Governo do RN apresenta hoje medidas para mitigar impactos do tarifaço

Postado em 1 de agosto de 2025

O Governo do Estado vai apresentar, na manhã desta sexta-feira (1º), um pacote de medidas para mitigar os impactos da taxação de 50% estabelecida pelo governo de Donald Trump aos produtos brasileiros vendidos aos Estados Unidos. O chamado “tarifaço” começa a valer na próxima quarta-feira (6) e afeta oito dos dez produtos potiguares que mais foram exportados para o mercado americano no primeiro semestre de 2025. De acordo com a Federação das Indústrias do RN (Fiern), estimativas das indústrias exportadoras indicam que entre R$ 70 milhões e R$ 100 milhões em exportações podem deixar de ser comercializados por ano com o aumento das tarifas. Estima-se ainda que 4 mil postos de trabalho estejam em risco.


Uma Nota Técnica publicada pela Secretaria de Desenvolvimento do RN (Sedec) nesta quinta-feira (31) aponta que, de janeiro a junho de 2025, o valor total exportado pelo RN para os EUA foi de US$ 67,1 milhões. Os dez principais produtos exportados somaram, somente no 1º semestre, US$ 58,1 milhões. Ainda conforme o documento, aproximadamente 48,1% do volume financeiro das exportações potiguares para o mercado americano seria impactado pela tarifa adicional de 50%.


“Diante desse cenário, o Governo do RN informa que adotará todas as medidas cabíveis, em articulação com o Governo Federal, com o objetivo de dar continuidade às negociações diplomáticas e institucionais, buscando mitigar os efeitos da medida e preservar a competitividade das exportações do estado” diz trecho da nota.


O pacote de medidas para mitigar os impactos do tarifaço será apresentado aos setores afetados, segundo informou o secretário de Desenvolvimento Econômico do RN, Alan Silveira. Sem dar maiores detalhes, ele adiantou que o pacote integra um conjunto de ações que incluem benefícios fiscais, especialmente para as empresas que já fazem parte do o Programa de Estímulo ao Desenvolvimento Industrial (Proedi) e que poderão ter isenções ampliadas. O pacote também deve incluir mecanismos de antecipação de créditos vinculados à exportação, com a criação de linhas financeiras que permitam às empresas antecipar recebíveis a taxas mais vantajosas.


Roberto Serquiz, presidente da Fiern, disse que as possíveis alternativas para reduzir os efeitos do tarifaço estão em fase de ‘gestação’ e comentou que ainda espera uma reversão da medida. “É um desafio buscar essa reversão em tão curto espaço de tempo, mas a gente acredita que isso possa acontecer. O que não podemos é deixar que o ambiente político interfira tanto na economia. Para além disso, uma das saídas de mitigação dos impactos é buscar a recomposição de custos e abrir mercados”, aponta Serquiz.

Ele ressaltou que a indústria não planeja demissões, pois está sempre voltada ao desenvolvimento e à geração de empregos. No entanto, caso as dificuldades persistam, adaptações poderão ser necessárias nos setores exportadores.


“Infelizmente, diante desse cenário, pode se tornar impossível manter [todos os empregos nos segmentos que exportam para os EUA]. Ninguém fica feliz com cortes. Quando há desligamentos, é porque há risco à sustentabilidade ou necessidade de redesenhar o próprio negócio”, pontuou Serquiz.

Medidas
As medidas que serão apresentadas pelo Governo nesta sexta visam dar algum respiro às atividades afetadas. O setor de pesca, o mais atingido em quantidade de exportação, com cerca de 80% dos produtos enviados ao mercado norte-americano, irá pedir ao Governo do Estado a isenção total do ICMS que incide sobre o combustível das embarcações.


“Sobre a isenção, estamos protocolando um documento a pedido do Governo. Queremos que a medida vigore até o final do ano. E na segunda, vamos nos reunir com a DRT [Delegacia Regional do Trabalho] para ver questões de contratos de trabalho. Essa é a alternativa que a gente observa para manter a viabilidade da atividade pesqueira. No nosso caso, não adianta buscar novos mercados, porque na Ásia e na Oceania há competidores que estão bem mais próximos”, disse Arimar Filho, presidente do Sindipesca.


“Além do que, a logística para os dois continentes custa muito caro ao nosso mercado. E para a Europa, desde 2018 o Brasil é proibido de exportar por uma questão que envolve aspectos técnicos, mas também políticos. Então, a gente não tem saída quanto a novos destinos”, completou Arimar. As exportações da pesca potiguar aos EUA movimentam mais de R$ 250 milhões ao ano, com mais de 2,5 mil empregos.

Doces, sal e reciclagem também serão afetados

A indústria de doces e pirulitos será a segunda atividade no Rio Grande do Norte mais afetada pela taxação, uma vez que 70% das exportações desse setor têm como destino os Estados Unidos. Luiz Eduardo Simas, que integra o Sindicato de Doces do RN, disse que as empresas exportadoras estão em contato com o Governo do Estado, por meio da Fiern, para entender quais medidas serão oferecidas para aliviar os impactos. “O que o setor tem feito é negociar para que demissões e perdas no faturamento não se concretizem. Não temos falado expectativas de números nem sobre possíveis perdas, porque preferimos esperar a entrada em vigor da medida”, explicou Simas.


O setor de sal, que tem metade das exportações voltadas ao mercado americano, disse que a taxação vai representar perda de empregos e prejuízos às empresas, que não terão para onde direcionar os próprios produtos. “Não temos muitos outros mercados. Nós exportamos 550 mil toneladas aos EUA por ano. Por conta da logística e do fato de o sal ser um produto de baixo valor, ele não consegue ser competitivo quando se colocam distâncias muito maiores do que os Estados Unidos. Portanto, estamos fadados a esse mercado, em um primeiro momento”, explicou Aírton Torres, presidente do Siesal.


“De todo modo, junto com o Governo do Estado estamos vendo a possibilidade de abrir um pouco mais para a Europa”, frisou Aírton Torres. Ainda segundo ele, o setor gera cerca de 4 mil postos de trabalho no RN, volume que será atingido pela taxação. “Ainda não temos como quantificar esse impacto, mas sabe-se que, além dessas pessoas, aquelas outras ligadas à cadeia de distribuição sentirão os efeitos.

Estamos desenhando alternativas com o apoio da Fiern para encontrar algum tipo de incentivo junto ao Governo do Estado para compensar, ainda que parcialmente, os prejuízos”, disse.


O quarto setor que mais irá sentir o peso do tarifaço é o de reciclagem, que destina 30% dos produtos exportados aos Estados Unidos.

Etelvino Patrício, presidente do Sindirecicla-RN, disse que o real valor dos efeitos só será conhecido após a medida do governo americano passar a valer. O que o setor tem feito, segundo Etelvino, é procurar novos destinos para tentar compensar as perdas com a taxação.

“Nosso planejamento é tentar buscar novos mercados e novos clientes, para que a gente possa suprir as perdas que teremos, mesmo entendendo que, em casos de precificação, não conseguiremos mercado melhor do que o americano”, pontuou.

Fruticultura
Para a fruticultura potiguar, cujo impacto deverá ser de R$ 100 milhões ao ano, a Federação da Agricultura e Pecuária do RN (Faern) esclareceu que também tem buscado alternativas para o tarifaço. “Está sendo elaborada uma proposta de crédito emergencial voltada a produtores que precisam manter contratos de trabalho, mesmo diante de uma redução temporária de produção. Além disso, a Faern defende que prefeituras atuem de forma proativa, ativando redes locais de proteção social e ampliando compras públicas de frutas para merenda escolar, como forma de sustentar o escoamento da produção e proteger os empregos”, afirmou José Vieira, presidente da Federação.


“A Faern também defende a criação de uma frente interestadual da fruticultura irrigada, reunindo RN, PE, BA e CE. Essa articulação permitirá uma resposta coordenada, fortalecerá a defesa dos interesses do semiárido fruticultor e ampliará o poder de negociação do setor em âmbito nacional e internacional”, completou Vieira.


O Comitê Executivo de Fruticultura do RN (Coex), projeta um fechamento de 1,5 mil postos de trabalho com a taxação, o que, de acordo com José Vieira, representa cerca de 25% da força de trabalho do setor na alta temporada. “Isso impacta diretamente municípios como Mossoró, Baraúna e Apodi, onde a fruticultura representa até 40% da economia local”, explicou.

BALANÇO
Principais produtos exportados pelo RN aos EUA
(1º semestre de 2025)


Óleo combustível:
US$ 23,9 milhões


Outros produtos de origem animal: US$ 10,3 milhões


Albacoras-bandolim frescos: US$ 4,7 milhões


Caramelos e confeitos:
US$ 4,1 milhões


Sal marinho: US$ 3,3 milhões


Albacoras/atuns:
US$ 3,2 milhões


Outros granitos:
US$ 2,6 milhões


Outros açúcares de cana:
US$ 2,1 milhões


Outros peixes congelados:
US$ 2 milhões


Castanha de caju:
US$ 1,9 milhão


Total: US$ 58,1 milhões

Produtos excluídos do tarifaço
Óleo combustível: US$ 23,9 milhões
Castanha de caju: US$ 1,9 milhões
Total: US$ 25,8 milhões

TRIBUNA DO NORTE