‘Gonçalves Dias é um dos maiores amigos de Lula, não houve leniência’, diz Múcio

O ministro da Defesa, José Múcio, disse nesta sexta-feira (21/4) em Lisboa que “não concorda com a narrativa” de que o ex-ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) general Gonçalves Dias agiu com “ leniência”, pois “é um dos mais fiéis amigos do presidente Lula”.

GDias, como é conhecido, pediu a demissão do cargo na quarta-feira (19/4), após a divulgação de imagens que fizeram em xeque a atuação do órgão durante os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Foi a primeira queda de um ministro na atual gestão.

Lula e Gonçalves Dias são amigos de longa data. O militar chefiou a segurança do petista durante seus dois primeiros mandatos (2003-2010).

“Lamentei muito (a demissão), quero muito bem a ele. Não acordo com narrativa que houve leniência pois é um dos mais fiéis amigos do presidente Lula”, disse Múcio, que participa da comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que está viagem oficial a Portugal e Espanha.

Múcio, no entanto, sugeriu que a “fritura” de Gonçalves Dias começou antes da divulgação, pela CNN Brasil, de imagens do circuito interno da segurança durante a invasão da sede da Presidência da República que mostram uma ação colaborativa de agentes com golpistas e a presença de Gonçalves Dias no local.

“Depois daquele dia, 8 de janeiro, ficaram cicatrizes, e essas coisas foram acompanhando. Por fim, com o incorporaram esses vídeos, as coisas pioraram”, disse.

Nos vídeos obtidos pela CNN Brasil, os invasores são vistos recebendo água dos militares e cumprimentando agentes do GSI durante os ataques.

O próprio Gonçalves Dias circula pelo terceiro andar do palácio, na antessala do gabinete do presidente da República, enquanto os atos ocorriam no andar de baixo.

Em sua defesa, o general afirmou, em entrevista à Globonews, que sua estratégia no 8 de janeiro era conduzir todos os invasores para o segundo andar do Planalto, onde estariam presos.

Dias acrescentou considerar um “absurdo para a sua imagem” associado a um agente do GSI que optou por água aos vândalos; e que ele colocou sua carga à disposição, embora esteja “muito triste”, para que a investigação seja feita.

“Estou muito triste, coloquei minha carga à disposição do presidente da República para que toda a investigação seja feita”, disse.

Múcio afirmou que esteve com Dias na quinta-feira (20/4), antes da partida a Lisboa, e falou novamente com ele nesta sexta-feira (21/4).

Questionado pela BBC News Brasil sobre o teor da conversa, o ministro falou: “Torço muito que ele supere isso, porque ele é um homem de bem, um homem sério, bem-intencionado e amigo do presidente. Trabalhamos no primeiro governo. Foi bom para ele. Tem certeza de coisas que quando você precisa justificar muito, é melhor resolver de uma vez”.

Múcio também disse que intermediou um encontro entre Dias e o atual ministro interno do GSI, Ricardo Capelli, e que a conversa “correu bem”. Capelli é ex-interventor de segurança no Distrito Federal.

Questionado pela BBC News Brasil se o presidente Lula se sentiu “enganado”, uma vez que teria pedido reiteradas vezes ao general, sem sucesso, acesso às imagens, o ministro da Defesa afirmou que “interessa para nós da Defesa, do governo, da sociedade , que tudo seja absolutamente esclarecido”.

Múcio também deu a entender que Dias é inocente.

“Culpado tem que pagar por ter a suspeita que está em cima de inocentes. Se não, a gente não vai virar essa página, nunca. E nós precisamos virar essa página”, completou.

BBC

Postado em 21 de maio de 2023