“Fui chamada de vagabunda. Deus me deu um novo começo”, afirma Micarla

Micarla de Sousa passou dois anos trancada em casa, consumindo remédios de tarja preta, com medo de sair na rua e vergonha de ser vista. O trauma, segundo ela, começou logo após ser afastada da Prefeitura do Natal, em meio ao processo mais violento de assassinato de reputação que já viveu. A ex-prefeita contou, durante entrevista ao programa Politicando, da rádio 98 FM, que chegou a ser hostilizada publicamente enquanto estava com os filhos dentro do carro. “Estava parada no shopping, e quando reconheceram meu rosto, começaram a gritar: bandida, vagabunda, Micarla vadia. Meus filhos eram pequenos. Eu não consegui reagir. Eu só queria voltar para casa.”
A jornalista e ex-gestora municipal narrou em detalhes o colapso emocional que viveu após o afastamento do cargo e o acúmulo de 33 processos judiciais, todos vencidos ao longo dos últimos anos. “Passei dois anos sem sair de casa. Entrei numa depressão profunda. Minha empresa estava falida. A gente vendeu tudo para poder comer, vestir, sobreviver. E ainda assim, diziam que eu tinha hotel em Portugal. Que loucura é essa? Eu não tinha nem dinheiro para comprar bife.”
Segundo Micarla, foi a fé que a salvou. Ela atribui ao encontro com a espiritualidade o renascimento pessoal. Tornou-se missionária e, por algum tempo, atuou apenas na Paraíba, por medo de enfrentar o público do seu estado natal. “Eu me sentia uma leprosa. Eu tinha medo de andar no Rio Grande do Norte. Medo de alguém me reconhecer e fazer alguma coisa comigo.” O retorno veio por meio de missões cristãs, até que sentiu-se fortalecida para voltar a falar publicamente. “Hoje, se eu falo com autoridade, é porque eu conheço o fundo do poço. E conheci também quem me tirou de lá.”
Durante a conversa, Micarla relembrou momentos duros da gestão como prefeita de Natal entre 2009 e 2012, incluindo seu papel na candidatura da cidade à Copa do Mundo de 2014. Contou que foi ela quem assinou a proposta de Natal como sede, num momento em que todos os outros gestores diziam ser impossível competir com Recife, Salvador e Fortaleza. Ela afirma ter conseguido R$ 2,5 bilhões em obras para a capital potiguar e que sua participação ativa incomodou setores políticos. “Minha tia me disse no dia da festa da Copa: ‘Você acabou de assinar seu atestado de morte política’. E, de fato, dias antes da maior licitação da Copa, fui afastada.”
A ex-prefeita fez questão de afirmar que a gestão deixou marcas concretas na cidade. Cita quatro UPAs viabilizadas com apoio do ministro José Gomes Temporão, 57 CMEIs em tempo integral, 26 mil servidores com plano de cargos e salários e a entrega de 3.500 moradias. “Falam do buraco, mas não falam das obras. Falam das denúncias, mas eu venci 33 processos. Um por um. O que restou disso tudo? Fake news. Mentiram que eu comprei hotel na Europa, que eu fugi, que virei milionária. E eu só queria viver em paz.”
Hoje, Micarla se apresenta como missionária do “Partido do Reino de Deus”. Diz que não tem planos políticos, mas admite que política é uma vocação que nunca se abandona. “Como dizia meu pai, não existe ex-político. Existe político sem mandato. Mas a única ficha de filiação que assinei agora está lá no céu.”
Ela também falou sobre o legado familiar e relembrou com emoção os ensinamentos do pai, o ex-senador e fundador da TV Ponta Negra, Carlos Alberto de Sousa. Disse que a vida pública exige coragem para suportar injustiças. “A mentira é poderosa. Jesus foi crucificado com base numa mentira. Quem sou eu na fila do pão pra não sofrer também?”. Ao ser questionada sobre o que sentia ao olhar para trás, Micarla não hesitou. “Eu pensei em morrer. Mas hoje estou viva. Não apenas viva: estou de pé.”
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