Governo do RN vai abrir 39 leitos no 2º andar para desafogar Walfredo Gurgel

O Governo do Rio Grande do Norte, através da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), informou nesta segunda-feira 18 que decidiu suspender as obras de reforma no segundo andar do Hospital Walfredo Gurgel, que enfrenta um quadro grave de superlotação. A medida tem o objetivo de abrir leitos na unidade em caráter emergencial. A previsão é que 39 leitos fiquem disponíveis “nos próximos dias”.

Em nota, o governo estadual informou ainda que pediu à Justiça o desbloqueio emergencial de leitos em três unidades da rede estadual: o Hospital Regional Alfredo Mesquita Filho, em Macaíba; e os hospitais Giselda Trigueiro e João Machado, em Natal.

Além disso, o governo decidiu criar um grupo gestor, liderado pela secretária adjunta da Sesap, Leidiane Queiroz, para otimizar o fluxo de pacientes e reduzir o tempo de permanência no Walfredo e demais hospitais da região metropolitana.

“Vamos trabalhar de forma ainda mais próxima à equipe do Walfredo Gurgel, com uma espécie de ‘gabinete itinerante’ dentro do hospital. Nosso papel será otimizar o fluxo de pacientes e garantir que as medidas sejam implementadas com celeridade. Estaremos lá diariamente até que a situação seja controlada”, declarou.

A secretária estadual de Saúde, Lyane Ramalho, destacou a importância das medidas emergenciais e do trabalho coordenado para solucionar a crise no hospital. “Essa força-tarefa é parte de um esforço coletivo que já vinha sendo planejado há dias. Apresentamos um plano de contingência baseado em ações imediatas, como a abertura de novos leitos, para aliviar a pressão sobre o Walfredo Gurgel. A entrega do segundo andar do hospital, prevista para o dia 30 de novembro, vai possibilitar a criação de 39 leitos, e estamos empenhados em concluir antes do prazo.”

Sobre a redistribuição de pacientes que não têm perfil de alta complexidade. Lyane explicou: “Já estamos negociando com o Ministério Público e outras unidades, como o Alfredo Mesquita e o Hospital João Machado, para que esses pacientes possam ser atendidos em outros hospitais. Esse movimento é essencial para reorganizar a rede e garantir que o Walfredo se concentre nos casos mais graves.”

SUPERLOTAÇÃO. A decisão do Governo do Estado acontece no dia em que servidores da saúde denunciaram um quadro de grave superlotação no Walfredo. De acordo com o Sindicato dos Servidores da Saúde do RN (Sindsaúde), o hospital amanheceu nesta segunda-feira 18 com 132 pacientes internados no pronto-socorro.
“Pensei que já tinha visto o pior nesse hospital. Simplesmente, tem setores que não dá para se locomover” desabafa Rosália Fernandes, coordenadora do Sindicato dos Servidores da Saúde (Sindsaúde-RN).

O diretor do hospital, Geraldo Neto, ressaltou a gravidade da situação. “Estamos enfrentando um aumento significativo de atendimentos, especialmente por acidentes de trânsito. Nossa média diária de atendimentos passou de 400 para mais de 800 nos últimos meses. A entrega do segundo andar, aliada à redistribuição de pacientes, vai ser um divisor de águas. Precisamos agir agora, e as medidas anunciadas hoje trazem a perspectiva de uma solução efetiva”, destacou o diretor da unidade.

Superlotação no Walfredo Gurgel é insustentável, afirma Sinmed

O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed-RN), Geraldo Ferreira, disse que a situação do maior hospital de urgência do estado, o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, passa por superlotação insustentável.

“O que nós temos visto ultimamente é que tem algumas decisões que têm contribuído de alguma forma para esse agravamento. Hoje os corredores estão numa situação insustentável. A última vez que eu fui, eu até comentei com a equipe que ia comigo: ‘olha, poucas vezes eu vi o hospital nesta situação’”, comentou.

Segundo Geraldo Ferreira, não houve um planejamento adequado para onde iriam os leitos do andar que está sendo reformado na unidade. “Fala-se que distribuíram entre o João Machado, etc, mas já vivem lotados também. Além disso, a escala de clínica médica foi reduzida, porque os clínicos passaram a ter outras obrigações de medicações dos corredores. Com essa redução da escala de clínico, o atendimento é mais demorado. Então vai ficando aquela pressão incontrolável”, pontuou o médico, em entrevista nesta segunda-feira 18 ao Balanço Geral Manhã, da TV Tropical.

Geraldo Ferreira ressaltou ainda que há um déficit de neurologistas. “Esses pacientes, que são o grosso do Walfredo, acidentes de moto e AVC, que são os famosos acidentes vasculares cerebrais. Essa ilusão de que o Walfredo vive lotado de patologias simples não é verdade. Ele vive lotado de acidentes de moto e vive lotado de AVCs. Os hospitais regionais se diz muito que não funcionam. Funcionam. Agora, os hospitais não conseguem ter todas as escalas que o Walfredo tem. Então, eles atendem a média complexidade, até alguma coisa de alta complexidade em algumas áreas, mas manda para Natal, porque não tem jeito”.

O presidente do Sinmed-RN fez sugestões de iniciativas para mitigar o problema de superlotação. “Há um hospital construído em São Gonçalo, com 130 leitos. Eu não sei se já está havendo diálogo para o Estado assumir esse hospital. É necessário que o hospital assuma parte dos serviços. Existe um hospital municipal sendo construído em Natal. É preciso que haja diálogo também com a prefeitura para fazer essa distribuição”.
Para o médico, insistir que o Walfredo Gurgel vai ser desafogado, sem estruturas acessórias, “é esperar um milagre”.

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Postado em 19 de novembro de 2024