IDH do Brasil sobe, mas ainda não alcança o período o pré-covid

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil aumentou, passando de 0,754 para 0,760, patamar considerado elevado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Mas, de acordo com os dados divulgados ontem, o país regrediu duas casas no ranking — em 2021, encontrava-se em 87° lugar e, em 2022, desceu para o 89º posto entre os 193 países e territórios incluídos no levantamento.
O IDH varia de 0 a 1 — quanto mais próximo estiver de 1, melhor é a pontuação do país. Antes da pandemia, o índice do Brasil chegou a 0,766, mas houve queda diante dos impactos socioeconômicos da crise sanitária.

O avanço na medição está diretamente relacionado ao aumento da expectativa de vida do brasileiro: passou de 72,8 anos, em 2021, para 73,4 em 2022. Pesou, ainda, o aumento da renda per capita, que saltou de US$ 14.342, em 2021, para US$ 14.616 no último ano do governo do presidente Jair Bolsonaro.

Extremismos
Porém, não à toa o levantamento foi intitulado Superando o impasse: Reimaginando a cooperação em um mundo polarizado. O PNUD aponta que há uma recuperação global, mas ainda de forma desigual e afetada pela “polarização política”.

“O que está acontecendo é que há um processo ao redor do mundo de alienação da população”, afirmou Pedro Conceição, diretor do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD. Ele cita que a pesquisa mostra um dado preocupante: embora 90% da população mundial respalde a democracia, 50% das pessoas admitem que “apoiariam líderes” que a enfraqueceriam.

Segundo Pedro, os obstáculos oferecidos pela polarização na solução de problemas sociais e ambientais também pesaram para o resultado brasileiro e de outras nações. “Estamos falhando de diversas maneiras. A polarização política envenena as colaborações doméstica e internacional”, advertiu.

Um exemplo citado no documento das Nações Unidas foi a iniciativa de “tomar vacinas ou usar máscaras na pandemia”. Essa decisão, segundo Pedro, era, em muitos casos, baseada mais na opinião de “certos grupos” do que na eficácia das medidas, comprovada pela ciência. “O mesmo acontece com as mudanças climáticas”, afirmou o pesquisador.

Ele observou que esse tipo de postura não se limitaria aos cidadãos, uma vez que “há governos que tomam posições muito radicais dependendo de qual lado eles estão na arena internacional”. À época da crise sanitária provocada pela covid, o governo Bolsonaro chamou a atenção da comunidade internacional pelo negacionismo em relação ao novo coronavírus e à eficácia das vacinas.

O chefe mundial do PNUD, Achim Steiner, reforçou o alerta de Pedro Conceição. “Esse impasse tem custo humano significativo. O fracasso da ação coletiva para fazer avançar a luta contra as mudanças climáticas, a digitalização ou a pobreza e a desigualdade, não apenas prejudica o desenvolvimento humano, mas, também, agrava a polarização e corrói ainda mais a confiança nas pessoas e nas instituições em todo o mundo”, afirmou.

Entre os países latino-americanos, o Brasil se encontra na 18ª posição e fica à frente de outros países sul-americanos, como Colômbia e Equador, mas atrás de vizinhos como Uruguai (58º) e Argentina (47º). A média do IDH da América Latina e do Caribe se encontra em 0,763, acima do brasileiro.

O chefe de estatística do PNUD, Yanchun Zhang, observou que “depois da covid-19 e de muitos tubarões que atingiram a economia e a sociedade global, você verá muitos movimentos para vários indicadores que usamos para a construção de índices de desenvolvimento humano. Então, para o Brasil, assim como muitos países, a queda de 2019 para 2022 é muito grande. A recuperação de 2022 está aí, mas não muito forte. Na última década, o progresso tem sido lento”, explicou.

(Com Agência Estado)

Postado em 15 de março de 2024