Grupo de freiras brasileiras deixa a Nicarágua após polícia invadir convento
Um grupo de freiras brasileiras da organização “Fraternidad Pobres de Jesucristo” anunciou na segunda-feira (3), por meio de um comunicado, que continuará seu serviço de El Salvador, após sete anos realizando trabalho religioso e humanitário na Nicarágua.
Vários defensores dos direitos humanos e pessoas próximas às religiosas denunciaram no domingo (2) que a polícia da Nicarágua invadiu o local onde viviam. Eles até pediram respeito por sua integridade.
Uma fonte da Igreja Católica disse à CNN que tudo é consequência do fato de o governo não estar renovando os títulos de residência dos missionários estrangeiros.
A CNN solicitou uma resposta do governo da Nicarágua, mas ainda não obteve retorno.
A organização “Fraternidad Pobres de Jesucristo”, movimento que nasceu no Brasil e está presente em uma dezena de países, caracteriza-se por gerir alimentos e atender necessidades básicas de grupos em situação de risco social.
O governo do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, mantém uma campanha contra a Igreja Católica da Nicarágua.
Ele disse recentemente que a Igreja faz parte de uma rede de lavagem de dinheiro que supostamente envolve pessoas anteriormente condenadas por “traição à pátria” e várias dioceses do país, sem dar detalhes específicos, segundo um comunicado de imprensa divulgado pela Polícia Nacional.
As anunciadas investigações de lavagem de dinheiro representam o último episódio de uma série de ações empreendidas pelo regime de Ortega contra a Igreja Católica, que só neste ano registrou o fechamento de uma universidade na Arquidiocese de Manágua, prisões de padres, expulsão do país das freiras e o corte das relações diplomáticas com o Vaticano.
Grupo agradece por acolhida da Igreja na Nicarágua
O grupo de freiras se manifestou por meio do Facebook. Elas agradeceram pelos sete anos de missão no país e pela “acolhida da Igreja e do povo”. “Queremos agradecer a todas as consagradas, leigos, jovens, benfeitores e amigos que construíram com nós a missão e fizeram possível levar Cristo aos pobres”.
No comunicado, confirmaram a mudança a El Salvador: “Com esses sentimentos informamos que nossas irmãs foram enviadas a missão de El Salvador”.
Em nota enviada à CNN, a “Fraternidad Pobres de Jesucristo” disse que funcionários do ministério de Governação e do Instituto de Migração chegaram à casa religiosa ao redor das 10h30 solicitando fazer uma vistoria.
“As três religiosas que pertencem à missão – duas brasileiras e uma paraguaia – se encontravam no momento e permitiram a entrada dos oficiais. Depois de vários questionamentos e de inspecionar a casa, as autoridades convidaram as irmãs a reunir seus pertences e se dirigirem ao micro-ônibus de Migrações, rumo à Managua, capital do país”, diz a nota.
No Instituto de Migração, as freiras foram permaneceram esperando durante quatro horas e, após a leitura da ata de deportação, foram levadas até a fronteira entre Nicarágua e Honduras, com destino a San Salvador, capital de El Salvador.
A nota diz que as missionárias foram acolhidas por freiras do instituto em San Salvador e “se encontram bem”.
De acordo com o comunicado, as religiosas já se preparavam para encerrar a missão em Nicarágua por “questões migratórias, tendo em conta que não puderam iniciar o processo de radicação no país”.
A CNN questionou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que disse não haver posicionamento por enquanto. A Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) também foi contatada, mas ainda não houve retorno.