Meta vai ocultar conteúdos ‘sensíveis’ para adolescentes no Instagram e no Facebook

A Meta, dona do Instagram, Facebook e Whatsapp, publicou ontem que vai ocultar conteúdos “sensíveis” para adolescentes no Instagram e no Facebook. Essa forma será mais difícil para os adolescentes encontrarem material relacionado a suicídio, automutilação e transtornos alimentares. Os termos relacionados a esses temas serão bloqueados para busca. E mesmo que um adolescente siga uma conta com postagens sobre estes tópicos, eles serão removidos do seu feed.

A empresa disse que as medidas que deveriam ser inovadoras nas próximas semanas ajudariam a proporcionar uma experiência mais “adequada à idade”.

Agora, a primeira pergunta que faço é se a empresa tem capacidade para isso, para que só implemente uma mudança agora? A Meta, de acordo com vários documentos vazados em diferentes graças, tem perfeito conhecimento sobre o mal que faz as crianças e adolescentes. E, no entanto, nunca fez nada para impedir. Ao contrário, Zuckerberg rejeitou a proposta interna de fazer mudanças para reduzir o dano emocional aos adolescentes.

A descoberta dessas e outras verdades gerou um grande processo judicial nos Estados Unidos, com os procuradores de mais de 30 estados entrando na justiça contra a empresa em outubro do ano passado, sob a acusação de usar deliberadamente a tecnologia para viciar crianças e alimentar uma crise de saúde mental e emocional entre crianças e jovens sem precedentes.

A segunda é: a Meta tem capacidade também de distinguir usuários menores de 13 anos, idade em que é permitido ter uma conta em suas redes. Por que não cancelar essas contas? Por que segue expondo as crianças a graves riscos de saúde e segurança? Porque lucra com isso.

E a terceira: onde está o TikTok, a rede mais tóxica para nossos jovens, e a mais usada por crianças, nessa questão? Quando vai adotar atitude semelhante?

Essa mudança é uma resposta – muito parcial, ainda – a uma pressão global, com vários países estabelecendo normas para que um gigante da mídia social proteja as crianças de conteúdo prejudicial em seus aplicativos. Na Europa, a Comissão Europeia exige informações sobre como a Meta protege os mais jovens.

As crianças são há muito tempo um grupo atraente para as empresas. Afinal, os consumidores imaturos são vítimas mais simples para a publicidade e atingi-los nessa época consolidar a fidelidade. Nos últimos anos, a Meta compete de modo acirrado com o TikTok por usuários jovens, e tenta engajar os adolescentes para atrair mais anunciantes. Só que para isso não se importa muito com os graves danos que seu algoritmo pode produzir em mentes vulneráveis. Assim como o TikTok, aliás.

Esse episódio demonstra mais uma vez a importância e a urgência de termos nossa própria política de regulamentação e responsabilização das redes sociais. Atentar deliberadamente contra a saúde de uma criança e adolescente é crime no mundo real, e por isso deve ser no virtual também.

O GLOBO

Postado em 11 de janeiro de 2024