Governador do RJ e Lewandowski anunciam cooperação contra o crime

Postado em 30 de outubro de 2025

Em coletiva na noite da quarta-feira (29), o governador Cláudio Castro e o ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil, Ricardo Lewandowski, anunciaram uma cooperação entre os governos estadual e federal para enfrentar o crime organizado no Rio de Janeiro, após uma operação policial que resultou na morte de mais de 100 suspeitos.

Cláudio Castro destacou a importância da união das forças para garantir segurança à população: “Independente de erros ou acertos, saímos daqui hoje com uma grande oportunidade”.

O governador também informou que o governo federal prontamente ofereceu apoio, com a criação de um Escritório Emergencial para o enfrentamento ao crime organizado e ações coordenadas com a Polícia Federal (PF) e Polícia Rodoviária Federal (PRF).

O ministro detalhou que será ampliado o efetivo federal no estado, intensificadas as operações de inteligência e realizadas ações conjuntas entre forças federais e estaduais. Sobre o Escritório Emergencial, Lewandowski explicou que a estrutura não será permanente, mas permitirá decisões rápidas até a superação da crise.

A ação das forças de segurança, realizada na terça-feira (28), deixou ao menos 119 mortos. Segundo a Secretaria de Segurança, 58 corpos foram encontrados no dia da operação e outros 61 localizados em uma mata nesta quarta.

Foram presos 113 suspeitos — 33 de outros estados — e apreendidos 10 menores. Os agentes recolheram 118 armas, incluindo 91 fuzis, além de explosivos e drogas.

Operação

A operação, considerada a maior da história do estado, teve como objetivo combater a expansão territorial do Comando Vermelho (CV) e prender lideranças criminosas que atuam no Rio e em outros estados. As forças de segurança tentam cumprir 100 mandados de prisão contra integrantes da facção, 30 deles em outros estados, com destaque para membros no Pará.

O confronto durou mais de 12 horas e causou vítimas entre agentes e moradores. Além de deixarem três moradores feridos com balas perdidas.

Após a ação, o dia nesta quarta-feira (29), amanheceu com corpos espalhados e enfileirados pela Praça São Lucas, no complexo da Penha. O ativista e líder comunitário Raull Santiago, relatou o drama vivido por moradores que sentiram “cheiros de pessoas mortas” pela comunidade. Santiago também afirmou que em outras partes da favela tinham corpos espalhados e pessoas chorando.

Castro considera que operação foi sucesso

O governador do Rio, Cláudio Castro, disse na quarta-feira (29) que a Operação Contenção foi um sucesso e que as únicas vítimas dos confrontos foram os policiais mortos.

“Temos muita tranquilidade de defender o que foi feito ontem. Queria me solidarizar com as famílias dos quatro guerreiros que deram a vida para libertar a população. Eles foram as verdadeiras quatro vítimas. De vítima ontem, só tivemos os policiais”, disse Castro em entrevista no Palácio Guanabara, sede do Executivo estadual.

“Quais são os indícios que levam a crer que todos eram criminosos? O conflito não foi em área edificada. Foi todo na mata. Não creio que tivesse alguém passeando na mata num dia de conflito. Por isso a gente pode tranquilamente classificar de criminosos”, acrescentou o governador.

Número de mortos

Cláudio Castro disse ainda que o número oficial de mortos na operação das polícias Civil e Militar nos complexos da Penha e do Alemão na terça-feira (28) é de 58 mortos, incluindo os dois policiais civis e os dois policiais militares. Ele não explicou o motivo da mudança da contagem oficial, mas disse que o dado oficial vai mudar “com certeza”.

Na terça-feira, o governo contabilizou 64 pessoas mortas, inclusive os quatro agentes das forças de segurança. O governador também não quis comentar sobre os cerca de 60 corpos retirados da área de mata pelos moradores do Complexo da Penha após a operação mais letal da história do estado.

O governador destacou que o estado do Rio é o epicentro do problema da segurança pública que “assola o Brasil”. “Mostramos ontem um duro golpe na criminalidade e que temos condições de vencer batalhas. Mas temos a humildade de reconhecer que essa guerra não será vencida sozinhos. Agora é momento de união e não de politicagem”.

Moradores do Rio de Janeiro viveram momentos de medo na terça-feira (28) diante da operação policial. Milhares de pessoas enfrentaram dificuldades para conseguir chegar em casa devido aos bloqueios das vias da cidade.

Muro do Bope

A operação nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio, na terça-feira (28), teve um planejamento de 60 dias e contou como chamado “Muro do Bope”, uma estratégia usada na área de mata anexa às favelas. Funcionou da seguinte forma: outros batalhões se posicionaram nas entradas das favelas e foram subindo, para “empurrar” os traficantes para a região sem moradias, e conhecida como rota de fuga dos criminosos. Chegando à área de mata, os traficantes encontraram um paredão formado por agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope).

O secretário de Polícia Militar, Marcelo Menezes, explicou que a ação foi planejada com análise de informações de inteligência e de cenários. O comandante da PM ainda disse que quem quis se entregar foi preso.

“Incluímos a incursão de tropas do Bope para a parte mais alta da Serra da Misericórdia criando um muro do Bope, fazendo com que os marginais fossem empurrados para a área mais alta pelas outras incursões. Nosso objetivo principal era proteger as pessoas de bem da comunidade. A maior parte do confronto se deu na área de mata, onde a nossa tropa estava disposta, e foi uma opção dos marginais”, diz ele.

Estratégia

A operação, que deixou ao menos 119 mortos, sendo 115 suspeitos de serem traficantes e quatro policiais militares e civis, foi detalhada pelas polícias nesta quarta-feira (29). Com 113 presos e 118 armas apreendidas, a operação é considerada o maior baque na história do Comando Vermelho.

“A operação foi o maior baque que o Comando Vermelho já tomou em sua história, desde a fundação na década de 1970. Foi uma grande perda de armas, drogas e lideranças”, disse Felipe Curi, secretário de Polícia Civil.

O secretário de Segurança Pública, Victor Santos, afirmou que levar o confronto para a área de mata da favela foi uma estratégia para preservar vidas inocentes e que “a alta letalidade era previsível, mas não desejada”. O secretário ainda repetiu a fala do governador Cláudio Castro (PL) e disse que as únicas vítimas foram os policiais mortos na operação.

“Optamos por deslocar o contato com os criminosos para a área de mata, onde eles efetivamente se escondem e atacam os policiais. A opção foi feita para preservar a vida dos moradores. Tivemos um dano colateral pequeno, quatro pessoas feridas inocentes feridas, sem gravidade. Não utilizamos aeronave para não expor os policiais que estavam na área de mata. Essa alta letalidade que se verificou durante a operação, ela era previsível, mas, obviamente, não era desejada”, disse.

Moraes cobra explicações ao governador

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou nesta quarta-feira (29) que o governo do Rio de Janeiro preste informações sobre a megaoperação que deixou mais de 100 mortos e marcou uma audiência com o governador Cláudio Castro (PL).

Na decisão, Moraes manda o governador explicar se foram cumpridas as determinações judiciais nas operações nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio.

Entre as explicações, Castro deverá dar uma justificativa para a realização da operação, o número de agentes envolvidos, número oficial de mortos e feridos, adoção de medidas para garantir a responsabilidade em casos de abusos pela autoridade, providências de assistências às vítimas, comunicação ao Ministério Público, além do uso de câmeras e outras.

O magistrado ainda determina o agendamento de audiências com autoridades do Rio de Janeiro a serem realizadas na segunda-feira (3). O encontro será realizado na capital do RJ.

A primeira audiência, às 11h, será com Castro, em conjunto com chefes da Secretaria de Segurança Pública, da Polícia Militar, da Polícia Civil e da Superintendência-Geral de Polícia Técnico-Científica.

“O Governador deverá apresentar as informações de maneira detalhada na audiência designada”, diz Moraes na decisão.

O ministro também determina agenda com o presidente do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), o Procurador-Geral de Justiça e o Defensor Público Geral.

A determinação do STF foi tomada após pedido do CNDH (Conselho Nacional dos Diretos Humanos) e da PGR (Procuradoria-Geral da República). Ambos órgãos defenderam os esclarecimentos pelo governo fluminense.

Mais cedo, ainda nesta quarta, o PSB (Partido Socilista Brasileiro), autor da ADPF das Favelas no Supremo, pediu que Moraes determine uma investigação federal para apurar se o governo do Rio de Janeiro descumpriu decisões do Supremo no âmbito da ação.

Moraes é responsável temporariamente pela ADPF das Favelas — Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) nº 635 — enquanto não está vaga a cadeira do ministro aposentado Luís Roberto Barroso, antigo relator do caso.

Segundo o partido, as ações realizadas pela polícia revelam “indícios muito fortes de descumprimento das medidas determinadas pela Corte”, já que a autoridade policial também afirma que perdeu parte das imagens das câmeras corporais.

Tribuna do Norte