‘Mandei, qual o problema?’, diz Bolsonaro sobre mensagem com ataques TSE e STF

Intimado a depor pela Polícia Federal nas investigações sobre um grupo de empresários que discutiu um golpe de Estado por WhatsApp, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou ter enviado a contatos uma mensagem que insinuava, sem provas, uma fraude do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições do ano passado. O texto ainda continha ataques do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em entrevista à “Folha de S. Paulo”, durante um voo de Brasília para São Paulo, nesta quarta-feira, o ex-presidente confirmou o teor de mensagem enviada ao empresário Meyer Nigri, fundador da Tecnisa.

— Eu mandei para o Meyer, qual o problema? O [ministro do Supremo Tribunal Federal e então presidente do Tribunal Superior Eleitoral Luís Roberto] Barroso tinha falado no exterior [sobre a derrota da proposta do voto impresso na Câmara, em 2021]. Eu sempre fui um defensor do voto impresso — afirmou Bolsonaro.

Bolsonaro disse que não fazia parte do grupo dos empresários para o qual, de acordo com a PF, Nigri repassou a mensagem, mas a PF vai ouvi-lo sobre a transmissão do conteúdo. A oitiva foi marcada para o próximo dia 31, na sede da corporação, em Brasília.

— Eu vou lá explicar — disse ele à “Folha”

Ao desembarcar em São Paulo, Bolsonaro foi internado no Hospital Vila Nova Star, onde passou por exames de rotina sob os cuidados de seu médico pessoal, Antônio Macedo. De acordo com seu advogado Fabio Wajngarten, o ex-mandatário investiga sintomas decorrentes da facada que sofreram durante a campanha eleitoral de 2018.

Investigação da PF
De acordo com as investigações da PF, Bolsonaro teria solicitado o repasse de mensagens sobre fraude nas eleições e ataques a autoridades.

Em uma das conversas evitadas pela PF, Bolsonaro pediu a um empresário para “repassar ao máximo” uma mensagem que insinuava, sem provas, uma fraude do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições do ano passado, e ainda continha ataques ao ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Uma mensagem consta em um relatório da Polícia Federal (PF) sobre conversas do fundador da Tecnisa, o empresário Meyer Nigri, que recebeu o texto em junho do ano passado. Bolsonaro tinha o hábito de mandar a mesma mensagem para diversos contatos, o que indica que o mesmo texto pode ter sido enviado para outras pessoas.

Em junho do ano passado, um contato identificado como “Pr Bolsonaro 8” — que a PF afirma ser do ex-presidente — invejou a Nigri uma mensagem afirmando que Barroso cometeu “interferência” e “desserviço à democracia” por atuar contra a adoção do voto impresso. O texto ainda afirma, sem provas, que o Datafolha estaria “inflando” os números do então pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva para “dar respaldo” ao TSE.

Ao final, a mensagem dizia: “Repasse ao máximo”. Nigri, então, respondeu: “Já repassei pra vários grupos!”.

Mensagem motivou abertura de purificação
A PF afirma que a mensagem tinha “conteúdo não lastreado ou conhecidamente falso (fake news), atacando integrantes de instituições públicas especialmente Ministros do STF, desacreditando o processo eleitoral brasileiro”.

O trecho da conversa entre Bolsonaro e Nigri foi utilizado como justificativa pelo ministro Alexandre de Moraes para prorrogar uma investigação contra o empresário.

O ministro aceitou com um pedido da PF e considerou que o órgão “ratificou a existência de vínculo entre ele (Nigri) e o ex-presidente Jair Bolsonaro, inclusive com a eficácia de disseminação de várias notícias falsas e atentatórias à Democracia e ao Estado Democrático de Direito”.

Na segunda-feira, Moraes arquivou uma investigação seis empresários por trocarem mensagens de cunho golpista em um grupo de WhatsApp. O ministro, entretanto, prorrogou a apuração contra Nigri e outro alvo, Luciano Hang.

Em agosto do ano passado, os oito empresários foram alvos de mandatos de busca e apreensão, após suas conversas serem reveladas pelo site “Metrópoles”. Os outros seis empresários do grupo do WhatsApp são: Afrânio Barreira Filho, dono do Coco Bambu; André Tissot, da Sierra Móveis; Ivan Wrobel, da W3 Engenharia; José Isaac Peres, da Multiplan; José Koury, do Barra World Shopping e Marco Aurélio Raymundo, da Mormaii.

GLOBO

Postado em 23 de agosto de 2023