A aplicação da inteligência artificial tem crescido de forma exponencial no mundo todo e englobado as mais diversas áreas. Na de saúde, por exemplo, a tecnologia começa a oferecer importantes avanços na triagem do câncer de mama, detectando sinais que os médicos não percebem.

Um país que está apostando alto neste recurso é a Hungria. Lá, desde 2021, cinco hospitais e clínicas que realizam mais de 35 mil exames por ano já adotaram o sistema. Instituições de saúde nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha e na União Europeia também estão começando a entrar no jogo.

Uma das empresas a desenvolver ferramentas de IA para ajudar os radiologistas a detectar os primeiros sinais de câncer de mama é a Kheiron Medical Technologies. Ela foi fundada pelo cientista da computação Peter Kecskemethy e o especialista em aprendizado de máquina Tobias Rijken.

Para treinar a inteligência artificial, eles coletaram mais de cinco milhões de mamografias históricas de pacientes com diagnósticos já conhecidos, fornecidas por clínicas na Hungria e na Argentina, além de instituições acadêmicas, como a Emory University.

A empresa, que fica em Londres, na Inglaterra, também paga 12 radiologistas para rotular imagens usando um software especial que ensina o modelo a detectar um crescimento cancerígeno a partir de sua forma, densidade, localização e outros fatores.

Segundo o jornal The New York Times, a partir dos milhões de casos que o sistema alimenta, a tecnologia cria uma representação matemática de mamografias normais e com câncer. Com a capacidade de olhar para cada imagem de forma mais granular do que o olho humano, ele compara essa linha de base para encontrar anormalidades em cada exame.

No ano passado, uma clínica húngara que usou o software da Kheiron Medical Technologies teve a taxa de detecção de câncer aumentada em 13%. Isso porque mais malignidades foram identificadas.

László Tabár, educador líder em mamografia na Europa, cujas técnicas de leitura do exame são comumente usadas por radiologistas, experimentou o sistema em 2021. A reportagem destaca que ele recuperou vários dos casos mais desafiadores de sua carreira, nos quais os radiologistas perderam os sinais de um câncer em desenvolvimento. Em todos os casos, a AI avistou os sinais.

“Fiquei chocantemente surpreso com o quão bom era”, contou o médico, que inicialmente não tinha nenhuma conexão financeira com a empresa de Kecskemethy e Rijken, mas depois passou a receber uma taxa de consultoria por feedback para melhorar os sistemas. Ele ainda testou outros modelos de inteligência artificial, como as da Lunit Insight, da Coréia do Sul, e Vara, da Alemanha, e afirmou que os resultados de detecção foram encorajadores.

Início dos testes na Hungria
A tecnologia de Kheiron foi usada pela primeira vez em pacientes em 2021, em uma pequena clínica em Budapeste chamada MaMMa Klinika. Com ela, depois que a mamografia é concluída, dois radiologistas fazem revisões em busca de sinais de câncer. Então, a IA concorda com eles ou sinaliza áreas que devem ser verificadas novamente.

Até agora, em cinco unidades da MaMMa Klinika, 22 casos foram documentados, nos quais o sistema identificou um câncer não percebido pelos radiologistas. Para a companhia desenvolvedora do modelo, ele funciona melhor ao lado dos médicos, não no lugar deles.

Até o final do ano, seis centros de saúde do Serviço Nacional de Saúde da Escócia e cerca de 30 locais de rastreamento de câncer de mama operados pelo Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra também o adotarão. O Oulu University Hospital, na Finlândia, é mais um que está na lista, e um ônibus viajará por Omã, na Península Arábica, este ano para realizar exames de câncer de mama usando IA.

Constance Lehman, professora de radiologia na Harvard Medical School e chefe de imagem e radiologia da mama no Massachusetts General Hospital, pediu aos médicos que mantenham a mente aberta. “Não somos irrelevantes, mas há tarefas que são melhor executadas com computadores”, completou ela.

Estadao