a programação e ingressou no programa Jovens Embaixadores, o qual possibilita que estudantes visitem o Estados Unidos em um intercâmbio de curta duração.
Foi neste projeto que Ruan conheceu Marília Rangel, no ano de 2023. Ela relatou que a possibilidade de conhecer o exterior também eram remotas para ela. Com uma base educacional advinda da rede municipal de ensino, o caminho para seu futuro já estava traçado, e não cruzaria a fronteira do país. “Eu iria fazer a escola, o ensino médio, superior e iria trabalhar. Eu não tinha noção que meu caminho poderia ter tantas vertentes”, disse. Após conseguir ingressar o IFRN e passar pelo curso técnico de mecatrônica e ajudar no desenvolvimento de projetos, Marília conheceu o programa de intercâmbio. Apesar de não acreditar que poderia conseguir, ela se inscreveu e conseguiu ingressar.
A entrada nos Jovens Embaixadores proporcionou a realização do sonho que ambos tinham em comum. No ano passado, Marília visitou o estado estadunidense do Alabama. Já Ruan foi até o estado de Michigan. Nestas regiões, eles conheceram universidades e centros educacionais. Porém, mesmo após terem ido a outro país, os estudantes consideram esta viagem de intercâmbio um evento especial. Além da programação vasta, que englobará também a interação com professores que integram a agência espacial, bem como a própria estrutura, eles irão conhecer a cidade de Washington, capital estadunidense. Ali, eles irão conhecer políticos ligados ao trabalho de exploração espacial.
Toda a jornada, na visão dos jovens embaixadores, simboliza uma transição para a maturidade e também fortalece, em si mesmos, o sentimento de reconhecimento, por meio de um projeto com aprovação internacional. “A maior parte das outras equipes eram formadas por pessoas que já trabalhavam com dados, em grandes empresas. Vamos entender como funcionam as missões da Nasa e também como ocorrem as contribuições deles para a sociedade. Argumentar sobre nosso projeto naquele momento será uma experiência enriquecedora”.
Tribuna do Norte