Governo do RN faz estudo para novo acesso viário ao litoral Sul
O Governo do Estado está fazendo um estudo que projeta uma nova rota de acesso ao litoral Sul do Rio Grande do Norte, para aliviar o tráfego nos trechos que levam à região litorânea da Região Metropolitana. Gustavo Coelho, titular da Secretaria de Infraestrutura (SIN) do RN confirmou à TRIBUNA DO NORTE a existência de um estudo preliminar e disse que a intenção é finalizá-lo ainda este ano. “Vamos dar prioridade a esse estudo em 2024”, disse Coelho. No final de semana passado, um enorme congestionamento se formou no acesso que liga Natal ao litoral Sul.
Segundo o secretário, a ideia é estabelecer um novo traçado, no acesso, em relação ao que foi estabelecido em um projeto finalizado em 2010, pelo então coordenador do Programa de Desenvolvimento do Turismo no RN (Prodetur RN), Carlos Alberto Medeiros, durante o governo de Wilma de Faria. A solução em questão compreendia a construção de duas rodovias: uma estrada paralela à Rota do Sol, contornando Cotovelo e Pirangi, no trecho da RN-313/Alcaçuz-Entroncamento Vicinal Nísia Floresta.
A outra compreendia a interligação da BR-101 com as praias e lagoas do Polo Costa das Dunas. “Os projetos foram um convênio com o Mtur. Em um deles, a gente concebeu uma estrada que fazia Nísia Floresta-Natal, em uma diagonal até Pium. O projeto ficou pronto e entregue ao Departamento de Estradas e Rodagens (DER) para a administração de Rosalba Ciarlini [que começou em 2011], mas nunca foi executado. Ele ia reduzir o tráfego da Rota do Sol em cerca de 20% a 30%”, explica Carlos Alberto Medeiros.
À reportagem, o DER informou que os projetos foram “avaliados e engavetados” por conta de entraves ambientais. “Uma das soluções [a estrada paralela à RN-313, citada pela reportagem] – a principal, na verdade, – passava por uma área de duna. Por questões ambientais, não há viabilidade para a execução dela”, informou o órgão.
Gustavo Coelho, da SIN, disse, que a expectativa é agregar o que for possível a partir das avaliações que estão sendo feitas. “O projeto elaborado pelo Prodetur tinha alguns questionamentos de ordem ambiental, mas nós vamos tentar aproveitar aquilo que for possível. Ainda não dá para responder como será esse aproveitamento porque isso depende exatamente das avaliações”, informa. Ele não adiantou que traçado está sendo pensado.
O problema do último final de semana na região, de acordo com o secretário de Defesa Social e Mobilidade Urbana de Parnamirim, Marcondes Pinheiro, foi provocado pelo estacionamento irregular de muitos veículos em uma das faixas para rolamento das duas vias, o que afunilou o trânsito e provocou os congestionamentos quilométricos. Os transtornos neste período do ano na área, no entanto, são antigos. Segundo o CPRE, nesta época “há um alto fluxo de carros no litoral Sul”, por causa do veraneio, além do afunilamento das vias citado pelo gestor da Sedem.
O enorme congestionamento que se formou no acesso que liga Natal ao litoral Sul no final de semana passado, desagradou não apenas aos motoristas que trafegavam pelo local, mas também ao trade turístico, que vê com preocupação os constantes engarrafamentos na via. O problema, de acordo com entidades representativas do setor, pode repercutir negativamente fora do Estado e atrapalhar o fluxo de visitantes que vem ao Rio Grande do Norte em busca do turismo de sol e mar. Para as fontes ouvidas, falta planejamento por parte do poder público, uma vez que não existe estrutura para a demanda de alta temporada, como a que a região vivencia.
“Todos os anos se espera aumento de movimento na alta temporada. O turista que chega aqui e leva uma péssima imagem como a que foi vista, começa a registrar tudo em rede social e a dizer que não volta mais. Assim, nossa imagem vai sendo comprometida, algo que nos prejudica drasticamente porque somos um destino ainda em recuperação por causa da pandemia”, frisa o presidente da Associação Brasileira da Indústria dos Hotéis do RN (ABIH), Abdon Gosson.
Habib Chalita, que preside o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Rio Grande do Norte (SHRBS-RN), chama atenção para a necessidade de uma estrutura adequada para atender ao fluxo da temporada. “Nós temos um gargalo, porque o litoral Sul está sendo super habitado. Antigamente, nós tínhamos apenas uma via de saída para a região. Hoje nós temos uma via de entrada e uma de saída, mas com uma quantidade de residências muito maior, bem como de casas para veraneio, então, logicamente teremos um trânsito mais intenso. Para isso, é preciso ter uma infraestrutura atualizada, de acordo com a ocupação da área”, aponta.
O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens do RN (Abav), Antônio Neto, alerta sobre os impactos do problema para o turismo do Estado. “Nossa avaliação é de que o impacto é muito negativo. Nós entramos em um veraneio com uma adesão bem mais alta do que tivemos nos últimos anos, mas precisamos lembrar que estamos falando de uma rota turística, onde o visitante aposta nos passeios para o Litoral Sul. Felizmente, não tivemos maiores problemas, mas, vamos imaginar: se alguém passa mal, precisa de socorro emergencial e, por uma fatalidade, morre? A repercussão disso em todo o País seria muito ruim”, avalia.
Paolo Passariello, da Abrasel RN, também demonstra preocupação com as limitações do acesso ao Litoral Sul. “Geralmente, além da situação turística, é natural que uma área com problema de tráfego veja as pessoas se afastarem dela. Então, essa região específica pode ser prejudicada em favor de outras que não têm o problema”, fala. Ele chama atenção para a necessidade de o poder público buscar saídas para resolver os gargalos.
“As autoridades sabem que o problema existe, então, nesse sentido, há omissão. De uma forma ou de outra, o poder público deveria intervir e encontrar alguma solução”, completa Passariello. No final de semana passada, um congestionamento entre as praias do Litoral Sul e Natal causou transtornos para os motoristas. Relatos que circularam nas redes sociais, indicam que algumas pessoas ficaram presas no trânsito por um período prolongado de mais de 4 horas.
Após os registros, o Comando de Policiamento Rodoviário Estadual (CPRE) e a Secretaria de Defesa Social e Mobilidade Urbana de Parnamirim (Sesdem), anunciaram reforço para fiscalizar irregularidades nas rodovias São Sebastião e Márcio Marinho, afetadas pelo engarrafamento. “A São Sebastião, por exemplo, todo mundo sabe que não pode [estacionar]. Quem parar ali, nós vamos abordar e, se não sair, o condutor será multado e o veículo, guinchado”, afirmou o titular da Sesdem, Marcondes Pinheiro.
Prefeitura adota medidas para aliviar tráfego
Para o trade turístico do Estado, são necessários novos acessos ao litoral Sul, mas enquanto isso não acontece, é primordial a atuação do poder público, a fim de amenizar os problemas. “Há anos existem projetos para novas vias, mas, nesse ponto, há várias questões burocráticas. É lógico que quanto mais rodovias, melhor. Entretanto, no final de semana o que pesou foi a ausência do poder público no sentido de organizar o trânsito”, reclamou Abdon Gosson, da ABIH.
“Lógico que temos necessidade de uma nova via. O litoral Sul é o mais próximo de Natal, então, existe uma capilaridade de tráfego muito maior. Mas, além disso, tem que haver uma coordenação maior relacionada ao trânsito por lá”, afirma Habib Chalita, do SHRBS. Antônio Neto, da Abav, compartilha do mesmo ponto de vista. “Uma nova via é ideal, embora, para isso, seja preciso uma logística que envolve vários setores e investimento em tempo. O que nós conseguimos entender é que, se as autoridades conseguirem trabalhar uma boa fiscalização, deve agilizar muito o fluxo”, pontua.
O prefeito de Nísia Floresta, Daniel Marinho, defende a construção de um novo acesso na área. “Uma via alternativa, partindo de trás do antigo Circo da Folia, ou de qualquer outro lugar para oferecer uma nova opção aos motoristas, seria uma saída, porque temos apenas uma única pista com duas faixas para a passagem de milhares de veículos durante esse período. Então, esse engarrafamento sempre vai acontecer”, comenta.
Na última sexta-feira (12), o secretário do Gabinete Civil de Parnamirim, Homero Grec, detalhou algumas medidas em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan News Natal, para permitir maior fluidez no trânsito da região de Pirangi. O foco é fazer com que todas as faixas das avenidas São Sebastião e Márcio Marinho sejam usadas para tráfego dos veículos. Para isso, a proibição de estacionamento de automóveis nas vias terá reforço na fiscalização.
Segundo ele, durante a semana, placas de sinalização com indicativo para não estacionar foram instaladas na Avenida Márcio Marinho. Simultaneamente, o meio fio da avenida que liga as praias de Búzios e Pirangi foi pintado em amarelo, o que também caracteriza a proibição de estacionar na área. Outra ação anunciada é que não será mais permitido estacionamento de ônibus para deslocamento de membros e equipamentos de bandas de músicos nas avenidas.
“Nós tivemos um caos neste último final de semana porque, por duas horas e meia ficou parado um ônibus em frente a um estabelecimento comercial”, lembrou Homero Grec. Ele afirmou que uma parceria foi feita com o hotel Village para que os veículos de transporte de bandas acessem o local para descarregamento de equipamentos. Outra ação é a fiscalização de pontos onde pessoas se aglomeram na pista de rolamento em frente a estabelecimentos comerciais. Nestes locais, grades serão instaladas na calçada e uma base móvel da Secretaria Municipal de Trânsito será mobilizada.
Tribuna do Norte