Governo vai antecipar cobrança de ICMS para ajustar fluxo de caixa

Postado em 23 de outubro de 2025

Uma nova portaria da Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Norte (Sefaz-RN) altera a forma de arrecadação do ICMS para empresas beneficiárias do Programa de Estímulo ao Desenvolvimento Industrial do RN (Proedi), assim como para atacadistas e centrais de distribuição que usufruem de benefícios fiscais. A partir de outubro, essas empresas deverão pagar 50% do imposto antes mesmo de realizar as vendas. Com isso, a entrada de cerca de R$ 30 milhões nos cofres públicos será antecipada. Para o setor produtivo, a medida pode prejudicar a geração de empregos, investimentos e fluxo de caixa.

Conforme a secretaria, o objetivo é ajustar o fluxo de receitas sem aumentar o valor do imposto. O Governo também informou que, caso não fosse implementada a antecipação, poderiam ser revistos benefícios fiscais concedidos pelo Estado. O valor pago antecipadamente será compensado integralmente no recolhimento do dia 15 de novembro. Além disso, as empresas devem quitar até 28 de outubro 50% do imposto devido no mês anterior ao da ocorrência do fato gerador. O descumprimento do prazo pode acarretar a aplicação de multas e juros.

Na prática, se uma companhia recolheu R$ 100 mil de ICMS em setembro, deverá pagar até 28 de outubro R$ 50 mil — equivalente a 50% do valor devido no mês anterior ao da ocorrência do fato gerador. Esse montante será integralmente abatido do imposto a ser recolhido em 15 de novembro, referente às operações de outubro.

Em nota enviada à Tribuna do Norte, a pasta esclarece que a portaria “é uma medida que visa adequar o fluxo de receitas do estado e que alcança somente as empresas que usufruem de benefícios fiscais, como as beneficiárias do PROEDI e dos regimes especiais de atacadistas e centrais de distribuição”.

O presidente da FIERN, Roberto Serquiz, criticou a decisão, afirmando que a antecipação compromete diretamente o fluxo de caixa das empresas e não contribui para a melhoria do ambiente de negócios. “A antecipação compromete diretamente o fluxo de caixa das empresas, justamente em um cenário que exige liquidez para manter investimentos e empregos”, disse.

O Proedi concede descontos no ICMS para empresas quando se instalam ou desejam ampliar suas instalações no território potiguar. O benefício fiscal é voltado tanto para novos empreendimentos industriais quanto para aqueles já existentes no estado. Segundo Serquiz, a portaria deixa o sistema jurídico mais frágil. “Altera a previsibilidade do PROEDI — que é um de seus pilares fundamentais — fragilizando a segurança jurídica e afetando a confiança dos empreendedores nas políticas de incentivo do Estado”, ressaltou.

O dirigente destaca ainda que o planejamento financeiro das empresas será impactado com a antecipação da arrecadação, gerando risco direto à competitividade. “No curto prazo, afeta o planejamento financeiro e o capital de giro. No médio prazo, pode desestimular investimentos, comprometer a geração de empregos e reduzir a atratividade do Estado frente a outros mercados”, pondera Serquiz.

Além disso, não houve consulta prévia com a FIERN, a Fecomércio e a FAERN para a adoção da medida. “Uma medida com esse impacto merecia diálogo com quem gera emprego, renda e investimentos no Estado”, afirmou Roberto Serquiz.

A medida, segundo a Sefaz, foi implementada após comunicação oficial às empresas por meio do Domicílio Tributário Eletrônico (DTE), sistema utilizado pelo governo para notificação de obrigações fiscais e envio de informações importantes sobre tributos.

A Sefaz-RN avalia a antecipação do ICMS como “essencial para a realização do fluxo de receita neste momento” e destaca a importância da medida para garantir a organização financeira do estado. A secretaria esclarece que o recolhimento antecipado dos impostos, estimado em R$ 30 milhões, não tem destinação específica, sendo utilizado de forma geral para sustentar investimentos públicos, custear a manutenção da estrutura administrativa e assegurar o funcionamento regular dos serviços essenciais do governo.

Segundo a Sefaz, sem essa reorganização do calendário de arrecadação, a gestão das finanças estaduais poderia enfrentar dificuldades no cumprimento de obrigações e compromissos, afetando diferentes áreas da administração pública e prejudicando a execução de despesas e investimentos planejados. A secretaria acrescenta que, na ausência da medida, todos os setores seriam impactados, o que poderia comprometer a manutenção da estrutura do governo e a capacidade de atendimento às demandas da população. “Poderiam ter sido revistos benefícios fiscais já adotados em outros estados, mas esta não é a intenção do governo”, complementou a pasta.

Fecomércio critica

O presidente da Fecomércio RN, Marcelo Queiroz, considera que “é necessário aprofundar o diálogo técnico para compreender plenamente o alcance da medida, bem como avaliar os seus efeitos diretos e indiretos sobre as empresas atacadistas e as centrais de distribuição”.

Para ele, “a previsibilidade e a estabilidade nas regras fiscais são fundamentais para garantir um ambiente de negócios saudável e atrativo a investimentos. Mudanças repentinas podem resultar em aumento de custos, retração nas operações e riscos à manutenção de empregos em toda a cadeia de comércio e serviços”.

Além disso, Marcelo Queiroz disse que “alterações dessa natureza, quando implementadas sem a devida discussão prévia com o setor produtivo, geram insegurança, comprometendo diretamente o planejamento financeiro das empresas”.

Empregos podem ser afetados

A Faern também prevê impactos significativos, principalmente para empresas com capital de giro menor. “Embora tecnicamente não represente aumento de carga tributária, a exigência de antecipação pode, na prática, comprometer o equilíbrio financeiro de muitas empresas, dificultando o cumprimento de obrigações operacionais e trabalhistas”, disse a instituição.

Segundo a Faern, a curto prazo, a medida pode obrigar as empresas afetadas a realizarem ajustes financeiros e operacionais, impactando na geração de empregos no setor. “Isso pode impactar desde a gestão de estoques até o pagamento de fornecedores e colaboradores.”

No médio prazo, o impacto dependerá da forma como a política será implementada e da capacidade de diálogo entre o Governo do Estado e o setor produtivo, conforme a Faern.

“Se devidamente ajustada à realidade setorial e implementada com diálogo e flexibilidade, a medida pode contribuir para o equilíbrio fiscal do Estado sem comprometer a competitividade das empresas. No entanto, se aplicada de forma rígida, sem análise de impacto ou espaço para negociação, há o risco de prejudicar o ambiente de negócios local, desestimular investimentos e comprometer a manutenção de empregos”, destacou a Faern.

Tribuna do Norte