Incentivo de renovação de frota não deve atingir o esperado, dizem especialistas

O programa temporário de renovação da frota de caminhões, vans e ônibus com mais de 20 anos de uso, lançado pelo Governo Federal na semana passada, não deve surtir o efeito esperado no setor automotivo. A afirmação é de especialistas ouvidos pela BandNews FM.

Ao todo, indústria automobilística vai receber R$ 1,5 bilhão em créditos como incentivo para a compra de veículos de passeio e a troca de caminhões, ônibus e vans. Os descontos para a troca de veículos pesados, semipesados e comerciais podem chegar a quase R$ 100 mil, dependendo do tamanho do veículo.

No entanto, para o diretor da FGV Transportes, Marcus Quintella, a maior parte dos veículos pesados antigos são operados por caminhoneiros autônomos, que dependem de uma conjuntura econômica favorável.

“Não entendo que isso venha resolver o problema, porque os veículos mais antigos estão nas mãos dos autônomos. As empresas já têm suas frotas mais modernas. Resta saber se nessa troca os autônomos terão recursos para pagar os veículos, se haverá fonte de financiamento. O autônomo precisa da evolução econômica”, diz Marcus Quintella.

Para subsidiar o programa, o Governo Federal decidiu antecipar parte da reoneração do diesel, principal combustível utilizado pelos veículos pesados, que estava prevista para acontecer somente no ano que vem. Agora, importadores e fabricantes devem arcar com cerca de 24% do valor total do imposto.

Para o economista Romilson Santos, a decisão pode impactar diretamente na alta da inflação no médio prazo, além de outros setores da economia, como a alimentação.

‘Esses autônomos terão dois custos diretos: o primeiro é a aquisição dos veículos novos sob taxa de juro extremamente elevada e a reoneração do diesel. Uma vez que o aumento dos custos da prestação de serviço de carga e rodoviária será elevado, esse custo será repassado, possivelmente, para o custo dos alimentos no médio prazo”, afirma o economista.

A medida também previa a redução dos preços dos veículos através do PIS/Cofins e do IPI, mas a ideia foi descartada pelo Ministério da Fazenda, que optou pelo desconto direto ao consumidor. O valor que a concessionária deixar de receber será coberto pela montadora, que deve reverter o montante em crédito tributário.

BAND

Postado em 10 de junho de 2023