Furto de cabos cresce no RN, impacta meio milhão de pessoas e pressiona custos da energia

O furto de cabos de energia elétrica tem se consolidado como um dos principais desafios para o sistema elétrico do Rio Grande do Norte. Dados da Neoenergia Cosern apontam que, de janeiro a julho deste ano, foram registradas 926 ocorrências, um aumento de 3% em relação ao mesmo período de 2024.
Os crimes já afetaram cerca de 178,2 mil clientes diretamente em 2025, e quando considerados os impactos indiretos, mais de meio milhão de pessoas no estado sentiram os efeitos das interrupções de fornecimento. A situação motiva reforço nas ações da empresa e maior rigor da legislação nacional.
As cidades da Costa Branca concentram os maiores registros de casos. Mossoró contabilizou 21 ocorrências, com 784 clientes atingidos. Em Areia Branca, foram 15 casos, que resultaram em 10.143 consumidores sem energia. Já em Ipanguaçu, 12 ocorrências afetaram 27 clientes, enquanto Guamaré e Macau tiveram nove registros cada, impactando 7.014 e 1.756 pessoas, respectivamente.
Além de provocar interrupções, os furtos acarretam gastos elevados para a distribuidora. Segundo Rafael Biondi, supervisor da Neoenergia Cosern, o problema é mais amplo do que os números sugerem. “Os prejuízos financeiros são altíssimos. Para você ter uma ideia, só no ano de 2024 a distribuidora desembolsou mais de 24 milhões de reais para fazer recomposição de rede devido ao furto. Então são impactos muito importantes, que acabam sendo repassados para o cliente na forma de fatura. Uma vez que a rede precisa ser recomposta, a distribuidora precisa investir esse dinheiro, e todo esse investimento é repassado para o consumidor na forma de pagamento de fatura”, afirmou.
O endurecimento da legislação federal foi um dos marcos recentes na tentativa de frear os crimes. Em julho, foi sancionada a Lei 15.181, que aumenta a pena de prisão para até 15 anos em casos de furto ou roubo de cabos de energia, telefonia, dados e transportes ferroviário e metroviário. Pela normativa anterior, o prazo máximo para casos de roubo era de 10 anos. A legislação ainda estende a punição a empresas contratadas pelo poder público que utilizem fios ou cabos furtados em serviços de telecomunicação.
Na visão da Neoenergia Cosern, o avanço da legislação pode contribuir para inibir os furtos. “A gente observa que a justiça tem sido mais dura com os casos de furto de condutores, principalmente quando esses furtos impactam clientes importantes. Nossa expectativa é que, daqui para frente, com a atuação do Governo do Estado e da segurança pública, haja redução do volume da criminalidade no furto de condutores”, declarou.
Para além do endurecimento legal, a Neoenergia Cosern tem buscado alternativas tecnológicas. Desde maio, a empresa iniciou a marcação química de cabos em regiões com maior incidência de furtos, como Mossoró, Tibau, Grossos, Areia Branca, Porto do Mangue, Macau e Guamaré. A medida consiste na aplicação de uma tinta inteligente que contém micropartículas de nanotecnologia integradas ao cobre, capazes de permanecer no material mesmo após corte, trituração ou derretimento. A identificação do metal permite rastrear a origem e fortalece as investigações contra a prática criminosa.
Biondi ressalta que o método tem potencial de ampliar a atuação conjunta com a polícia. “Estamos aplicando um produto nos condutores de cobre para que, caso esse condutor seja furtado, seja possível identificar que ele pertence à Neoenergia Cosern. Esse cabo pode ser cortado, pode ser derretido, mas esse produto químico, que é aplicado no condutor, permite que haja uma assinatura que mostra que ele é nosso, da Neoenergia Cosern. Isso também vai possibilitar chegar até as pessoas que estão furtando o cabo e vincular esse furto às ocorrências na rede da distribuidora”, explica.
Em paralelo, operações policiais têm resultado em prisões ligadas a esquemas de furto de fios na Costa Branca potiguar. No fim de agosto, a Polícia Civil prendeu, no Piauí, um homem apontado como líder de uma rede criminosa responsável por subtrações de cabos na região de Areia Branca. A ação, batizada de Operação Sem Divisa, reforçou a cooperação no combate a esse tipo de crime.
Diante disso, o supervisor da Cosern reforça a necessidade da participação popular no enfrentamento aos furtos. “Se alguém tiver conhecimento de algo, se na sua região estiver acontecendo alguma coisa do tipo, se faltar energia e houver desconfiança de que tem relação com furto, liga para a gente através do 116. Faz a denúncia também junto à Secretaria de Segurança, para que possamos apurar, enviar nossas equipes e trabalhar para restabelecer a energia o mais rápido possível e conter essa onda de crimes que impacta tanto a sociedade”, disse.
As denúncias podem ser realizadas também através da Polícia Civil, de forma anônima, através do Disque Denúncia 181.
TRIBUNA DO NORTE