Lula defende atuação de Janja no governo: ‘Ela é um agente político’

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta terça-feira a atuação da primeira-dama, Janja da Silva, no governo. Lula afirmou que Janja o aconselha e dá “palpite nas coisas que eu vou fazer”. Lula defendeu ainda que Janja não pode ser uma “primeira-dama tradicional”.
— Essa relação é importante porque a Janja me passa confiança. Ela me passa certeza, ela dá palpite nas coisas que eu vou fazer, ela fala. Ela dá conselho. Isso é importante você ter alguém com quem compartilhar as suas angústias diárias, e o que eu disse para Janja é que ela não pode ser uma primeira-dama tradicional, como sempre foram as primeiras-damas. Aquela mulher que acompanha o marido, que faz as coisas certinho, boa política de visitação.

Lula ainda afirmou que a primeira-dama é um “agente político” e que não precisa de cargo para “fazer o trabalho que ela quer fazer”.

— Ela é um agente político. Ela era antes de eu conhecer, continuou sendo quando a conheci, era agente político quando eu estava na prisão, foi agente político durante a campanha e tem que ser agente político. Por isso que eu disse: você faça o que você quiser. Ela não precisa de cargo pra ser importante, ela não precisa de cargo para fazer o trabalho que ela quer fazer. Se ela quiser visitar alguém, um estado, fazer visita a hospital, ela faz o que ela quiser […].

Sem resposta imediata
Ao comentar o ritmo de trabalho de Lula, Janja afirmou que o presidente gosta de “dormir as coisas” e costuma não dar uma resposta imediata às demandas. A primeira-dama disse ainda que o petista gosta de “processar, pensar muito bem” para saber o que vai fazer.

— Um detalhe bem importante do meu marido é que ele gosta de dormir as coisas. Se você tem uma coisa importante pra falar para ele, não espere uma resposta imediata. Ele não trabalha assim. Ele gosta de processar, pensar muito bem, para saber muito bem o que vai fazer.

Lula, então, completou afirmando que “nada precisa ser feito de forma precipitada”.

— Eu acho que nada precisa ser feito de forma precipitada. Se você tiver tempo de pensar, repensar, contar até dez, não precisa tomar decisão com 39° de febre. Deixa baixar pra 36°. Ai quando você estiver tranquilo, você toma a decisão.

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‘Não sabia mais o que fazer’
Sobre a cirurgia feita por Lula em setembro para tratar uma artrose no quadril, Janja afirmou que teve momentos em que “não sabia mais o que fazer” para ajudar o presidente com as dores. Lula já comentou publicamente das dores que sentia em mais de uma ocasião. A primeira-dama relatou que o chefe do Executivo brasileiro discursou na ONU numa situação de “muita dor”.

— Teve momentos que eu não sabia mais o que fazer. Me dava um desespero não saber o que fazer por conta da dor que ele estava passando. Não tinha creme, não tinha pomada, não tinha remédio, nada que passasse a dor.

Mulheres na política
Ao ser questionada sobre a atuação de mulheres na política, Janja defendeu a mudança na legislação eleitoral e afirmou que as cotas para mulheres “não bastam mais” e não “atendem mais” ao problema.

— A gente precisa criar uma rede de proteção para as mulheres poderem partcipar da política. O Brasil, na América Latina e Caribe, amor, é o penúltimo em participação feminina nos parlamentos. A gente precisa mudar isso. A gente precisa de alguma forma mudar isso. As cotas já não bastam mais. As cotas já não atendem. A gente precisa mudar a legislação eleitoral, e brigar por cadeiras no parlamento. Temos cadeiras para as mulheres, 50% a 50%.

Lula, então, afirmou que tem a “compreensão” de que leis ou a Constituição mudem a realidade do dia para noite, e destacou que é preciso convencer as mulheres de que é preciso brigar porque “conquistas jamais serão concedidas”.

— Eu tenho a compreensão que não há possibilidade da gente achar que os avanços serão garantidos por lei ou pela Constituição. Você pode definir como princípio básico na Constituição, as pessoas vão ter isso e aquilo, mas entre você propor e as coisas acontecerem levam um tempo […] As mulheres elas só vão ocupar os espaços quando você tiver centenas de milhares de mulheres convencidas que tem que brigar. Porque as conquistas jamais serão concedidas. Vai ter um dia que as mulheres serão maioria. Elas já são maioria na sociedade, o problema é que temos milênios de cultura machista. Essas coisas você não consegue mudar do dia para noite ou com uma lei. A lei ajuda.

A primeira-dama fez um “pontinho de discordância” e afirmou que as mulheres “sabem das lutas” que não precisam de ninguém para “dizer o que temos que fazer”, mas que é importante que os homens se juntem às causas.

— Um pontinho de discordância que eu tenho é que sim, nós mulheres precisamos lutar e sabemos lutar as nossas lutas, não precisa ninguém dizer para a gente o tem que fazer. Mas enquanto os homens não entenderem que essa é uma luta de todos, enquanto os homens não forem parceiros na luta das mulheres com relação à participação delas, e não é que os homens estão concedendo espaço, é serem parceiros para convencer outros homens. Porque é muito difícil uma mulher convencer um homem.

Janja hackeada
Na semana passada, a conta de Janja no “X”, antigo Twitter, foi hackeada e tomada por xingamentos. A primeira-dama levou cerca de 1h30 pra conseguir recuperar sua página. Lula afirmou que fica “puto” com os ataques sofridos por Janja nas redes sociais.

— Eu às vezes fico puto da vida com as pessoas que atacam ela pela internet. Eu fico puto porque nunca falei da mulher de um presidente, de um deputado, de um vereador, eu acho que é uma canalhice a pessoa que faz isso.

Ao comentar sobre o caso, Janja afirmou que o governo discute um plano de combate à violência contra as mulheres nas redes sociais, e criticou o empresário Elon Musk, dono da rede social, ao dizer que ele ficou “muito mais milionário” e defendeu a regulação das plataformas.

— Essa semana eu tenho discutido, conversado bastante com as pessoas. O governo está com uma proposta de um plano de combate à violência contra as mulheres nas redes. Digital. Acho que a gente precisa focar um pouco nisso e vamos começar a discutir isso de uma forma mais forte — anunciou ela.

A primeira-dama relatou ter ficado abalada por ter sido alvo do ataque, que chamou de “invasivo”, e criticou a demora para conseguir recuperar o controle das suas redes — cerca de uma hora e meia. Na sequência, Janja defendeu que o país regulamente a atuação das empresas que controlam as redes sociais e questionou o fato de as plataformas ganharem dinheiro com a alta de acessos que um ataque como o que sofreu proporciona.

— O que aconteceu semana passada foi muito mais invasivo, eu não consigo nem te dizer. De manhã cedo, na terça-feira, eu passei quase a madrugada trocando senha de quase todas as minhas coisas por segurança. Quando eu acordei, eu olhei para o meu marido, e falei: apesar de tudo não é no ombro dele que eu tenho que chorar. Eu só consegui chorar quando as minhas amigas chegaram aqui, porque só uma outra mulher para entender o que eu estava sentindo naquele momento — afirmou a primeira-dama.

A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu que a rede social congele a conta de Janja até a conclusão das investigações sobre a invasão, e preserve “todos os registros e elementos digitais” relacionados à conta para “subsidiar futuras ações judiciais”.

No documento, a AGU afirmou que a “não observância das medidas ora requeridas será interpretada como lesão a direitos”, podendo resultar em medidas judiciais cabíveis para “ressarcimento de danos, bem como para a responsabilização civil e penal dos infratores”.

A conta da primeira-dama na rede social foi invadida, e o ataque hacker foi anunciado às 21h37. A Polícia Federal já atua em uma investigação preliminar. A corporação afirmou que vai abrir um inquérito ainda nesta terça-feira.

As mensagens postadas continham ataques contra Janja, Lula e Moraes. A AGU afirmou que a conta foi “utilizada para cometimento de crimes contra a honra em face do Exmo. Sr. Presidente da República”.

Os dados de acesso indevido serão preservados pela plataforma, o que vai possibilitar à PF tentar identificar os responsáveis pelo ataque. Em nota, a Polícia Federal afirmou que “a conta foi bloqueada para novas publicações a pedido da Polícia Federal após postagens ofensivas contra a senhora Janja e o Presidente da República.”

No domingo, Janja reativou sua conta na rede social e afirmou que também teve as contas de e-mail e do LinkedIn invadidas. Ela ainda relatou como se sentiu durante os ataques e disse que foi ” desrespeitada como nunca antes”.

“Nesta última semana, depois de ter meu e-mail, X e LinkedIn invadidos, me senti exposta, agredida, ameaçada e desrespeitada como nunca antes. Foram momentos de angústia, ansiedade e tristeza, mas também de acolhimento e força com tantas mensagens de apoio e conforto que recebi”, relembrou.

Outras lives
Na semana passada, Lula estava acompanhada pela ministra da Saúde, Nísia Trindade. Na ocasião, a ministra afirmou que o governo quer pedir a investigação das declarações falsas sobre saúde feitas durante debate na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, presidida pela deputada Bia Kicis (PL-DF).

— Movimentos antivacinas existem no mundo há alguns anos, mas agora nós temos uma estratégia deliberada de usar falsas informações científicas. O que nós vimos, e isso é uma coisa para entristecer, são lives promovidas por uma comissão dentro da Câmara federal, a Comissão de Fiscalização, em que médicos falam que a vacina pode causar mortes, no caso da vacina da Covid, por miocardite. Tudo fake news, sem base científica, mas aparecendo como fosse informação científica […]

Nísia completou:

— O que nós fizemos foi criar um programa que é o Saúde com a Ciência, junto com a Secom, com a AGU, com a CGU, para que esses casos sejam investigados. Tudo isso é notificado.

O GLOBO

Postado em 20 de dezembro de 2023