Governo já admite enfrentar CPMI; parlamentares dizem que oposição dará “tiro no pé”
Após diversas ações para tentar desmobilizar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, a base do governo começou a mudar o discurso e já admite encarar o debate na comissão. Nesta terça-feira (18), o vice-líder do governo, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), afirmou que a oposição dará um “tiro no pé” por insistir com a comissão de inquérito e chegou a afirmar que parlamentares bolsonaristas serão cassados quando mais fatos virem à tona.
“Quando vejo deputados bolsonaristas falando em CPMI eu digo vocês subestimam a inteligência do povo brasileiro? Vocês estão dando o maior tiro no pé, porque nós vamos para a CPMI agora. Não queríamos fazer porque temos que governar. A Polícia Federal e o Supremo Tribunal Federal estão fazendo os seus trabalhos e estão prendendo a base de vocês, golpistas. Quero fazer um pedido ao governo para ser sub-relator dos financiadores. Quero ver a CPMI acontecendo e vamos trabalhar nela”, disse
“Vai ter muito deputado aqui enrolado porque teve muitos participando e convocando aquela manifestação. Para mim o ex-presidente Bolsonaro está envolvido totalmente nisso. A ponte dele foi o ex-ministro Anderson Torres, que esteve com ele pouco antes nos Estados Unidos. É crime tentar interferir no processo ou no resultado eleitoral”, concluiu o deputado petista.
A discussão iniciou após o deputado Gilson Marques (Novo-SC) sugerir trancar a pauta da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) por conta do adiamento da sessão conjunta do Congresso Nacional. O presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), anunciou o adiamento após a maioria dos parlamentares ter solicitado o adiamento da sessão.
Parlamentares da oposição queriam a realização da sessão em Plenário para que Pacheco fizesse a leitura do requerimento da CPMI, o que não foi possível pelo adiamento. O presidente do Senado foi pressionado pela oposição que marcou presença em uma reunião de líderes das duas Casas com Pacheco. O encontro, que geralmente só é composto por lideranças da Câmara e do Senado, abriu para demais parlamentares, mas o grupo capitaneado por bolsonaristas, como Bia Kicis (PL-DF) e Nikolas Ferreira (PL-MG), entraram na sala da presidência aos gritos de “vai ter CPMI!”.
Na CCJ, o deputado Marco Feliciano (PL-SP) afirmou que Rodrigo Pacheco deu um “passa-moleque” na oposição ao adiar para a semana que vem a leitura da CPMI.
“Pacheco nos deu um passa-moleque. No Brasil todo, pelo menos 58 milhões, que votaram no presidente Bolsonaro, que são chamados de golpistas, essas pessoas precisam saber exatamente o que aconteceu no dia 8 de Janeiro. Se não tem nada a esconder porque estão fazendo (o governo) uma força-tarefa para impedir a instalação? Oferecendo emendas e cargos do segundo escalão”, criticou.
Após a reunião, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), afirmou que o governo não teme a CPMI, uma vez que a gestão Lula foi “vítima das agressões”.
“Não vejo nenhum motivo para o governo ter medo desta CPMI ou da CPI que teria no Senado. Até porque nós, da democracia e do governo, fomos vítimas da agressão. Na verdade esta CPMI vai investigar os financiadores, aqueles que organizaram a barbárie”, disse.
Por outro lado, as negociações para tentar asfixiar a formação da CPMI seguem em andamento. No início da tarde desta terça-feira, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, esteve na Câmara dos Deputados para uma reunião com líderes das legendas de esquerda na Casa. Ele falou sobre a CPMI e afirmou que vários parlamentares “estão se convencendo” de retirar as assinaturas.
“É uma proposta de CPMI liderada por quem passou pano no dia 8 de janeiro. Não é uma proposta de quem quer apurar quem é responsável, quem financiou e quem mobilizou aquele ato de terrorismo. Os líderes vão continuar conversando com os parlamentares, o que está sendo muito bem sucedido. Vários parlamentares estão se convencendo”, disse Padilha.
Correio Braziliense