Falso leilão: mentor que fugiu para os EUA entra na lista da Interpol
Apontado como mentor e chefe da quadrilha que aplicou golpes contra vítimas de todo o país por meio da criação de sites falsos de leilões de carros, Lucas Fernando Simões (foto em destaque) entrou na lista de procurados da Interpol. Ele conseguiu escapar na véspera da operação contra o bando, fugindo para Miami (EUA).
O mentor do crime agora faz parte da chamada “difusão vermelha”, que é o meio jurídico pelo qual um mandado de prisão preventiva expedido pelo Brasil pode ser cumprido em qualquer um dos 195 países membros da polícia internacional.
Segundo a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), a inclusão na difusão vermelha é uma medida excepcional de difícil obtenção, só publicada após a verificação da conformidade pelo escritório central da Interpol em Lyon, na França.
Lucas foi apontado como mentor do esquema desarticulado por equipes da 9ª Delegacia de Polícia (Lago Norte), com apoio operacional da Polícia Civil de São Paulo (PCSP), em 25 de abril.
Os policiais cumpriram 12 mandados de prisão, 10 de busca e apreensão, além de 50 ordens judiciais para bloqueio de contas bancárias e derrubada de 540 domínios de sites falsos. Ao todo, 61 pessoas envolvidas no esquema foram indiciadas.
A coluna não localizou a defesa de Simões. O espaço segue aberto.
Falsos leilões
O grupo criminoso operava havia ao menos cinco anos, segundo a polícia. No esquema, os criminosos selecionavam sites reais de famosas empresas do ramo de leilão de veículos, clonavam esses portais e criavam outros idênticos, por meio de troca da extensão do endereço eletrônico. Os verdadeiros terminavam em “com.br”, enquanto os clonados tinham nome e aparência iguais, mas a terminação “.net”.
Depois de clonar os sites, os criminosos pagavam para empresas de marketing digital impulsionarem os endereços falsos em mecanismos de pesquisa como o Google.
Assim, quando uma pessoa procurava pela empresa real, nos primeiros resultados da lista de pesquisa aparecia o site clonado, não o verdadeiro. Induzido ao erro, o público acessava o portal falso e conversava com os criminosos envolvidos via WhatsApp até fazerem os depósitos dos lances para os leilões.
Falsas notas de arrematação eram enviadas para os clientes, que só percebiam o truque meses depois, quando o carro arrematado nunca era entregue. Nessa oportunidade, porém, não conseguiam mais resposta, pois os criminosos haviam bloqueado o número.
Brasão do TJDFT
O escritório do crime ficava em uma sala alugada em um prédio comercial de Santo André, alvo das buscas em 25 de abril. Os criminosos batiam ponto das 8h às 18h no local, período em que davam golpes em vítimas de todo o Brasil, como se fossem uma empresa legítima.
Os investigadores conseguiram mapear cerca de 540 sites maliciosos mantidos “em estoque” pela mesma quadrilha. Depois de ter o mesmo nome falso envolvido em muitos golpes, a respectiva empresa começava a ficar “queimada” em portais de reclamação. Então, esse endereço era retirado do ar e um novo, de uma firma ainda desconhecida, era inserido na internet.
Em muitos dos sites, até o brasão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) era usado indevidamente, para dar credibilidade e fazer parecer que a plataforma falsa tinha autorização para atuar na área.
“Só na 9ª DP foram registradas 10 ocorrências com prejuízos somados em R$ 470 mil. Estima-se, todavia, que existam centenas de outras vítimas espalhadas por todo o território nacional. Nesta manhã [de 25/4], em cumprimento a ordem judicial, a PCDF [Polícia Civil do Distrito Federal] derrubou todos os 540 sites maliciosos, bem como os demais serviços de hospedagem que o grupo tinha contratado em data centers [centrais de processamentos de dados]”, detalhou o delegado Erick Sallum.
Além dos mandados de prisão, busca e apreensão, os investigadores bloquearam diversas contas bancárias e apreenderam veículos, inclusive um jet-ski, “com a finalidade de reverter os valores em benefício das vítimas”, segundo Sallum.
Lavagem de dinheiro
A investigação também conseguiu mapear um laranjal de contas bancárias em mais de 10 instituições financeiras diferentes. Os criminosos usavam múltiplas contas correntes para receber os valores das vítimas e, depois, fragmentavam-nos em diversas transferências subsequentes, o que dificultava o rastreio das quantias.
A maioria das contas tinham como titulares moradores de comunidades do Rio de Janeiro. Para a polícia, essa foi mais uma estratégia dos criminosos na tentativa de direcionar a investigação para o estado, quando, na verdade, as atividades da quadrilha tinham São Paulo como sede.
Todos os envolvidos, desde os “conteiros” – pessoas que alugam contas bancárias –, até os envolvidos de “níveis mais altos”, inclusive os mentores intelectuais do esquema, tiveram a relação com o golpe comprovada e foram indiciados pelos crimes de participação em organização criminosa, lavagem de dinheiro e fraudes eletrônicas. Somadas, as penas pelos delitos podem passar dos 30 anos de reclusão.
Metrópoles