Infarto não tem idade; entenda porque a ocorrência entre adultos ficou comum

Em meio ao vai e vem de pessoas e uma atmosfera que reflete a busca pelo bem-estar, Rodrigo José de Morais Lima parece sentir-se à vontade. Sentado em frente a academia que administra, o educador físico de 36 anos transmite vitalidade ao falar sobre o cotidiano em movimento e a paixão pelo ciclismo. Foi em uma de suas ‘pedaladas’, no entanto, que começou a sentir os avisos que antecederam o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). A condição, caracterizada pela obstrução dos vasos sanguíneos do coração e popularmente conhecida como ‘ataque cardíaco’, chegou de surpresa.

Em janeiro deste ano, durante uma quinta-feira, Rodrigo conta que sentiu pequenas pontadas no peito acompanhadas de calor. No sábado da mesma semana, quando estava andando de bicicleta pela manhã, o desconforto voltou somando-se ao formigamento nos braços. No domingo à noite, sofreu um infarto e precisou ser encaminhado ao hospital, onde passou dois dias na UTI e um na enfermaria. Depois, recebeu alta para o processo de reabilitação em casa.

“Foi difícil pra mim porque sou bem hiperativo, ficar parado me mata. Você precisa ficar de repouso absoluto”, compartilha Rodrigo. Atualmente, ele está tomando quatro medicamentos fortes para coração, colesterol e pressão que causam alguns efeitos como tontura e formigamento, mas comemora a recuperação gradual ao longo dos últimos meses: “o médico falou que estou me recuperando bem”.

Na contramão de muitos casos em que os fatores que levam a obstrução dos vasos do coração estão evidentes, o educador físico ainda não sabe porque infartou. Até houve uma desconfiança em torno da trombofilia – condição em que o indivíduo tem maior facilidade em formar coágulos no sangue -, mas uma bateria de exames sanguíneos que realizou descartaram a possibilidade.

Para quem conhece sua rotina e encara o semblante sempre enérgico, a impressão é de que não há brechas para agravos na saúde. “Eu sempre pratiquei esportes. Eu era atleta de basquete, joguei no Náutico, no ABC. Tive um problema no joelho e passei a pedalar. Adotei o ciclismo”, conta Rodrigo. Após o infarto, as aventuras com a bicicleta precisaram ser fracionadas e os cuidados com a saúde redobrados. A mudança chegou, também, na forma de pensar.

“Eu pensava que, assim, você mantendo uma boa rotina de atividade física poderia comer o que quisesse e não precisaria estar tão regrado, porque você está com a aptidão física em dia, mas já vi que não. É uma caixinha de surpresa e mudou muito. Hoje estou mais atento em relação à dieta. O exercício é sistematizado”, esclarece. Mas uma coisa ele deixa claro: o intuito é sempre progredir, inclusive, no ritmo das atividades físicas. “Eu não amoleço por qualquer coisa, não me entrego fácil”, diz com segurança.

Na rotina que reúne o trabalho na academia, cuidados com a saúde e alguns hobbies curiosos como montar bicicleta, Rodrigo demonstra a vontade de estar vivo. Quando questionado sobre o principal combustível para continuar o tratamento, responde sem pensar duas vezes: “O futuro. Todo mundo quer ter um futuro mais tranquilo e aproveitar enquanto é novo para construir o máximo e poder desfrutar lá na frente. Acho que isso é o principal”, finaliza.

Projeção de casos no RN

Embora o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) atinja com mais ênfase às pessoas idosas, não é incomum casos de jovens como Rodrigo acometidos pela doença. No Rio Grande do Norte, cerca de uma a cada 1.694 pessoas de 35 a 39 anos morrem por IAM.

O dado tem como base o número de óbitos de 2017 a 2021 no Estado, tabulados pelo Datasus, e a população local com 35 a 39 anos segundo o censo IBGE 2010. Devido a limitação de dados mais atuais referentes ao ano de 2022, vale reforçar que trata-se de uma estimativa aproximada.

O cardiologista Antonio Amorim, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia do Rio Grande do Norte (SBC-RN), explica que o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) é desencadeado pela obstrução dos vasos sanguíneos do coração, as chamadas “coronárias”. Em geral, trata-se de um processo que ocorre ao longo do tempo e pode estar relacionado a outras doenças enfrentadas pelo paciente. Quando o vaso é obstruído por completo, ou quase totalmente (acima de 70%), ocorre o IAM.

“Isso ocorre porque nesse vaso o paciente leva sangue para levar nutrientes ao músculo do coração. Quando o vaso está obstruído, essa região do coração deixa de receber esses nutrientes da forma ideal. Então essa região pode chegar a ter morte dessa parte do coração”, completa. Ainda, segundo ele, as causas para essas obstrução em pessoas mais jovens são mais difíceis de serem identificadas, como é o caso do quadro de Rodrigo.

Entre os fatores de risco para o infarto do miocárdio, Antonio Amorim destaca a presença de uma alimentação irregular, sobrepeso, obesidade, sedentarismo e tabagismo. Aliado a isso, a obstrução total das coronárias pode ser fomentada pelo estresse e outras doenças como hipertensão e diabetes, tornando o público com essas comorbidades mais propenso ao infarto.

Em algumas situações, o infarto também pode ter total relação com os fatores genéticos. “Tem situações em que a história familiar do paciente que tem infarto, principalmente se eles tiverem o infarto com idade mais jovem, isso mostra uma característica genética. Então a genética é um fator de risco para o desenvolvimento do infarto agudo do miocárdio”, reforça.

Ainda que não existam dados que demonstrem que a adoção de hábitos saudáveis pode prevenir o IAM nos casos de pessoas com histórico familiar da urgência médica, Antonio Amorim lembra que a condição é multifatorial. Isso significa que ela pode ter várias causas como origem e priorizar uma rotina positiva à saúde tem papel significativo na prevenção das doenças cardiovasculares.

Diagnóstico

O diagnóstico do infarto agudo do miocárdio (IAM), na maior parte dos casos, pode ser realizado pela identificação de sintomas como fortes dores no peito acompanhado do eletrocardiograma. A depender da condição do paciente, aponta Antonio Amorim, a confirmação também exige a realização de exames de sangue associado, também chamados de marcadores de necrose miocárdica.

Por ser considerada uma urgência médica, os pacientes com IAM são atendidos por meio das Unidades de Tratamento Intensivo (UTI’S). O tratamento é realizado com o objetivo de desobstruir o vaso corrompido e acompanha o uso de medicamentos orais e injetáveis. “Quando o vaso está totalmente obstruído – o que a gente vai saber depois da realização do exame que o paciente precisa fazer que é o cateterismo – esse paciente pode precisar da angioplastia ou medicação na veia que ajude na desobstrução desse vaso”, completa.

Mesmo após a passagem pela UTI e enfermaria, os cuidados tornam-se parte da rotina. Isso porque um paciente com infarto do miocárdio precisa fazer uso de medicações pelo resto da vida para manter os níveis baixos de colesterol, além de controlar eventuais doenças associadas que apresente.

Tribuna do Norte

Postado em 1 de maio de 2023